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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 15 de setembro de 2021

NOSTALGIA DA MARIA FUMAÇA - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.

 

Maria Fumaça, como era conhecida a locomotiva a vapor, que “queimava lenha e cuspia brasa”, puxando composições de cargas e passageiros da extinta e saudosa RVC (Rede de Viação Cearense), sempre teve um enorme efeito sobre mim.

Meu pai, FArancisco Martins, foi funcionário da estrada de ferro e responsável por colocar o trem na minha vida.

Foi num tempo em que as estradas rodoviárias praticamente não existiam e os trens da Maria Fumaça contribuíam para desenvolver o Brasil, tornando antigos lugarejos em grandes cidades nos dias de hoje.

Mesmo com a chegada da locomotiva a diesel, na década de 50, a Maria Fumaça continuou sendo imprescindível para a rede ferroviária, até os anos 1960, por dois motivos: não existia óleo no país, nem peças de reposição para essa nova máquina.

É incrível imaginar, hoje, que esses dois insumos precisavam ser importados.

Quero, inclusive, sugerir aos leitores de nossas crônica o livro A Estrada da Minha Vida, obra de autoria do Dr. José Weidson de Oliveira, filho do saudoso e lendário maquinista “Chico Velho”.

Infelizmente, os nossos governantes, agindo na contramão das políticas de transportes dos países desenvolvidos, resolveram, com frágeis alegações, extinguir o transporte ferroviário do país, negando-lhe investimentos e novas tecnologias.

Certamente, que por interesses inconfessáveis, que nunca virão à tona neste país de tenebrosas transações.

Para a nossa infelicidade, pois não.

Isso representou uma drástica redução dos trens e, ao mesmo tempo, uma morte lenta da Maria Fumaça e de um transporte bom e barato, que conduziu até presidentes da República.

Pelo que sei, no Nordeste, não se teve sequer o cuidado de preservar as grandes locomotivas (as 400, por exemplo), como acervo de museus em velhas estações ou depósitos.

Essas, para o choro de quem nelas trabalhou, viraram ferro velho, mantendo-se apenas algumas “cafuringas”, máquinas de menor porte.

Não fosse este ato de ignorância do Estado, ainda hoje, teríamos a Maria Fumaça, puxando composições, com seus garbosos maquinistas e foguistas, engolindo curvas e distâncias, subindo rampas, ao som do seu apito característico.

Vez por outra, de algum lugar, nos chega o cheiro de sua fumaça para nosso consolo.

Grandes gigantes de ferro, grandes e fortes recordações que nos encharcam de infância.

Um comentário:

  1. Sustenta a história, eu até acho que seja folclore que quando Maria Fumaça chego no cariri se deu o causo abaixo :

    No Juazeiro um romeiro disse : Lá vem que meu padrinho mandou, se abraçou a maquina e morreu queimado. No Crato, tinha um caboclo de Várzea-Alegre na estação. quando viu o fumaça e a zoada saiu correndo com medo, caiu num cacimbão que tinha na praça e morreu afogado.

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