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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 4 de maio de 2017

Leandro Bezerra Monteiro– o Primeiro General Honorário do Brasil -- por Armando Lopes Rafael

   
   No livro À Margem da História do Ceará,  de Gustavo Barroso, (2ª edição patrocinada em 2004 pela Fundação de Cultura, Esporte e Turismo–FUNCET, da Prefeitura de Fortaleza) consta um capítulo, às páginas 155-157, sobre o cratense Leandro Bezerra Monteiro com o título “O Primeiro General Honorário do Brasil”.

   A primeira edição desta obra veio a lume postumamente, em 1962, por iniciativa do então reitor da Universidade Federal do Ceará, Antônio Martins Filho. Gustavo Barroso nasceu em Fortaleza em 29 de dezembro de 1888 e faleceu no Rio de Janeiro em 03 de dezembro de 1959. Historiador, romancista, memorialista, advogado, político, arqueólogo e contista, Gustavo Barroso escreveu centenas de trabalhos sobre história do Brasil e deixou 128 livros publicados.

   Arrimado em pesquisas de outro cratense, José Denizard Macedo de Alcântara, o historiador Gustavo Barroso afirma que Leandro Bezerra Monteiro ao receber o posto de brigadeiro – à época uma alta patente pouco usada na organização militar brasileira – tornou-se o primeiro general honorário da nossa pátria. Diga-se de passagem, que essa concessão, feita presumivelmente em 1825 – pelo Imperador Dom Pedro I – representou um reconhecimento da Coroa, à fidelidade de Leandro Bezerra Monteiro e seu clã familiar nos episódios armados levados a efeito contra a instituição monárquica, num evento que se convencionou chamar de Revolução Pernambucana de 1817 e Confederação do Equador de 1824.

      Vale este registro: somente um século depois, em 1925, outra pessoa ligada também à história do Cariri, esta nascida no estado da Bahia, no caso o médico e caudilho Floro Bartolomeu da Costa, entraria no restrito rol dos “generais-honorários” do Exército brasileiro. A honraria concedida ao Dr. Floro se deveu à ajuda deste na montagem do “Batalhão Patriótico”, destinado a lutar contra a Coluna Prestes que tentava derrubar do poder o Presidente da República, Arthur Bernardes. A história registra que ao morrer – em 08 de março de 1926 – no Rio de Janeiro, Floro Bartolomeu foi sepultado com as honras de General do Exército.

      Voltemos a Leandro Bezerra Monteiro. A memória que o velho brigadeiro legou à posteridade, fruto dos seus atos ao longo de quase cem anos de existência, poderia ser sintetizada na análise de ilustres intelectuais, como se depreende abaixo.
        Gustavo Barroso escreveu literalmente: “Homem equilibrado e sensato, (Leandro Bezerra Monteiro) nunca deixou de ser fator ponderável de equilíbrio social, naturalmente defendendo o que se chamava conservadorismo”.

         José Denizard Macedo de Alcântara complementa: “Os Alencares eram vingativos e impetuosos. Filgueiras, inconsequente e violento. Pinto Madeira exprime a velha rivalidade jardinense contra o Crato, oriunda da elevação daquela localidade (Jardim) à categoria de vila, questão que o nosso século assistira de novo em relação a Juazeiro. Só Leandro Bezerra revela já essa tendência da nossa cultura, da nossa história, como o mais cratense de todos e fadado por isso a melhor simbolizar e exprimir as virtudes da nossa comunidade. Daí a sua importância na perspectiva da história cratense, quiçá da sua sociologia”.

         Monsenhor Francisco Holanda Montenegro é taxativo: “A relevar o nome do mais ilustre dos cratenses, o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, o nume tutelar dos Bezerra de Menezes do Cariri. Ele se tornou grande, primus inter pares, pela retidão de caráter, pela nobreza de sentimentos, pela vida exemplar de que era dotado. Homem de Deus, espírito límpido e transparente, franco, sincero, leal. A par de sua honestidade, corriam parelhas a prudência, o equilíbrio e o bom senso."

 
       Amália Xavier de Oliveira, na sua afamada obra “O Padre Cícero que eu conheci”, relaciona os filhos do Brigadeiro e acrescenta: "A esses frutos do seu afeto conjugal dedicou ele enquanto vivo tudo o que a sensibilidade afetiva pode inspirar de mais delicado e puro. Eram o seu enlevo e a sua preocupação; queria-os iguais a si na retidão do caráter, na compreensão dos deveres para com Deus, a pátria e a sociedade”. Amália Xavier ainda acrescentou: “O fundador do Povoado de Juazeiro, iniciado com a construção da Capelinha foi o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro”.

       A exemplo de outros fatos, de relevância histórica na nossa pátria, a memória do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro foi programaticamente esquecida nos livros de História, a partir do golpe militar de 15 de novembro de 1889, responsável pela implantação da República no Brasil. Quiçá por orientação dos novos ideólogos da forma republicana de governo, ora no poder. E isso ocorreu, provavelmente, pelo fato de Leandro Bezerra Monteiro ter sido um fervoroso monarquista.

       Ao tratarem da Revolução de 1817 (que foi derrotada em Crato, por Leandro Bezerra Monteiro,  sem necessidade de se disparar um único tiro), a partir de 1889 os novos historiadores pouco mencionavam o legendário Brigadeiro. Omitiam sua decisiva participação para debelar a revolta republicana de 1817 em Crato, bem como sua inegável coragem pessoal e cívica, naquele episódio.  No entanto tantas foram as virtudes de Leandro Bezerra Monteiro, tão grande foi o seu valor, que a sua fama refulgirá sempre, cada vez mais, a partir de agora e pelos séculos futuros!

É a Justiça de Deus na voz da história, parafraseando o clássico soneto feito pelo Imperador Dom Pedro II, pouco antes de morrer.


Um comentário:

  1. Um texto histórico merecedor de aplauso. O Crato precisa ter mais atenção com sua memoria.

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