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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 23 de outubro de 2020

A Estátua do Padre Cícero – José Luís Lira (*)

 

 

   Em 1° de novembro de 1969 era entregue ao povo cearense ou, mais amplamente ao povo brasileiro, particularmente o de Juazeiro Norte, no sul do Ceará, a estátua do Padre Cícero Romão Batista, santificado no coração do povo nordestino. A inauguração foi em data muito apropriada. É o dia que a Igreja Católica Apostólica Romana, conforme afirmo em meu livro “A Caminho da Santidade” (Ed. A Partilha, 2012), em sua sabedoria, reservou para a Festum Omnium Sanctorum, festa de Todos os Santos, celebrada anualmente. A Igreja firma na Liturgia, o santo desconhecido, mas, glorificado por Deus. Os santos reconhecidos, foram beatificados ou canonizados e possuem festas próprias. Aqueles que não tiveram esse reconhecimento são celebrados nessa festa. 

    A história do Padre Cícero é uma história complexa, mas, ao adentrarmos nela encontramos um sacerdote fiel à Igreja. Claro que controvérsias há, mas, hoje se tem uma dimensão maior do que ele fora e realmente fez, retiradas as injúrias e lendas que foram se acoplando a ele ao longo dos anos. A Igreja já reconhece a necessidade do reconhecimento de seus méritos. Isto se iniciou no bispado de Dom Fernando Panico e esperamos um dia ver meu “Padim” reconhecido pela Igreja.

    A estátua foi construída na gestão do Dr. Mauro Sampaio, médico. Em vídeo comemorativo dos 50 anos da inauguração da estátua que o amigo historiador Armando Rafael me enviou essa semana, vemos um depoimento do edificador. Diz o Dr. Sampaio que alguns dias após a sua posse na Prefeitura de Juazeiro recebeu um beato de nome Beato da Cruz que lhe pediu para edificar um cruzeiro na colina do Horto e ele disse que faria uma imagem do Pe. Cícero. O Beato ficou feliz, mas, incrédulo. O prefeito diz que “nunca mais o viu”, mas, levou adiante a ideia. Pensava-se em uma estátua de uns 8 metros de altura, mas, o projeto foi alterado para 28 metros de altura. As fundações da estátua são as mesmas fundações da capela que o Padre Cícero pretendia construir naquela Colina. Com a base, a estátua tem 30 metros de altura no total. O escultor foi Armando Lacerda. Rômulo Ayres Montenegro foi o engenheiro responsável. 

    No relato do Dr. Mauro Sampaio ele diz que faltou cimento durante a construção, contudo, o governador Plácido Castelo estava construindo o Castelão e tinha cimento para a obra. Conforme Sampaio, Plácido Castelo havia sido juiz em Juazeiro e estava ao lado do Pe. Cícero quando este faleceu. O Prefeito foi, então, ao Governador que doou o cimento vindo da Rússia e da Hungria.

    Ainda no cinquentenário da estátua que é símbolo do Ceará, na Reunião Ordinária do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural - COEPA - de quarta-feira, 21/10, iniciamos a discussão sobre os estudos para registro não só da Estátua do Pe. Cícero, mas, de outros bens, no pedido intitulado Juazeiro Lugar Sagrado, feito pelo próprio município de Juazeiro do Norte, em trâmite no Conselho desde 2018. Em julho de 2019 quando estive na região, cheguei até a falar com os amigos Armando Lopes Rafael e Heitor Feitosa para fazermos a solicitação ao COEPA, mas, constatando a existência do pedido, aguardamos. Veio uma lei estadual, mas, agora o órgão certo para defini-la como patrimônio do Estado do Ceará iniciará seus estudos e a Coordenação de Patrimônio Cultural e Memória está nas mãos de quem conhece bem essa história e foi diretora do Memorial Pe. Cícero, Cristina Holanda.

     Viva Meu Padrinho Cícero!

(*) José Luís Lira é advogado e professor do curso de Direito da Universidade Vale do Acaraú–UVA, de Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito Constitucional pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora (Argentina) e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Messina (Itália). É Jornalista profissional. Historiador e memorialista com mais de vinte livros publicados. Pertence a diversas entidades científicas e culturais brasileiras.

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