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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 21 de setembro de 2024

In Perpétua Memória - Por Antonio Alves de Morais.

21 de Setembro de 2024, centenário de nascimento do ilustre e nobre professor Manuel Batista Vieira, Vieirinha.

Em Dezembro de 1968 eu terminei o curso ginasial em Várzea-Alegre. Em Fevereiro de 1969 eu peguei o ônibus de Totô e vi ao Crato. Trazia no bolso da camisa uma carta do meu pai para o professor Manuel Batista Vieira, Vieirinha solicitando minha matriculo no Colégio Estadual Wilson Gonçalves do qual era diretor.

Chegando à rua Dr. João Pessoa, na Livraria Católica vi pela primeira vez o Vieirinha. Sentado no balcão da livraria enquanto José do Vale separava uns livros recém chegados.

Retirei a carta do bolso e entreguei ao professor. Ele retirou a carta do envelope, leu, recolocou e escreveu no verso - "Faça-se". 

Dirigi-me ao colégio e a matricula foi feita. Deste dia em diante, nasceu uma amizade recíproca, os nossos olhos não nos viam como aluno e professor e sim como filho e pai. 

Decorria o terceiro dia útil de Março de 1969. Terceira aula do primeiro ano do turno da tarde do Colégio Estadual Wilson Gonçalves.

O professor de português Manuel Batista Vieira, o nosso querido Vieirinha entrou na sala, apanhou o apagador, apagou algo que restava da aula anterior no quadro negro, e, olhando para o teto com uns olhos que mais pareciam dois rubis de anil escreveu a frase : 

"A moça que se pinta, pinta o sete".

Vieirinha tinha um método, uma regra geral toda sua. Suas aulas tinham a participação efetiva dos alunos. Ele dividia e identificava os períodos, as orações, os sujeitos, os objetos diretos e indiretos, os complementos nominais e adverbiais, os adjuntos nominais, e, começava a analise com os alunos. 

Ele tinha uma maneina toda carinhosa e especial de tratar cada um de nós. Era Dedé, Caboclo Velho, Rajalegue e quantos mais que não me recordo.

O velho Vieira não fazia chamada, não fazia prova mensal. Já naquela época Vieira estava muito adiante do tempo. No final do ano ele passou uma redação valendo nota. 

Lembro-me o titulo : "Eu vi a banda passar".

No mínimo 60 linhas, não permitindo o uso de período composto. Veja a pegadinha, o título era um período composto. Na segunda aula outra frase :"Enquanto as Freiras rezam, Mercedes Benze". As aulas do Vieirinha eram uma diversão.

Já no final de sua jornada, quando ele passou um período na Fazenda Gravatá, em Potengi eu fui algumas vezes vê-lo. Era prazeroso nosso encontro, nossa conversa, sempre bem humorado e de lhaneza especial no trato com Rajalegue. Era assim que ele me chamava. 

Saudade, muitas saudades mesmo, do Manuel Batista Vieira, nosso querido Vieirinha.

Salve 21 de Setembro de 2024,  centenário de seu nascimento.


Um comentário:

  1. No inicio éramos aluno e professor. Tempos mais tarde éramos dois grandes amigos. Eu sempre via o velho Vieira com os olhos de um filho, e, acho que havia uma certa reciprocidade. Vieira também me via com os olhos de um pai.
    É meu dever e obrigação deixar o meu agradecimento, reconhecimento e gratidão por tudo que Vieirinha representa em minha vida. Agradeço a Deus por ter a honra de ser amigo da família.

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