Um fato político muito interessante aconteceu na fazenda Viana, municipio de Saboeiro - CE na ocasião das eleições de 03 de Outubro de 1950. Os adultos, residentes na fazenda, foram para Mocambo, distrito mais proximo, cumprirem seus deveres cívicos, isto é escolherem : prefeito, governador e deputado respectivamente.
As crianças ficaram em casa. Elas estavam embuidas do espirito civico eleitoral. Há vários meses só se falava em votos, candidatos e vitória.
Conversaram e resolveram simular uma eleição. Escolheram os candidatos : Dultimare e Luiz Cláudio.
Usaram como cédulas folhas de propaganda. Prepararam a urna. Houve discurso, discurssões, promessas, menos planos de governo, que na época nem se sabia o que era.
A votação ia começar quando um solitário cavaleiro apontou na curva da estrada no alto do morro em frente. Os adultos só eram esperados no final da tarde.
A visita não era bem-vinda. Não naquele momento. A visita chegou. Era um vizinho que parou para descansar e contar o andamento do pleito, falar das tentativas de fraude e compra de votos. Ao despedisse presenteou Dulimare, candidato a prefeito, com duas garrafas de guaraná, produto raríssimo naquela época, principalmente numa fazenda no alto sertão nordestino.
O primeiro impulso foi dividir irmanamente como havia aprendido, como regra básica de solidariedade, a compartilhar sempre. Todos queriam.
Então veio a ideia brilhante de candidato, acostumado a ouvir falar no voto de cabresto, como se fosse muito natural essa prática exercida abertamente. Sapecou :
Tudo bem. Só bebe guaraná quem votar em mim.
Todos concordaram, o desejo era maior do que a lealdade. A unanimidade dos votos, inclusive do candidato adversario consagrou o prefeito.
Dultimare tornou-se o mais legitimo dos prefeitos. A partir daí ficou conhecido como prefeito, e o cargo outorgado, vitalício.
Um texto de leitura aprazível. Coisas inocentes. De crianças já imitando os adultos.
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