
Quinta-feira Santa, após o almoço, os convidados repousavam no alpendre em redes ricamente bordadas. De longe, a doutora Marília avistou um vulto, alguém, ainda não identificado se movendo entre a mata verde do baixio. Aos poucos a silhueta ganhava contornos definidos e ela então identificou o seu querido tio Diógenes. Não obstante a idade avançada, ele cavalgava firme sobre o dorso de seu alazão marchando a passos largos em direção à casa grande. A sobrinha nada disse sobre a idade do tio, esperando ver a provocação que ele poderia fazer aos médicos.
Ao chegar, cumprimentou a sobrinha e seu marido, um conhecido deputado estadual, saudou o grupo de doutores, sentou-se no para-peito do alpendre e começou a conversar com os médicos. A principio a palestra versou sobre o bom inverno e a fartura que ele representava para o sertão.
Depois de aproximadamente meia hora, o tio Diógenes conduzia a conversa para o rumo que desejava. Os médicos se deliciavam com a palestra do sertanejo, cheia de sabedoria aprendida com os mais antigos, linguajar um tanto quanto arcaico, herdado dos antepassados, herança de um tempo colonial. A certa altura da conversação o tio Diógenes perguntou:
– Doutores, qual a idade que vocês me dão?
– Oitenta anos – responderam uns.
– Setenta e cinco anos – diziam outros.
Depois de muitos palpites, todos eles errados, o velho Diógenes falou com a sinceridade própria do nosso sertanejo:
– Senhores doutores, vocês precisam estudar mais! Eu tenho 98 anos e ainda trabalha na roça!
Diante da admiração geral, o velho emendou outra pergunta:
– Agora doutores, eu quero que vocês me expliquem por que é que uns morrem tão cedo e outros vivem tanto, assim como eu?
– É por causa de uma vida saudável aqui no campo. Alimentação regrada, sem preocupações. O senhor naturalmente dorme cedo, acorda cedo, nunca bebeu e nem fumou! – exclamaram os médicos a uma só voz.
– Num já falei que vocês precisam voltar à escola? Vão estudar mais! Eu só me alimento de comida forte, buchada, sarapatel, panelada, rabada e mucunzá com torresmo. Fui o maior farrista dessa ribeira. Era o maior namorador que por aqui existia. Bebia e ainda hoje eu bebo e fumo e, não dispenso um bom forró todo fim de semana!
Com essa resposta, os médicos concluíram que o tio Diógenes era uma rara exceção à regra, além de um mau exemplo para se alcançar a longevidade.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Nota do autor: Esse fato aconteceu e me foi contado pela sobrinha do sertanejo. As identidades dos personagens são fictícias.
Carlos Eduardo.
ResponderExcluirEsta sua historia me fez lembrar do Chico Soares. Estava o Chico padecendo de dores horriveis no joelho. Enquanto pode suportou. Chegou uma hora que teve que recorrer ao medico. Encontrando-se com Dr. Jose Ulisses tiveram o presente dialogo: Oi Chico o que há? Eu estou com uma dor danada nesse joelho, estou sem aguentar. Né nada não Chico isso é coisa da idade. È não Dr. que o outro nasceu no meswmo dia e não está doendo!
Carlos Eduardo,o seu Diógenes herdou dos seus antepassados um gen imune a várias doenças pra chegar a uma idadade tão viril.Gozou da rapaziada.Essa é boa.
ResponderExcluirAos amigos Morais e Rolim
ResponderExcluirFico grato por terem lido o texto e gostado. Só peço uma coisa a vocês: não façam como o tio Diógenes pensando que assim poderão acrscentar mais alguns dias no tempo de suas vidas. Um grande abraço