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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 3 de junho de 2022

Fideralina, Major Ildefonso e o casamento do Dr. Gilberto Saboia - Por Antônio Morais


Casou-se aos 15 anos de idade com o Major da guarda nacional Ildefonso Correia Lima de Várzea-Alegre, filho de Raimundo Duarte Bezerra, papai Raimundo. Fideralina tinha fama de mandona, tanto que a família do marido não aprovava a união. Mas a submissão de Ildefonso não foi duradoura faleceu aos 42 anos de idade deixando 12 filhos e um grande poder politico logo assumido pela mulher. Na família Saboia, vivia a lenda de Dona Federalina, a matriarca de Lavras, chefe do clã dos Augustos, senhores de baraço e cutelo na sua região.


Major Ildefonso Correia Lima,  esposo da Fideralina, filho de Papai Raimundo.

Dr. Gilberto Saboia, recém formado bacharel em Recife, fora nomeado promotor de Lavras, e como tal integrado na elite lavrense. Como tal foi convidado a uma festa dada no sitio Tatu.

Dr. Gilberto era um moço bonito, usava pince-nez, bigodinho louro, e em um retrato de álbum de família aparece de terno claro, colete estampado, flor na botoeira que já era uma ousadia de dandy. Já então gostava de tomar umas e outras e principalmente quando o caso era de festa. A festa tinha banquetes e tinha danças.

As moças se enfileiravam sentadas, ao longo de uma parede e quando a musica rompia os galãs vinham, curvados, solicitar a honra daquela valsa. Dr. Gilberto não sei porque se engraçou de uma mocinha meio insossa, encabulada, talvez feiosa, por nome Zefinha. E só na quarta contra-dança ele descobriu que se tratava da própria filha da dona da casa.

E pela boca de Zefinha mesmo, que também tomou os seus cálices de ponche e enquanto saltitava uma polca, piscou o olho para ele. A mãe já está de olho em nós, Dr. Gilberto. Mãe? Que mãe? Minha mãe! A velha Fidera, olhe.

Realmente, na sua cadeira autriaca dona Fideralina traçava o seu copinho de conhaque, dava uma palavra ou outra ao vigário sentado perto e punha um olho especial no casal constante. Dr. Gilberto teve até a impressão de que dona Fideralina também piscava para ele e piscou de volta.

Zefinha mostrava-se meio agitada, e, para acalmar e acalmar-se levou a mesa do ponche, enquanto ele próprio se fortalecia, com um licor mais vigoroso. A vigilância da velha parece que os espicaçou e até a saída dos músicos, manha já clara, dançaram todo tempo juntos, de feição como se diz lá. De um em um saiam os convidados. Mas um pequeno grupo ia se formando.

Afinal o promotor, mais que alegrete, despediu-se floridamente de Zefinha, cheia de rubores, e foi beijar a mão da dona do Tatu. Dona Fideralina deu um balancinho na cadeira: Já quer ir Doutor? Tenha paciência e espere, agora é polca. Dr. Gilberto ficou nervoso, não sabia bem porque, se devia a brabeza da velha. Espera de que, minha senhora? A velha Fidera sorriu: tomou um gole de zinebra, do casamento, Doutor, o padre foi buscar os paramentos.

Dr. Gilberto não entendia, ainda, e exclamou eufórico: Casamento? Eu adoro casamento, de quem? Dona Fidera se levantou: o casamento seu com a Zefinha, então o Senhor pensava que ia passar a noite inteira dançando de feição com minha filha e de manha não casava com ela?

O primeiro impulso do promotor foi fugir, mas em cada saída do salão esvaziado avistou um cabra armado, cara fechada, cumprindo ordens. Chegou um moleque com os paramentos do padre, trouxeram um santo do oratório, nesse tempo, ainda não existia o casamento civil.

Dr. Gilberto levou a mulher para o Amazonas, onde fez nome como advogado em Manaus. Depois seguiu para o Rio de Janeiro, tiveram vários filhos. Zefinha sempre o tratou por Dr. Gilberto e em dia algum sentou-se a mesa com ele.

13 comentários:

  1. Uma das historias da crueldade de Fideralina versa sobre uma escrava dessas parideiras e o filho que seria vendido. A escrava agarrada ao filho, de um ano, correu para o mato. Fideralina deu ordens que fossem atrás e mãe e filho foram embebidos de querozene e ela propria lhes ateou fogo. Dona Fidera quando queria se vingar de seus inimigos os encarregados de fazer a eliminação, antes davam um recado: taqui que Dona Fideralina mandou! Morria-se sabendo a quem interessava a morte, não se morria na duvida. Depois do serviço feito, cortavam a orelha e traziam como prova. Fideralina rezava com um rozario feito com as orelhas dos seus desafetos.

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    1. A própria familia desconheçe tais fatos, criados por adversários políticos para macular a memória dos AUGUSTOS e principalmente D.FIDERALINA.Pesquisadores são unanimes em descartar tão vil fato do "rosário de orelhas".Indico a leitura do IMPÉRIO DO BACAMARTE, do renomado escritor Joaryvar Macedo.Não constando nada sobre esse preconceituoso fato.Boa leitura, e lembre-se "quem lê mais, sabe mais".Abraços!

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  2. Caro Morais:
    Interessantíssima a sua postagem.
    Não sei se você sabe que Rachel de Queiroz se inspirou em dona Fideralina para escrever o romance "Memorial de Maria Moura".
    Recentemente o escridor Melquíades Pinto Paiva escreveu uma biografia de dona Fideralina que vem obtendo grande repercussão.Ainda não adquiri esse livro.

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  3. Armando

    Agradeço pelas informações e pelo comentario.

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  4. Naqueles tempos a cantilena era uma só:

    O Belem manda no Crato,
    Padre Cicero em Juazeiro
    Na Missão Velha, Antonio Rosa
    Barbalha Neco Ribeiro
    Das Lavras, Fideralina
    Quer mandar no mundo inteiro.

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  5. Olá pessoal,Moro no crato e sou quadrineto de fideralina, por incrivel que pareça, estava hoje mesmo conversnado com meu avô que tem hoje 87 anos e é bisneto de fideralina, o Sr. Luiz Lacerda Leite, sobre D.Fideralina. Estou me aprofundando mais sobre a sua trajetória, se puderem me enviar algo mais sobre ela vou agradecer muito.jlaercio@veloxmail.com.br

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  6. Laercio.

    Neste mesmo Blog. tem uma postagem : Oligarquias de lavras. Tem uma foto de Fideralina e a historia da chegada do trem de passageiro em lavras em 1917.

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  7. Fiquei muito emocionada ao ler uma história tão linda e fico mais lisonjeada por fazer parte dessa história, pois me chamo com todo orgulho Fideralina Augusta, nome que adquirir por herança de minha avó Fideralina Lima Paes, membro pertencente a esta família. Minha família tem muita história e influencias nordestinas, tais como, a familia Correia Lima, em que determinados membros da família encontram-se na cidade em que resido, Belém do Pará. Enfim, são muitas histórias, lendas e tradições que tenho orgulho e felicidade em contar aos meus amigos e quem sabe aos meus filhos. Em minha casa possuo um livro narrando toda a belissima historia de Fideralina, vale a pena!
    Desde já, agradeço as preciosas informações aqui contidas neste blog, revelando um enriquecimento de nossa cultura e aprendizado! Parabéns!!!

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  8. É preciso desfazer tantas "histórias" de cunho preconceituoso com a familia AUGUSTO,no enfogue D. FIDERALINA AUGUSTO LIMA.Por isso aconselho a pesquisar mais pelos livros.Parabéns pelo blog e sua politica de informação.

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  9. Ola, sou neto de Francisco Correia Lima e Alda Rodrigues Lima, primos e casados. Portanto tenho descendência da D.Fideralina, queria saber por que ramo vem meu parentesco com ela. Obrigado.

    Att.

    Raphael Amancio Correia

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  10. Ola, sou neto de Francisco Correia Lima e Alda Rodrigues Lima, primos e casados. Portanto tenho descendência da D.Fideralina, queria saber por que ramo vem meu parentesco com ela. Obrigado.

    Att.

    Raphael Amancio Correia

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  11. Ola, sou neto de socorro de bordade e vicente carão, e agora estou aprendendo mais a entender sobre a vida de fideralina

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  12. Li o livro sobre a biografia da "Fideralina". Constam causos muito interessantes referentes ao estilo dominador da patriarca dos "Augustos" de Lavras da Mangabeira.

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