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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 3 de novembro de 2020

O DESTINO DA BOLA NA HORA DO SUFOCO - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.

O aforismo de Neném Prancha, roupeiro, olheiro, massagista, famoso e folclórico treinador de times de praia do Rio de Janeiro, cai como uma luva em assunto que passaremos a focalizar.

“Joga a bola pra cima. Enquanto ela estiver no alto, não há perigo de gol”.

Como se sabe, ficou decretada a morte do chutão, da ligação direta, do passe telegrafado e da bola rifada.

Ocorre que, à luz da realidade, essas “deformidades” são assistidas no dia a dia do futebol brasileiro, por uma razão muito simples: a falta de qualidade do jogador.

As bolas são rifadas, o chutão não morreu e a ligação direta é o “pau que rola”, muitas vezes, camuflada de lançamento longo e inversão de jogada. Gostaríamos de focalizar mais a questão do chutão, sinônimo maior de falta de categoria dos zagueiros, de quem se exige, hoje em dia, o acúmulo de tarefas.

O treinador Jorge Jesus, ex-Flamengo, foi quem, de um momento para o outro, mostrou que o nosso futebol podia retornar às suas matrizes de ofensividade, com boa dose de estratégia.

Pois bem. Soube-se que, nos treinos, o português tinha como preocupação primeira o sistema de defesa, de onde tinha que sair o passe.

Nada de novo, dentro do que se exige, atualmente, do goleiro ao ala esquerdo: tem de construir as jogadas, mesmo sob pressão adversária, insistir na troca de passes em espaços curtos, evitar um chutão para se livrar da bola.

Ora, tudo isso é plausível, mas a aplicação rígida desse movimento de jogo pode trazer complicações muito sérias.

Sair jogando, iniciar a sequência de troca de passes, a partir da defesa, é função que exige habilidade e equilíbrio.

Ao tentar demonstrar categoria e segurança, muitos zagueiros se complicam, diante da pressão adversária, perdem a bola e se recusam a dar um chutão no momento crucial.

É como se tivessem pruridos, por se agarrar a uma atitude pouco estética ou receio de “sanções” de toda ordem, a partir da perda de prestígio como zagueiro moderno.

Escolham entre equívoco ou besteira muita.

Tem razão o Neném Prancha, ao recomendar o chutão para qualquer lado, na hora do sufoco.

“Bola pro mato que é jogo de campeonato” continua valendo, sim, e ninguém deve ter vergonha de admitir.

"É melhor escapar fedendo, do que morrer cheiroso", diz o dito popular.

Um comentário:

  1. Muito oportuno. A falta de qualidade do jogador. Gerson levantou uma bola da intermediária no peito de Pelé na pequena área adversária. Pelé matou no peito e fez um dos mais belos gols da copa de 70 do século passado.

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