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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 26 de setembro de 2019

JESUS FALOU - Por Wilton Bezerra, comentarista esportivo.


Jorge Jesus, treinador português que dirige o Flamengo, afirmou que os técnicos brasileiros enxergaram menos necessidade de criar ideias coletivas, pelos grandes craques que dispunham.
Acabou sendo alvo de disparos de tudo que é lado, em nome do corporativismo e da “reserva de mercado” de gente que se sentiu diminuída.

Interessante.
Desde quando as evoluções táticas e coletivas realmente foram assuntos de realce na mesa de debates de treinadores no Brasil?
Qual a neura de se reconhecer que o futebol brasileiro foi fundado na individualidade de Leônidas da Silva, Fausto, Domingos da Guia, Zizinho, Garrincha, Pelé, Didi e sucedâneos?
Foi sempre muito claro que a ideia de jogo coletivo foi secundarizada, em favor da reunião de talentos individuais.
Antes de enfrentar a Holanda, na Copa de 1974, Zagalo declarou: “A Holanda não me preocupa. Estou pensando na final com a Alemanha”.
Ignorou um tal de “futebol total”, que o Ajax, de Amsterdã, sob o comando de Rinus Michels, vinha praticando, com jogadores sem posições fixas e uma ocupação sufocante dos espaços.
Ainda, por cima, contando em campo com um arauto do que estava por vir: Cruyff. E olha que o lobo não era bobo.
Muricy, hoje comentarista de televisão, não satisfaz quando afirma ter o treinador apenas 25% de influência num time de futebol, ressaltando a qualidade dos jogadores acima de tudo.
Quando foi eviscerado pelo Barcelona, com o Santos, percebeu que não tinha plano tático nenhum para aquela nova situação do futebol.
Dizem até que, naquele jogo fatídico, os gandulas pegaram mais na bola do que os jogadores santistas.
Rubens Minelli, treinador campeão brasileiro por várias equipes, declarou que à frente do grande Internacional de Figueroa, Carpegiani, Falcão, Batista e outros, em determinados momentos de dificuldades, combinou o seguinte com os jogadores: “Sem a bola, eu mando. Com a bola vocês resolvem.”
Só esses exemplos servem para denunciar que, nos últimos tempos, se registraram períodos de miséria organizacional e indigência intelectual dos profissionais brasileiros.
Se esses fatos não são argumentos fortes o suficiente, se pergunta: por que nos últimos tempos treinadores brasileiros passaram a fazer estágios na Europa para adquirir “certificados de competência”?
Depois de Guardiola, com o que já existia em termos de filosofia de jogo (pode se substituir filosofia por tática), transformações profundas aconteceram no futebol e o único caminho que resta é acompanhar as mudanças.
Não vejo razão para espanto e xenofobia, a partir de declarações dadas por quem vem de fora.
Há muita embriaguez nesse debate.

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