A janela foi a televisão de gerações passadas. Hoje, tudo mudou. A televisão matou a janela. Nelson Rodrigues.
É preciso dar uma pausa, logo no começo da crônica.
O próprio Nelson dizia que a pausa é até mais importante do que a palavra.
Afirmar que "a janela morreu" foi um dos exageros (como exagerava) do maior dramaturgo brasileiro.
Ao abrir a janela de um chalé, na praia da Lagoinha, me convenci de que a janela não morreu como permanente ponto de observação.
Pensei: vai dar um crônica.
A paisagem do mar aberto, através da janela, provocou nesse escriba um efeito epifânico.
Uma janela para o mar, como uma aquarela ou tela de cinema.
Uma dose na veia de liberdade plena, mostrando que a vida precisa de felicidade. E a felicidade precisa da vida
Somos sabedores de que a história desse País foi acompanhada em, grande parte, pela janela.
Revoluções, golpes, passeatas, desfiles cívicos, comícios, procissões e a banda cantando coisas de amor.
Ao pé da janela, floresceram, também, os namoros e a arte de falar mal da vida alheia.
Quem "deu mole" foi Carollina.
O tempo passou, com coisas belas pela janela e só ela, por desatenção, não viu.
No passado, tempo em que não existia a tv, nem a internet e o fio dental e os padres andavam de batina, a janela funcionou como uma espécie de periscópio.
Foi, também, um grande farol.
Da janela, observa-se a passagem da vida, no seu lerdo escoamento fluvial (olha o Nelson, de novo), como se fosse um rio.
A janela não morreu.
Como no tempo das velhas gerações, vamos continuar acompanhando a vida pela janela.
Uma linda crônica para uma bela janela.
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