A venda do patrimônio de São Raimundo.
Em cumprimento as exigências da "Diocese do Recife/Olinda" para a criação da Paróquia de São Raimundo Nonato, em Várzea-Alegre o Major Joaquim Alves Bezerra e outros amigos fizeram uma doação a paróquia de 400 braças quadradas de terra à partir do local em que seria construída a igreja matriz.
Documento conforme declaração registrada em 04 de Março de 1857 na cidade de Lavras de Mangabeira a quem a freguesia de Várzea-Alegre pertencia. Foto acima.
Em 1919, a Diocese do Crato, regida pelo empreendedor Bispo Dom Quintino de Oliveira e Silva decidiu criar um banco, o Banco do Cariri S/A. As paróquias foram orientadas a aplicar suas reservas financeiras em ações ordinárias da referida instituição.
O padre José Alves de Lima, foto acima decidiu vender o patrimônio em referencia. A revolta dos paroquianos foi muito grande, e diante do clamor do povo o prefeito Coronel Antonio Correia não aceitou comprar, mas o padre estava decidido e vendeu ao senhor Dirceu de Carvalho Pimpim.
Este fato deu origem ao primeiro foco de protestante de Várzea-Alegre com as famílias, Gino, Aniceto e Camilo no sitio Vacaria e a Sousa da Varzinha.
O poeta Manuel Antônio de Sousa, da Varzinha fez um verso intitulado : "Verso da venda do Patrimônio de São Raimundo". Um dia, o meu pai José André do sitio Sanharol cantou para Pedro de Joaquim Piau que o datilografou.
Graças aos dois eu tenho, e, vou transcrever o "protesto em verso" nos comentários para o deleite dos leitores interessados na história.
Em 1971, a Diocese do Crato autorizou a fusão do Banco do Cariri S/A com o banco do Juazeiro S/A da família "Bezerra de Menezes" e perdeu o controle da instituição vendida recentimente para um grupo chinês.
Portanto, se lhe perguntarem que fim levou o patrimônio doado pelo Major Joaquim Alves e seus amigos a São Raimundo, vendido pelo Padre Lima em 1920 a resposta é : Está na China.
Veja os versos de Manuel Antônio de Sousa nos comentários.
Autor - Manuel Antônio de Sousa.
ResponderExcluirLeitores eu vou contar
Como anda o nosso mundo
Conto o primeiro capitulo
E depois conto o segundo
É coisa que intimida
Nunca visto em nossa vida
Foi questão com São Raimundo
Nosso mundo está perdido
Valei-me meu Santo Antônio
Se assim acontecer
Fica o lugar tristonho
O tempo tudo descobre
São Raimundo fica pobre
Se vender o patrimônio
Nosso mundo está perdido
Só por causa do dinheiro
Os homens que se ordenam
São os mais interesseiros
Já querem tomar a pulso
Querem deixar sem recurso
Nosso santo padroeiro
Devemos viver a calma
ResponderExcluirNão se envolver na questão
porque somos inocentes
Não sabem quem tem razão
Mesmo estamos excomungado
E pode ficar arriscado
Para nossa salvação
É certo que não faz medo
Esta triste excomunhão
Porque Deus só quer do homem
É um firme coração
Isto é palavra a toa
Que o padre amaldiçoa
E Jesus nos manda o perdão
Deus deixou padre no mundo
Para reger a doutrina
Ser zelador da igreja
Com a santa lei divina
Mas os padres do presente
Cada qual é mais valente
Com palavra libertina
O pobre tudo aguenta
ResponderExcluirO rico não se sujeita
E por esta causa e outra
Vivemos nesta peleja
A igreja não merece
Mas se o padre quisesse
fazia a coisa direita
O povo que não entende
Calunia o pessoal
Diz que em Várzea-Alegre
Padre vem e se dar mal
Executemos a questão
Para ver quem tem razão
De onde vem o sinal
O povo que não entende
Calunia o pessoal
Diz que em Várzea-Alegre
Padre vem e se dar mal
Executemos a questão
Para ver quem tem razão
De onde vem o sinal
Deus deixou padre no mundo
ResponderExcluirPara reger a igreja
Deus não deixou ordem em padre
Para lutar com peleja
E depois se zangar
Subir para o altar
E falar tudo que deseja
É certo que protestante
Nesta terra ainda não tem
Por causa destes abusos
Aparecem mais de cem
E se o orgulho aumentar
E alguém quiser virar
Chame que viro também
Deus deixou padre no mundo
Para absolver pecado
Mas por causa do dinheiro
Fez o povo excomungado
Veja quanto é valoroso
O nosso Deus poderoso
Vive sempre ao nosso lado
Leitores devem lembrar
ResponderExcluirDaquele verso terceiro
Que diz que neste mundo
Só quem vale é o dinheiro
Veja como acontece
Até o padre se esquece
Do nosso Deus verdadeiro
Pergunto ao nosso Deus
Porque foi esta questão
Respondeu-me Jesus
De todo meu coração
O padre falou em negocio
O prefeito disse não posso
Daí veio a maldição
Castigue quem merecer
A defesa é natural
Não faço nada por mal
Vós me queira defender
É que nosso padroeiro
Não precisa de dinheiro
Não precisava vender
Ó Virgem da Conceição
ResponderExcluirMeu Jesus sacramentado
Proteja minha inocência
Se nisso estiver culpado
Valei-me a providência
Proteja minha inocência
Se eu estiver errado
Eu habito em Santo Antônio
Não me cabia este artigo
Apenas fiz este verso
A pedido de um amigo
Vou dar meu nome completo
Eu me chamo Felisberto
Da Costa Sousa Perigo
Manuel Antônio de Souza
Sitio Varzinha - Várzea-Alegre
Muito interesante o seu relato principal e também a poesia registrada no comentário, ambos descrevendo a origem e o fim do patrimônio de São Raimundo...
ResponderExcluirUm resgate histórico relevante.
ResponderExcluirEspero que permaneça na memória do nosso povo.
Bem providencial saber sobre essa relação da venda até chegar aos chineses.
E também que banco é o outro lado da desigualdade há muito tempo.
No inicio da década de 70 do século passado eu era tesoureiro do Banco. O gerente era Monsenhor Raimundo Augusto.
ResponderExcluirPor vezes vi o Padre Otavio tratando assuntos financeiros da Igreja e pessoal, tais como depósitos a prazo, dividendos etc. Ele sempre vinha de batina e com aquela pasta pendurada na mão. Respondia por ele e por São Raimundo.
António Morais, tire-me uma dúvida. Primeiro existiram o Banco do Crato e Banco do do Juazeiro e, depois, foi feita a fusão dos dois bancos e transformaram em Banco Industrial do Cariri S/A. Agradeço a gentileza Cybele Máximo
ResponderExcluirCybele Maximo - Exatamente assim. Banco do Cariri S/A fundado pela Diocese do Crato no inicio da década de 20 do século passado, Banco do Juazeiro S/A fundado no inicio da década de 30 do século passado. Em 1972 fundiram-se no BIC-Banco Industrial do Cariri S/A, depois Banco Industrial do Ceará S/A e por fim BIC-Banco.
ResponderExcluirGrande resgate histórico da nossa história que não valoriza muito a conservação dos espaços históricos. Assim tomamos conhecimento que é desde os primórdios da nossa história.
ResponderExcluirCaro Morais, sempre tive interesse em rastrear a transformação monetária do patrimônio que pertencera ao nosso padroeiro São Raimundo Nonato. O seu relato é muito claro, profundo e acadêmico, pois nos mostra toda a trajetória daqueles bens. Pelo que entendi, a decisão teve grande importância para o desenvolvimento regional da época, através da criação de um banco, que traria melhoras importantes a setores da economia. Mas aí veio o segundo banco, a fusão, a desvalorização da moeda, a estadualização e a nacionalização do mesmo. Finalmente, a venda do referido para os chineses. Comprovadamente, Várzea Alegre não fez um negócio da China. Parafraseando o grande compositor José Clementino em uma de suas composições, confirmo que o patrimônio do nosso padroeiro caiu no conto do alazão e das vaquinhas. “Eu sou do banco, do banco, do banco!”
ResponderExcluirTambém gostaria de enaltecer ao poeta Manuel Antônio de Sousa, da Varzinha, que fez o poema "Verso da venda do Patrimônio de São Raimundo", ao senhor José André do sitio Sanharol, que o cantou para Pedro de Joaquim Piau, que o registrou através da datilografia. Concluímos então, que todo relato guardado é importante para a memória e para a história. Parabéns à você, Antônio Morais, um dos guardiões da história varzealegrense.
ResponderExcluirManoel Antônio também compôs ' ABC DA FOME", que José Sobrinho tinha uma cópia. Ainda cheguei a pedir uma cópia a um parente, mas não consegui, Zé Sobrinho faleceu em São Bernardo e não sei se alguém guardou esta obra prima.
ExcluirDr. Sávio - Eu conheço bem a história porque quando o banco tinhas três agências Crato-Juazeiro e Fortaleza eu era gerente da agência do Crato. Vi o banco passar das três agências para 43 em todo Brasil. O valor patrimonial do banco crescendo e as ações diminuindo. É assim o sistema.
ResponderExcluirAntonio Morais, um sistema totalmente corrompido. Não entendo muito de economia, mas consigo enxergar as maracutaias do dia-a-dia. Como dizia Dr. Iran: “eles pensam que eu sou assim a semana toda, mas eu tiro uma quinta-feira sem ser besta...”
ResponderExcluirNa história da origem de Várzea-Alegre não existe nenhum documento tão importante quanto essa escritura de doação desse patrimônio doado pelo Major Joaquim Alves para São Raimundo.
ResponderExcluirPossibilitou a criação da Paróquia em Novembro de 1863, e, em torno dela nasceu e cresceu a cidade.
O nome da principal artéria urbana foi concedida ao Major Joaquim Alves, com o tempo trocaram de nome para atender a bajulação e puxasaquismo politico vergonhoso.
Hoje religioso não significa santidade. Temos de ficar bem atentos, as suas atitudes. E manter distantes deles, os pequenos. Alguns são.maus nocivos, que a besta fera.
ResponderExcluirMonsenhor Lima foi pároco em Tombos, (diocese de Caratinga _Mg, em 1939-1940. Foi vigário em Várzea Alegre. Cedro e juazeiro.saindo dali para ser vigário de São José dos Calçados (1933) e Alegre (1934 a 1937), cidades localizadas no estado do Espírito Santo; foi Cura da Catedral de Vitória (ES) de 1938 a 1939; vigário de Tombos, diocese de Caratinga (MG) de 1939 a 1940, quando regressou à diocese de Crato. Depois disso foi vigário de Icó (1940-1950) e dali veio paroquiar Juazeiro do Norte (pela 2ª vez, de 1950 a 1967), onde permaneceu até sua morte.
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