Saboeiro, antiga Cruz das Almas - está encravada na imensidão dos Inhamuns, sendo uma referência na história da colonização do Ceará. Exibe no topo de sua igreja, ao sabor dos ventos sertanejos, a figura vigilante de um galo. O famoso galo do Saboeiro.
Nos idos dos anos 1949/50, a cidade recebeu a visita de um caixeiro-viajante, que por ali chegou ao meio de uma tarde de terça-feira. Visitando a cidade pela primeira vez, trazendo no corpo e na bagagem o pó das estradas de piçarra.
Antes, ainda na cidade de Jucás, que muitos ainda aludiam por São Matheus, fora recomendado pelo amigo Raimundo Amarante, a procurar hospedagem na pensão de Dona Heráclita.
Assim procedeu!
O prédio da pensão, situado na rua principal da cidade, era uma construção de amplas janelas. Os quartos de hóspedes, todos davam para a lateral da sombra. O que representava um refrigério em meio àquele calor escaldante da região. Foi o que sentira aos instalar-se no quarto 05 da pensão.
Waldetrudes, o viajante, mal desfez a bagagem pessoal, já pôs a toalha nos ombros e seguiu rumo ao banheiro situado nos fundos do quintal, tal qual o orientara D. Heráclita.
Até chegar ao banheiro Waldetrudes passou entre galinhas, perus e capotes que repousavam sob uma frondosa mangueira.
D. Heráclita, por sua vez, já recomendara à cozinheira Carlota que preparasse um almoço caprichado para o novo hóspede. Especialmente por ser pessoa indicada pelo seu amigo jucaense, Amarante.
O relógio-cuco marcava três da tarde!
Waldetrudes tomou um banho-de-caneca que recolhia a água friinha de um tambor de 200 litros. Também observou através do espelho manchado, preso à parede do banheiro, que estava com a barba por fazer, e refletiu:
“Mais tarde procuro um barbeiro!".
Enquanto se deliciava com o banho gostoso, continuou a refletir:
“Bem melhor que no Hotel Central de Iguatu! Lá, pagava uma diária que valia o preço de duas, e não podia reclamar, pois em terra de valentões a melhor tática era ficar calado".
Após o banho demorado, o viajante já encontrou a mesa posta. Galinha à cabidela, arroz branco, feijão-de-corda, jerimum e farofa. Um manjar.
Tudo acompanhado por uma cerveja casco-escuro retirada da geladeira a querosene.
Durante o almoço, Waldetrudes conversou com Dona Heráclita. Ela, sempre solícita e perguntando se tudo estava do agrado.
Waldetrudes comentou:
“Dona Heráclita! Nem no Ramón, lá em Fortaleza, come-se tão bem quanto aqui na sua pensão. Diga para sua cozinheira que ela é doutora em arte culinária. Nos hotéis de Quixadá, Senador e Iguatu, só se come arroz duro e carne de segunda. Os Inhamuns são uma terra abençoada, pode ter certeza!".
E continuou:
“Dona Heráclita, nestas horas da tarde não vou fazer nenhuma visita aos clientes. Vou deixar para amanhã, quarta-feira. E para aproveitar o resto do dia, já que estou com a barba um pouco crescida, queria que a senhora me indicasse o endereço de um barbeiro, sim?".
Vaidosa com os elogios do hóspede, ela de pronto falou:
“Olha, moço, aqui no finalzinho da rua, à direita de quem sai da pensão, tem a barbearia de Seu Aureliano. Pode chegar lá, e se não tiver ninguém na sala, bata palmas".
E assim Waldetrudes fez.
Texto transcrito da página do amigo Robespierre Amarante. Rebuscou minhas saudades de quando no inicio dos anos 60 viajando de Várzea-Alegre para o Arneiróis, 360 km em lombo de animais, passando por este local ficava alucinado pelo galo da torre da igreja.
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