Como é que de repente se fica feia e velha assim? Foi a pergunta que me assaltou o espírito ao ver passar por mim aquela mulher cordunda e de nádegas murchas, que nunca fora bonita, é verdade, mas que até o dia anterior, quando me cumprimentara pela última vez, mostrava ter as carnes rígidas, a pele macia e o olhar pleno de luz.
O tempo é cruel pela rapidez de sua passagem e estragos feitos em seu percurso. Interiormente, porém, só o presente prevalece, não valendo toda a eternidade mais do que o dia de hoje, o momento atuel.
Assustei-me com a mulher que desde muito não via. Desde quando? Desde muito : Dez, quinze anos. Mas eu a sentir como se ela tivesse estado comigo na véspera, loquaz e sorridente, e naquele instante me reaparecesse assim abatida, de fala e sorriso apagados.
Que impressão poderá alguém que me viu ontem ter hoje de mim?
Disse-me a mim mesmo, espalmando contra o topo do crânio a cabileira inexistente.
Publicado em "A Província", numero 28, em Julho de 2010.
"Esta ruga no teu rosto,
ResponderExcluirTem a leveza da pluma.
O que o tempo tem imposto,
Só embeleza, avoluma.
É de enorme bom gosto,
Por isso mulher, assuma.
E por seres doce e calma,
Revirei a tua alma,
Lá não vi ruga alguma".
Uma boa pergunta : Que impressão poderá alguém que me viu ontem ter hoje de mim?
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