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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 11 de outubro de 2009

UM POUCO MAIS DE HISTÓRIA DIRETAMENTE DO PALCO DA SAUDADE

A PRAÇA SIQUEIRA CAMPOS, localizada no centro da cidade do Crato, já foi decantada por tantos cratenses que parece não haver mais o que falar sobre ela, verdade? Ledo engano! Como tantos outros, queremos aqui deixar registrada a nossa passagem por aquele logradouro tão nosso e tão cheio de encantos.

ELA marcou de forma indelével os jovens enamorados e boêmios que a transformaram em seu ponto de encontro nos anos cinqüenta, sessenta e setenta. Hoje alguns são sexagenários. Com muita honra sou um deles. Fui um dos freqüentadores dominicais daquele aprazível e aconchegante lugar na década de sessenta! E com a chegada da energia da CELCA, atual COELCE, ficou mais encantadora ainda.

NAS noites de domingo, os rapazes iam chegando e formando um cordão humano circulando toda a praça enquanto as moças bem vestidas, belas e educadas desfilavam confiantes e livremente entre admirações e suspiros dos pretensos conquistadores. Curioso é que após 21 horas, elas desapareciam e a gente, não tendo mais o que admirar, ia esvaziando a praça, deixando-a para os boêmios e noctívagos.

QUANDO localizávamos aquela que mais nos atraía e ela correspondia, começava o flerte, (piscadelas de olhos), rápido sorriso, e era só. Aí começava nosso sofrimento, pois a partir daí, a gente ficava ansioso aguardando o próximo domingo. É sim, o namoro não caia do céu num vapt vupt como hoje.

NAQUELE tempo, após o primeiro flerte, transcorriam semanas, às vezes meses até que houvesse uma abordagem direta. E quando faltava coragem ao conquistador, o que era comum, e este era o meu caso, aparecia sempre um mediador para propiciar o encontro. Difícil imaginar algum cratense ou visitante que não tenha freqüentado aquela praça em uma noite de domingo. Ah, que saudades - Bons tempos aqueles!

Há quase sessenta anos - atente para o detalhe dos pés de benjamim nos canteiros - Era realmente um lugar romântico.

MAS COMO, QUANDO E POR QUEM FOI IDEALIZADA E CONSTRUÍDA A PRAÇA SIQUEIRA CAMPOS? QUEM PRESIDIU O ATO INAUGURAL? PORQUE ESCOLHERAM ESSE NOME? A QUEM DEVEMOS ESSE PALCO DE RECORDAÇÕES?

VAMOS abrir o portal do tempo, voar nas asas da imaginação e acampar no passado, lá por 1915.

ENCONTRAREMOS então, investido da função de Prefeito Municipal do Crato, o Coronel Teodorico Telles de Quental, de 1915 a 1919. Homem sério, enérgico e idealista e pai de seis filhos, sendo:

Cel. Filemon Fernandes Telles; agropecuarista, três vezes Prefeito Municipal, três vezes Deputado Estadual, e Presidente da Assembléia, ocasião em que exerceu a função de Governo do Estado do Ceará;

Dr.Joaquim Fernandes Telles, médico renomado, articulador da construção da Maternidade que recebeu seu nome, “Maternidade Dr. Joaquim Fernandes Telles” e após quarenta anos, foi alterado a revelia da comunidade cratense e hoje se chama Maternidade São Francisco. Foi Prefeito Municipal e Deputado Federal constituinte em 1.946;

Dr. Antonio Fernandes Telles, cirurgião-dentista, foi gerente do Banco do Cariri (atual BIC) e em 1921 foi o fundador da Farmácia Teles (onde este narrador que vos escreve trabalhou na função de gerente, na década de sessenta).

As filhas mulheres eram: D. Maria Fernandes Telles, D. Teresa de Jesus Telles e D. Fernandina Telles.

TRANSCORRIA ainda a primeira guerra mundial (1914/1917), quando nosso Prefeito, o Coronel Teodorico Telles de Quental, projetou a construção de uma praça para embelezar o centro da cidade como ponto turístico e apoio aos transeuntes para um ligeiro descanso. Com essa finalidade utilizou uma quadra no coração da cidade, entre as ruas Do Commercio (atual Dr. João Pessoa) e rua do Fogo(atual Senador Pompeu), onde antes havia a Capela de São Vicente. Como Praça projetada, seria a primeira do Crato. A Praça 3 de maio viria em 1921 e a da Sé, existia apenas o terreno do chamado quadro da Matriz.

ASSIM decidido, foram iniciadas as obras de construção daquela que seria o ponto de atração mais fascinante da população jovem e boêmia da urbe cratense.

CONCLUÍDO o feito, optou-se pela denominação de: Praça Siqueira Campos. Essa não era uma pretensão política, tratava-se de uma justa homenagem a uma pessoa que contribuiu para o desenvolvimento do Crato. O homenageado, Sr. Manoel de Siqueira Campos, comerciante estabelecido em Crato, era um homem sensível à necessidade alheia e ajudava desinteressadamente a todos que o procuravam, distribuía gêneros aos pobres nos tempos de calamidades, e a suas custas, mandou efetuar vários serviços de utilidade pública no Crato, apenas para gerar empregos e minimizar a fome dos necessitados.

DENTRE essas obras destacamos o calçamento da atual Rua Dr. João Pessoa, que naquele tempo ainda se chamava simplesmente Rua do Commercio, por abrigar as primeiras casas comerciais da cidade. Aquela artéria também foi conhecida com o nome de Rua Grande, mas parece que ficou apenas na tradição oral. Desconhecemos registros oficiais com esse nome.

QUANTO à denominação atual de rua Dr. João Pessoa, somente a partir da sua morte em 26/07/1930, foi que muitos logradouros no Brasil inteiro passaram a receber o seu nome, inclusive a capital do Estado da Paraíba, que também se chamava Paraíba e passou a se chamar João Pessoa. O leitor sabia disso?

ERA admirável o prestígio do Prefeito, Cel. Teodorico Telles de Quental, pois, para a inauguração da Praça recém construída, foram convidados e vieram de Fortaleza em comitiva, os Srs: Dr. João Tomé de Sabóia e Silva, 46º Presidente da Província do Ceará de 1916 a 1920, Dr. José Sabóia de Albuquerque, Cel. Antonio Fiúza Pequeno, Secretários do Interior, Justiça e Fazenda respectivamente, e o Dr. Leonardo Mota, Secretário particular do Presidente, além dos jornalistas A. C. Mendes do Correio do Ceará e Júlio de Matos Ibiapina.

VALE esclarecer que essa comitiva fez o trajeto de Fortaleza ao Crato, a cavalo, trocando suas montarias inúmeras vezes nos postos de troca e pousadas ao longo do percurso, e foi festivamente recebida em sua chegada no dia 13 de dezembro, véspera da inauguração da Praça.

A SOLENIDADE de inauguração teve início ás 09 horas da manhã do dia 14 de Dezembro de 1.917 e foi presidida pelo Exmo. Sr. Dr. João Tomé de Sabóia e Silva. Além dele e sua comitiva, ocuparam a tribuna de honra, o Coronel Teodorico Teles de Quental, Prefeito Municipal do Crato, e o homenageado: Sr. Manoel de Siqueira Campos. USARAM da palavra o Prefeito e o Presidente da Província do Ceará que discorreram sobre a inauguração e o homenageado o qual, na ocasião se manifestou agradecendo a consideração que lhe foi atribuída como Patrono da Praça. O acontecimento, contou ainda com a presença de autoridades eclesiásticas, civis e militares, representantes de classe, do povo em geral e da banda de música municipal.

SOBRE o homenageado: Manoel de Siqueira Campos. Muitos ainda pensam que ele era pernambucano por que lá viveu e morreu. De fato veio de Pernambuco, da cidade de Triunfo, onde havia fixado residência e se estabelecido comercialmente, mas, nasceu em 18/05/1874, aqui mesmo no Ceará em um lugarejo chamado Vila, a qual posteriormente recebeu o nome de Porteiras, (terra do Vicelmo).
Há quase 80 anos. Os pés de benjamim nos canteiros ainda eram miniaturas, atente também para a arquitetura dos prédios contornando a Praça.

FECHEMOS AQUI O PORTAL DO TEMPO. RETORNEMOS AS BOAS LEMBRANÇAS DOS ANOS DOURADOS!

A PRAÇA Siqueira Campos do meu tempo era muito bonita, canteiros maravilhosos e bem cuidados, bancos cômodos e condizentes com a época. A primeira foto desta postagem, fala bem melhor da sua insinuante beleza. O leitor poderá observar o capricho artístico dos canteiros. Postes de ferro fundido e trabalhado. Larga calçada, hoje reduzida para tornar mais largas as ruas ao seu redor. À direita vemos um prédio de dois andares, que vem resistindo à modernidade, é o Cassino Sul Americano, expondo os cartazes alusivos aos filmes ali exibidos. A foto foi tirada de um andar do Grande Hotel, penúltimo prédio antigo, demolido em 2008.

A PRAÇA daqueles tempo, era um patrimônio dos nossos anos dourados, poderia ter sido tombada pelo Patrimônio Histórico! Não foi, tudo bem! Poderia ao rodapé do monumento ao seu patrono, ostentar uma placa com dados informativos alusivos a sua construção e não somente aquela que menciona a sua última reforma. Ainda é tempo para essa correção. A história precisa dos historiadores, mas em alguns casos, também precisa do apoio político para manter acesa a sua chama. E aqui passamos a palavra ao DD. Prefeito Dr. Samuel Araripe.

CONTUDO, restou muita coisa boa daqueles tempos. A Praça foi cenário de eternas juras de amor com final feliz. Alguns contos quase de fada ali aconteceram e paralelamente as histórias de amor, foi também palco de encontros de boêmios e seresteiros.

Nesta visão panorâmica e deste angulo, vemos a Praça Siqueira Campos e lá nos fundos as ruas Senador Pompeu e Monsenhor Assis Feitosa. Os canteiros ainda sem os benjamins. Observe o leitor, a beleza das fachadas das casas, eram lindos.

A IDÉIA agora é abrir os cofres da memória dos seus freqüentadores, antes que tudo passe em definitivo e nada mais reste. Bom seria que os saudosistas promovessem anualmente uma noite de saudades lá na PRAÇA SIQUEIRA CAMPOS.

NOTA: Credito a Huberto Cabral (nossa enciclopédia ambulante). As informações relativas à sua construção e inauguração (datas e personagens envolvidas).

Vicente Almeida

10 comentários:

  1. Naquele tempo a minha única preocupação era aranjar namorada.

    Só que dada minha timidez, elas é que davam sinais de interesse por mim, eu fazia tudo para ser notado, ai as vezes dava certo.

    Vicene Almeida

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  2. Vicente.

    Inicialmente devo parabenizar pelo registro historico bem elaboradom e completo.
    Cheguei em Crato em março de 1969. Matuto, emcabulado e liso. Apenas em maio comecei a sair da toca. A historia que se segue teve a Praça Siqueira Campos como testemunha. Fui uma Tertulia, daquelas movida a radiola, no Ciclo Operario que ficava a Rua Pedro II. Gente como diabo. Dancei umas duas danças com uma menina e a condivei para no outro dia irmos assistir ao Filme do Cassino: Os girassóis da Russia, o melhor filme que assistir em toda minha vida. No outro dia, no horario marcado, tomei chegado e fiquei aguardando na Praça. Tive o cuidado de saber o preço dos engressos e o meu dinheiro era suficiente apenas para os dois ingressos, não sobrava nem o da goma de mascar. Quando divisei a convidado ela trazia uma amiga aí foi duro para convence-las que o filme era ruim, muito longo e que precisava estudar. O fato é que depois de muito luta fomos ao bar gloria, compramos tres picolés dividimos e nunca mais nos encontramos. Tem mais historias,mas, ficaram para outra ocasião. Uma bela postagem.
    Parabens.

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  3. Vicente

    Quanto mais se ler seu texto mais se descobre proezas da Praça Siqueira Campos. Sabemos o quanto era dificil arranjar uma nomorada naquela epoca. Eu mesmo nunca consegui, porque era muito medroso, e ficava esperando ter confiança para não levar uma mala e pretendente desistia nesse intervalo. Voce fala em mediador. Mediador geralmente é um desastre. Um colega nosso veio se aconselhar comigo e com o Dr. Flavio. Uma menina estava dando corda pra ele. Nós aconselhamos ir falar namoro: Ele chegou perto da garoto e disse: Eu vi perguntar se voce quer namorar comigo por que Morais e Jose Flavio mandaram! Ela respondeu: volte e diga pra eles que eu não quero! Que cantada mais desastrada?
    Historias da Praça.

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  4. É...

    Cada um tem o seu causo, por isso sugeri fazermos anualmente uma noite de saudades lá na Praça e pretendo levar a frente essa idéia.

    Preciso da ajuda de todos que de uma forma ou de outro têm a sua vida envolvida ou entrelaçada com a Praça Siqueira Campos.

    Vicente Almeida

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  5. Vicente Almeida
    Pela primeira vez leio um texto tão completo e detalhado sobre a Praça Siqueira Campos. Parabéns!
    Você escreveu coisas que eu desconhecia, por exemplo: Antonio Fernandes Teles era dentista... Também desconhecia que era dele a Farmácia Teles, pensei que ele fosse apenas agricultor, tio "Tõe" Teles, de saudosa memória. Até meus 7 anos fomos seus vizinhos na Praça da Sé, sua esposa Dona Edith era muito querida por mim e ele também.
    Teodorico Teles de Quental era tio legítimo do meu avô Cícero Pinheiro, foi também seu primeiro sogro, pois sua filha Tereza foi a primeira esposa do meu avô. Por isso minha mãe e seus irmãos chamavam os filhos de Teodorico: tio Filé, tio Quinco, tio "Tõe" Teles, tia Fernandina. Lembro perfeitamente desses quatro filhos de Teodorico.
    Glória

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  6. Glória;

    Nesta postagem, a intenção maior foi de fato narrar a história da origem da praça, pois percebi que ninguém falou sobre esse tema até hoje.

    Uma gama de pessoas está envolvida na história da Praça Siqueira Campos e ninguém fala sobre esses benfeitores. Achei uma injustiça. É muito importante para mim, resgatar a história se possivel a partir da sua orígem.

    Colori um pouco com o romantismo porque vivi aquele tempo, mas cada um a seu modo já havia comentado em outros textos.

    Vicente Almeida

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  7. EU SOU DOS TEMPOS QUE A PRAÇA SIQUEIRA CAMPOS ERA O PALCO ONDE AGENTE FICAVA AO REDOR DA MESMA PARA ARANJAR UMA NAMORADA, AS MOÇAS FICAVAM ANDANDO AO REDOR DAS CALÇADAS, E QUANDO AGENTE PISCAVA O OLHO PRA UMA AGENTE FALAVA ESSA EU JÁ GANHEI; AI NO OUTRO DIA AGENTE FICAVA AGUARDANDO A VINDA DA MESMA PRA CONVIDAR PRA IR AO CINEMA, ISSO NOS ANOS 50 E 60.

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  8. Janedson.

    Obrigado pela visita e pelo comentario. Seu depoimento faz com que nos convençamos cada vez mais do quando vivemos uma epoca bonita, pura e inocente. A decada de 60 foi uma decada dourada.

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