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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 26 de outubro de 2024

190 - Preciosidades antigas de Várzea-Alegre - Por Antônio Morais.


Clara Alves Bezerra.

Naqueles velhos tempos, a família era coisa sagrada e, como tal, resguardada e protegida a sete chaves. As mocinhas quando em casa aparecia um viandante estranho, eram trancadas no caritó, evitando-se, assim, comentários ou namoricos. Os pais, temerosos dos bilhetinhos que poderiam as filhas receber ou enviar, não lhes permitiam, sequer, a alfabetização. Bastava as moças aprender os misteres de dona de casa: cozinhar. lavar, passar, o crochet e de quebra, ter filhos, muitos filhos. Tal regra não havia de fugir ao lar do Major Joaquim Alves  e sua esposa Antônia Correia Lima, embora já com um pouco de liberdade.


Joaquim Correia Lima.

Aconteceu que um dia, recomendado pelo pai, Leandro Correia Lima, residente no Brejo, apareceu na casa do Major um rapazinho de apresentavel aspecto, desinibido e loquaz, que, ali, precisava pernoitar, numa das pausas necessárias, na viagem que empreendia com seus negócios. Era o futuro patriarca Joaquim Correia Lima. Na ausência do marido, que se encontrava na roça, Antônia Correia Lima, sua esposa, recebeu cordialmente, o recém chegado, mesmo porque se tratava de pessoa de sua família, os Correia Lima do Brejo. Não sei se as outras filhas, Tereza Maria, Gloria e Barbara, ficaram encafuadas, o certo é que a menina Clara, uma boneca loirinha, pequenina, de olhinhos claros e vivos, teve licença de aparecer e, até, conversar! Conversa puxa conversa, como se diz e, lá pelas tantas, o mocinho, na frente da mãezinha vigilante, pergunta a garota se ela sabe escrever. A resposta, naturalmente, com assombro -  foi positiva  e isto bastou para que o moço, tirando sua cadernetinha de bolso e um toco de lápis, pediu  para provar a assertiva, escrevendo o nome dela. Sem maior embaraço e sem recato ela papocou no papel as três palavrinhas: Clara Alves Bezerra.

Quando o Major chegou, sem saber ou sentir que ofendia a dignidade de um lar... o mocinho, dizendo da boa acolhida que recebera, falou da surpresa que tivera, vendo uma mocinha tão bonitinha e tão novinha saber escrever. Inocentemente, mostrou a cadernetinha com o nome da princesa.

Ah, meu Deus, pra que ele fez isto? Nosso Major, possivelmente, torcendo as bagudas.. se encheu de revolta e foi claro em dizer ao mocinho que sua casa não ficaria desmoralizada, ia escrever ao pai, exigindo pronto casamento. Tão parecido com hoje, né? Não houve, possivelmente, desentendimento maior, de parte a parte, convinha o casamento e sei lá se o nosso Major, com todo esse esparro, não estava apenas interessado em descontar uma promissória. O certa, na historia, é que houve um final feliz. Muito logo se casou.

Filhos do Casal :

01 - Raimunda Correia Lima
02 - Coronel Antônio Correia Lima
03 - Coronel Joaquim Correia Lima
04 - Coronel José Correia Lima
05 - Pedro Correia Lima
06 - Gervásio Correia Lima
07 - Dr. Leandro Correia Lima
08 - Coronel Gustavo Correia Lima
09 - Coronel Virgílio Correia Lima
10 - Petrolina Correia Lima
11 - Emília Correia Lima
12 - Maria Correia Lima.


5 comentários:

  1. Esta postagem resgata a historia dos bons costumes. O objetivo de como preservar a tradição da família. Deste casal, Clara Alves Bezerra e Joaquim Correia Lima teve origem uma das mais importantes famílias de Várzea-Alegre e do Ceará. Os Correia Lima.

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    1. Nunca vi três palavrinhas tão milagtosas. Imaginem se fossem umas dez.

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  2. Como é bom resgatar essas histórias dos nossos antepassados.
    Ainda com relação aos costumes daquela época, o Dr. Leandro Correia Lima, meu avô, foi estudar medicina na Bahia
    E por lá arranjou uma namorada . Escreveu ao pai dele dizendo que ia casar com a tal baiana . Recebida a carta, meu bisavô Cel. Antonio Correia respondeu . Terminando o curso de Medicina, volte pra casa que a sua noiva está aqui . Já tinha escolhido Anália Correia Lima. Detalhe sobrinha legítima dele . E assim se casaram e tiveram três filhos. Gilvanira Correia Lima , Gisalda Correia Lima e Edilmo Correia Lima. São os unicos legítimos Correia Lima. Sem misturar outros sobrenome.

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  3. As duas famílias eram muito amigas, não havia necessidade desta preocupação toda. Mas, o major devia está sob a ameaça de vê as filhas na prateleira e exigiu um casamento "sugigado", às pressas. Interessante é o motivo da ofensa. A menina Clara declarou que sabia escrever o nome!

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