Nanum, maxo, tu foi muito covarde comigo. Como é que tu vai embora sem nem sequer dizer que já tá indo? Cara, a primeira vez que conversamos sobre teu livro, você me disse que a prioridade era o CD de Sergio, seu irmão. Concordei, até porque Sergio era um compositor de mão cheia, e já havia sido chamado para o Andar Superior. Era importante, seja pelo registro de saudade, seja pela lembrança da obra.
Raimundin, quantas vezes falamos por telefone, em que você me afirmava que tava preparando o conteúdo e eu retrucava dizendo que sabia que tu tinha material pra dez livros! Você não foi correto. Se ausenta assim, sem mais nem menos, deixando nós órfãos das melhores histórias de Várzea Alegre. Como você muitas vezes escrevia que "Nilo Sérgio vai dizer que eu inventei" e eu te ligava pra dizer: "Nanum, tu aumenta mas num inventa!".
Amigo, a rua da Igreja, a ladeira da lagoa, a Major Joaquim Alves certamente estarão chorando neste momento. A questão não é perder um conterrâneo, o problema não é ver-se ir um amigo de infância. A perda maior é de uma enciclopédia viva, um repositório das infindáveis histórias, acontecidos, momentos de quase cem anos de Várzea Alegre.
Vai em paz, Raimundin de Pedro Piau! Quando chegar "lá", se junta com Zé Clementino e faz um sarau de músicas e poesias. Não esqueça de pedir a Delfonso das Panelas para pintar a ecologia do ambiente e a Joãozinho seu irmão para gravar. Quem sabe quando seus admiradores e amigos chegarmos, ainda poderemos assistir a sua entrada triunfal no desconhecido.
Homem de inteligência rara. Memória prodigiosa. Modo de escrever admirável. Ninguém como Mundim do Vale resgatava as personalidades prestimosas de Várzea-Alegre com todos os detalhes. Quem lia parecia está vendo o personagem à sua frente. Perdemos um grande historiador, memorialista, poeta, escritor e amigo.
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