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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 22 de março de 2019

438 - Preciosidades antigas de Várzea-Alegre - Por Antônio Morais.

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No tempo em que haviam as festa de Nossa Senhora Aparecida, um jogador de baralho conhecido por Zé do Crato, acompanhou a caravana de Chagas Bezerra e depois que terminou a festa ele resolveu ficar na cidade.
Afora do jogo de baralho a coisa que ele fazia era escalar muros, na intenção de olhar uma mulher descuidada tomando banho ou trocando a roupa.
Certa vez Zé estava bebendo numa barraca da lavanderia, quando chegou Joaquim de Maria Pereira, que devia ter uns quinze anos. Joaquim quando viu Zé foi logo puxando prosa:
Zé do Crato!
Quier?
Tu já laigou aquela mania de se atrepar nos muro prumode oiá as muié tumando bãe?
É besta seu cabrito! Tu ainda nem quebrou o cabresto dereito e já ta tumando os ome a pagode. Vá simbora daqui se não eu lhe dou um sabacu.
Joaquim pra se vingar resolveu aplicar um ditado que tinha na época:
Tu num tem pai não? Bicho do bicão!
Tem não qui a veia tua mãe carregou.
Êpa! Num diga isso cum mãe não, se não eu vou dizer a meu ti Pedão.
Vá você e seu ti Pedão tumar adonde as pata toma.
Joaquim saiu a procura do tio e foi encontrá-lo tomando umas cachaças no bar de Zé de Lima. Falou com Pedão já chorando:
Ti Pêdo! Zé do Crato tava isculambando cum mãe e o resto da famia.
Pedão tomou uma terça, passou a mão no beiço, quebrou o copo de um murro e perguntou:
Cuma é essa istora Joaquim?
É do jeito qui eu dixe. Zé do Crato isculambou mãe e a famia todinha.
E adonde é qui tá Zé do Crato?
Tá lá na lavanderia bebendo cana cum tripa de poico.
Apois inquanto eu vou lá, você vá lá na casa de mestre Oraço e mande ele fazer o caixão do finado Zé do Crato.
Pedão desceu na rua do Jauazeiro mais zangado do que Zé Chato quando caía do jegue. Quando passou na barraca de Bié, tomou meia garrafa de madeira de lei e quebrou o casco na forquilha.
Zé do Crato estava boatando na latada da lavanderia, quando Pedão entrou desafivelando um cinto, onde tinha na fivela as letras PP em alto relevo, que seria as iniciais do nome ´ Pedro Pereira “ Zé quis correr mas não deu tempo, Pedão já tinha preenchido a passagem. Com a ponta do cinto enrolada na mão Pedão falou:
Então Zé. Você tava isculambando a minha famía?
Aquele fresco já foi inredar num foi? Mais fique sabendo qui um ome é pra ôto.
Onton-se lá vai um, adispois o ôto vem.
Dizendo aquilo Pedão deu uma lapada tão condenada no lombo de Zé, que ficaram gravada as letras PP no ombro esquerdo. Nesse momento o Sr. José Sobrinho que era o administrador da lavanderia, pediu a Pedão para sair e ele em atenção ao administrador retirou-se.
Assim que Pedão saiu, chegou Antônio Ulisses que era menino na época. Olhando para o estado de Zé, Antônio Ulisses perguntou:
Oxente, Zé do Crato! Quem foi que te marcou com o ferro de gado de Pedro de Pinho.

Mundim do Vale.


4 comentários:

  1. Mundim,

    Embora tudo isso tenha acontecido em Várzea Alegre, parecia que eu estava escutando o povo de Serra Verde. Os mesmo dizeres, as mesmas palavras, os mesmos ditados.

    Obrigada por esse presente de ANO NOVO.

    Abraço,

    Claude

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  2. É verdade Mundim. Agente vai lendo e encontrando atras um do outro os ditados populares tão costumeiros e useiros pela nossa gente.

    Abraços.

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  3. Sempre maravilhosas as histórias de Mundin. E finalizando com uma participação no nosso querido e saudoso Antônio Ulisses fica ainda mais interessante...
    Abraçoss...

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