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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Da noite para o dia - Por Hermógenes Holanda Teixeira.

Como é que de repente se fica feia e velha assim? Foi a pergunta que me assaltou o espírito ao ver passar por mim aquela mulher cordunda e de nádegas murchas, que nunca fora bonita, é verdade, mas que até o dia anterior, quando me cumprimentara pela última vez, mostrava ter as carnes rígidas, a pele macia e o olhar pleno de luz.

O tempo é cruel pela rapidez de sua passagem e estragos feitos em seu percurso. Interiormente, porém, só o presente prevalece, não valendo toda a eternidade mais do que o dia de hoje, o momento atuel.

Assustei-me com a mulher que desde muito não via. Desde quando? Desde muito : Dez, quinze anos.  Mas eu a sentir como se ela tivesse estado comigo na véspera, loquaz e sorridente, e naquele instante me reaparecesse assim abatida, de fala e sorriso apagados.

Que impressão poderá alguém que me viu ontem ter hoje de mim? 

Disse-me a mim mesmo, espalmando contra o topo do crânio a cabileira inexistente.

Publicado em "A Província", numero 28, em Julho de 2010.


2 comentários:

  1. "Esta ruga no teu rosto,
    Tem a leveza da pluma.
    O que o tempo tem imposto,
    Só embeleza, avoluma.
    É de enorme bom gosto,
    Por isso mulher, assuma.
    E por seres doce e calma,
    Revirei a tua alma,
    Lá não vi ruga alguma".

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  2. Uma boa pergunta : Que impressão poderá alguém que me viu ontem ter hoje de mim?

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