Disfarçando de viajante
Foi ali bem recebido
Não viu bandidos nem armas
Nem comunista temido
Mas ao ver o algodão
E a safra de feijão
Foi de ambição possuído
Setembro de trinta e seis
Com a tropa de meganha
Invadiu o Caldeirão
Com crueldade tamanha
Destruiu todas as casas
Da igreja só ficou brasas
Roubaram o resto na "manha"
O povo foi ajuntado
Num curral de criação
Roubaram tudo que havia
Botaram o resto em leilão
Ao cavalo Trancelim
Zé Bezerra deu um fim
De tanta judiação
Quando viu a bagaceira
O Beato se escondeu
Contratou um advogado
E a um juiz recorreu
Que o governo pagasse
Devolvesse ou indenizasse
Tudo que o povo perdeu
Como a justiça é cega
Pros ricos e pros ladrões
José Figueiredo foi preso
Por defender o caldeirão
E o governo entregou
Pros padres o que sobrou
Depois da devastação
sabedor dessa tragedia
Severino disse: eu morro
Mas isso não fica assim
Vou ao Crato dar socorro
Juntou sua gente na serra
Agora só mesmo a guerra
derrotaria seu povo
No meio da mata densa
Da serra do Araripe
Fizeram casas de palha
Paredes de pau a pique
Com espingarda e facão
Revolta no coração
Pras balas ia ter repique
Novamente Zé Bezerra
Em expedição foi mandado
Guiando dezoito praças
Não tomou nenhum cuidado
Pensou que ia ser moleza
Já conhecia a fraqueza
Daquela gente açoitada
Só teve tempo de ver
Quando a roçadeira subiu
Não se valeu da pistola
Pois a cabeça caiu
Foi bala pra todo lado
Seu filho foi degolado
Só escapou quem fugiu
Enquanto o Beato rezava
Severino comandava
Pra mais de trezentos homens
Para uma morte honrada
Pois melhor morrer de pé
defendendo a sua fé
Do que viver humilhado.
Até a próxima.

Dom Helder Câmara
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Restam duas postagens para que registremos em cordel a historia do Caldeirão. José Normando Rodrigues se esmerou em pesquisas e faz um relato verdadeiro sobre a historia do Beato Jose Lourenço e sua gente.
ResponderExcluirESTAMOS ACOMPANHANDO E ANSIOSAMENTE AGUARDANDO AS DUAS ULTIMAS
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