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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 26 de outubro de 2024

203 - Preciosidades antigas de Várzea-Alegre - Por Antônio Morais.


A venda do patrimônio de São Raimundo.

Em cumprimento as exigências da "Diocese do Recife/Olinda" para a criação da Paróquia de São Raimundo Nonato, em Várzea-Alegre o Major Joaquim Alves Bezerra e outros amigos fizeram uma doação a paróquia de 400 braças quadradas de terra à partir do local em que seria construída a igreja matriz. 
Documento conforme declaração registrada em 04 de Março de 1857 na cidade de Lavras de Mangabeira a quem a freguesia de Várzea-Alegre pertencia. Foto acima.


Em 1919, a Diocese do Crato, regida pelo empreendedor Bispo Dom Quintino de Oliveira e Silva decidiu criar um banco, o Banco do Cariri S/A. As paróquias foram orientadas a aplicar suas reservas financeiras em ações ordinárias da referida instituição.
O padre José Alves de Lima, foto acima decidiu vender o patrimônio em referencia.  A revolta dos paroquianos foi muito grande, e diante do clamor do povo o prefeito Coronel Antonio Correia não aceitou comprar, mas o padre estava decidido e vendeu ao senhor Dirceu de Carvalho Pimpim.

Este fato deu origem ao primeiro foco de protestante de Várzea-Alegre com as famílias, Gino, Aniceto e Camilo no sitio Vacaria e a Sousa da Varzinha.
O poeta Manuel Antônio de Sousa,  da Varzinha  fez  um verso intitulado : "Verso da venda do Patrimônio de São Raimundo". Um dia, o meu pai José André do sitio Sanharol cantou para Pedro de Joaquim Piau que o datilografou. 
Graças aos dois eu tenho, e, vou transcrever o "protesto em verso" nos comentários para o deleite dos leitores interessados na história.
Em 1971, a Diocese do Crato autorizou a fusão do Banco do Cariri S/A com o banco do Juazeiro S/A da família "Bezerra de Menezes" e perdeu o controle da instituição vendida recentimente para um grupo chinês.

Portanto, se lhe perguntarem que fim levou o patrimônio doado pelo Major Joaquim Alves e seus amigos a São Raimundo, vendido pelo Padre Lima em 1920 a resposta é :  Está na China.

Veja os versos de Manuel Antônio de Sousa nos comentários.

20 comentários:

  1. Autor - Manuel Antônio de Sousa.

    Leitores eu vou contar
    Como anda o nosso mundo
    Conto o primeiro capitulo
    E depois conto o segundo
    É coisa que intimida
    Nunca visto em nossa vida
    Foi questão com São Raimundo

    Nosso mundo está perdido
    Valei-me meu Santo Antônio
    Se assim acontecer
    Fica o lugar tristonho
    O tempo tudo descobre
    São Raimundo fica pobre
    Se vender o patrimônio

    Nosso mundo está perdido
    Só por causa do dinheiro
    Os homens que se ordenam
    São os mais interesseiros
    Já querem tomar a pulso
    Querem deixar sem recurso
    Nosso santo padroeiro

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  2. Devemos viver a calma
    Não se envolver na questão
    porque somos inocentes
    Não sabem quem tem razão
    Mesmo estamos excomungado
    E pode ficar arriscado
    Para nossa salvação

    É certo que não faz medo
    Esta triste excomunhão
    Porque Deus só quer do homem
    É um firme coração
    Isto é palavra a toa
    Que o padre amaldiçoa
    E Jesus nos manda o perdão

    Deus deixou padre no mundo
    Para reger a doutrina
    Ser zelador da igreja
    Com a santa lei divina
    Mas os padres do presente
    Cada qual é mais valente
    Com palavra libertina

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  3. O pobre tudo aguenta
    O rico não se sujeita
    E por esta causa e outra
    Vivemos nesta peleja
    A igreja não merece
    Mas se o padre quisesse
    fazia a coisa direita

    O povo que não entende
    Calunia o pessoal
    Diz que em Várzea-Alegre
    Padre vem e se dar mal
    Executemos a questão
    Para ver quem tem razão
    De onde vem o sinal

    O povo que não entende
    Calunia o pessoal
    Diz que em Várzea-Alegre
    Padre vem e se dar mal
    Executemos a questão
    Para ver quem tem razão
    De onde vem o sinal

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  4. Deus deixou padre no mundo
    Para reger a igreja
    Deus não deixou ordem em padre
    Para lutar com peleja
    E depois se zangar
    Subir para o altar
    E falar tudo que deseja

    É certo que protestante
    Nesta terra ainda não tem
    Por causa destes abusos
    Aparecem mais de cem
    E se o orgulho aumentar
    E alguém quiser virar
    Chame que viro também

    Deus deixou padre no mundo
    Para absolver pecado
    Mas por causa do dinheiro
    Fez o povo excomungado
    Veja quanto é valoroso
    O nosso Deus poderoso
    Vive sempre ao nosso lado

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  5. Leitores devem lembrar
    Daquele verso terceiro
    Que diz que neste mundo
    Só quem vale é o dinheiro
    Veja como acontece
    Até o padre se esquece
    Do nosso Deus verdadeiro

    Pergunto ao nosso Deus
    Porque foi esta questão
    Respondeu-me Jesus
    De todo meu coração
    O padre falou em negocio
    O prefeito disse não posso
    Daí veio a maldição

    Castigue quem merecer
    A defesa é natural
    Não faço nada por mal
    Vós me queira defender
    É que nosso padroeiro
    Não precisa de dinheiro
    Não precisava vender

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  6. Ó Virgem da Conceição
    Meu Jesus sacramentado
    Proteja minha inocência
    Se nisso estiver culpado
    Valei-me a providência
    Proteja minha inocência
    Se eu estiver errado

    Eu habito em Santo Antônio
    Não me cabia este artigo
    Apenas fiz este verso
    A pedido de um amigo
    Vou dar meu nome completo
    Eu me chamo Felisberto
    Da Costa Sousa Perigo

    Manuel Antônio de Souza
    Sitio Varzinha - Várzea-Alegre

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  7. Muito interesante o seu relato principal e também a poesia registrada no comentário, ambos descrevendo a origem e o fim do patrimônio de São Raimundo...

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  8. Um resgate histórico relevante.
    Espero que permaneça na memória do nosso povo.

    Bem providencial saber sobre essa relação da venda até chegar aos chineses.

    E também que banco é o outro lado da desigualdade há muito tempo.

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  9. No inicio da década de 70 do século passado eu era tesoureiro do Banco. O gerente era Monsenhor Raimundo Augusto.

    Por vezes vi o Padre Otavio tratando assuntos financeiros da Igreja e pessoal, tais como depósitos a prazo, dividendos etc. Ele sempre vinha de batina e com aquela pasta pendurada na mão. Respondia por ele e por São Raimundo.

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  10. António Morais, tire-me uma dúvida. Primeiro existiram o Banco do Crato e Banco do do Juazeiro e, depois, foi feita a fusão dos dois bancos e transformaram em Banco Industrial do Cariri S/A. Agradeço a gentileza Cybele Máximo

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  11. Cybele Maximo - Exatamente assim. Banco do Cariri S/A fundado pela Diocese do Crato no inicio da década de 20 do século passado, Banco do Juazeiro S/A fundado no inicio da década de 30 do século passado. Em 1972 fundiram-se no BIC-Banco Industrial do Cariri S/A, depois Banco Industrial do Ceará S/A e por fim BIC-Banco.

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  12. Grande resgate histórico da nossa história que não valoriza muito a conservação dos espaços históricos. Assim tomamos conhecimento que é desde os primórdios da nossa história.

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  13. Caro Morais, sempre tive interesse em rastrear a transformação monetária do patrimônio que pertencera ao nosso padroeiro São Raimundo Nonato. O seu relato é muito claro, profundo e acadêmico, pois nos mostra toda a trajetória daqueles bens. Pelo que entendi, a decisão teve grande importância para o desenvolvimento regional da época, através da criação de um banco, que traria melhoras importantes a setores da economia. Mas aí veio o segundo banco, a fusão, a desvalorização da moeda, a estadualização e a nacionalização do mesmo. Finalmente, a venda do referido para os chineses. Comprovadamente, Várzea Alegre não fez um negócio da China. Parafraseando o grande compositor José Clementino em uma de suas composições, confirmo que o patrimônio do nosso padroeiro caiu no conto do alazão e das vaquinhas. “Eu sou do banco, do banco, do banco!”

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  14. Também gostaria de enaltecer ao poeta Manuel Antônio de Sousa, da Varzinha, que fez o poema "Verso da venda do Patrimônio de São Raimundo", ao senhor José André do sitio Sanharol, que o cantou para Pedro de Joaquim Piau, que o registrou através da datilografia. Concluímos então, que todo relato guardado é importante para a memória e para a história. Parabéns à você, Antônio Morais, um dos guardiões da história varzealegrense.

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    1. Francisco Giovani da Costa6 de outubro de 2023 às 12:44

      Manoel Antônio também compôs ' ABC DA FOME", que José Sobrinho tinha uma cópia. Ainda cheguei a pedir uma cópia a um parente, mas não consegui, Zé Sobrinho faleceu em São Bernardo e não sei se alguém guardou esta obra prima.

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  15. Dr. Sávio - Eu conheço bem a história porque quando o banco tinhas três agências Crato-Juazeiro e Fortaleza eu era gerente da agência do Crato. Vi o banco passar das três agências para 43 em todo Brasil. O valor patrimonial do banco crescendo e as ações diminuindo. É assim o sistema.

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  16. Antonio Morais, um sistema totalmente corrompido. Não entendo muito de economia, mas consigo enxergar as maracutaias do dia-a-dia. Como dizia Dr. Iran: “eles pensam que eu sou assim a semana toda, mas eu tiro uma quinta-feira sem ser besta...”

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  17. Na história da origem de Várzea-Alegre não existe nenhum documento tão importante quanto essa escritura de doação desse patrimônio doado pelo Major Joaquim Alves para São Raimundo.
    Possibilitou a criação da Paróquia em Novembro de 1863, e, em torno dela nasceu e cresceu a cidade.
    O nome da principal artéria urbana foi concedida ao Major Joaquim Alves, com o tempo trocaram de nome para atender a bajulação e puxasaquismo politico vergonhoso.

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  18. Hoje religioso não significa santidade. Temos de ficar bem atentos, as suas atitudes. E manter distantes deles, os pequenos. Alguns são.maus nocivos, que a besta fera.

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  19. Monsenhor Lima foi pároco em Tombos, (diocese de Caratinga _Mg, em 1939-1940. Foi vigário em Várzea Alegre. Cedro e juazeiro.saindo dali para ser vigário de São José dos Calçados (1933) e Alegre (1934 a 1937), cidades localizadas no estado do Espírito Santo; foi Cura da Catedral de Vitória (ES) de 1938 a 1939; vigário de Tombos, diocese de Caratinga (MG) de 1939 a 1940, quando regressou à diocese de Crato. Depois disso foi vigário de Icó (1940-1950) e dali veio paroquiar Juazeiro do Norte (pela 2ª vez, de 1950 a 1967), onde permaneceu até sua morte.

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