Esta coluna é dedicada a Matusahila Santiago (In memoriam)
“E por falar em saudade./ Onde anda você./ Onde andam os seus olhos./ Que a gente não vê.”, assim inicia um de seus belos poemas, Vinícius de Moraes. A palavra saudade, afirmam os lexicógrafos, é exclusividade das línguas portuguesa e galega. Em 1914, a primeira mulher a lecionar numa Universidade portuguesa, a Universidade de Coimbra, Professora Carolina Wilhelma Michaëlis de Vasconcelos, alemã de nascimento e portuguesa de coração, publicou, pela “Renascença do Porto”, Portugal, um interessante ensaio intitulado “A Saudade Portuguesa”. Dona Carolina, autora do conhecido Dicionário Michaëlis, diz-nos que “... a Saudade era considerada quase como filosofia ou religião nacional”.
A autora afirma que “... não tenha equivalente em língua alguma do globo terráqueo e distinga unicamente a faixa atlântica, faltando mesmo na Galiza de além-Minho. Há quatro vozes peninsulares, de origem neolatina todas elas, que são sinônimas de saudade. E todas elas foram já citadas por críticos nacionais e estrangeiros. Certo é apenas que não correspondem plenamente ao termo português”. Alemã, diz ela: “plena concordância há, porém, entre Saudade e a Sehnsiicht dos Alemães, “... mas em regra a Sehnsacht alemã tem caráter metafísico. Aspira a estados e a regiões ideais, sobre-humanas, ao Além”.
Diz dona Carolina, “a) lembrança dolorosa de um bem que está ausente, ou de que estamos ausentes, e desejo e esperança de tornar a gozar dele; b) expressão desse afeto dirigido a pessoas ausentes. Esse bem desejado, ausente, pode ser: tanto a terra em que nascemos, o lar e a família, os companheiros da infância, como a bem-amada, ou o bem-amado. Com respeito a esse sentido, designa sobretudo o vácuo nostálgico ou o peso esmagador que nas ausências dilata ou oprime o coração humano – agravado, quantas vezes, pelo arranhar da consciência (o ‘gato’ de Heine); pelo remorso que nos acusa de não havermos estimado, aproveitado e efusivamente reconhecido o bem que possuíamos”.
“Saudade é o amor que fica”. Essa frase é atribuída ao médico oncologista Rogério Brandão que a teria ouvido de uma criança doente de câncer, em fase terminal. O amor que fica. Se analisarmos concretamente, é o amor que fica de momentos que se eternizaram em nossos corações, em nossas mentes, em nossa alma. No Brasil, embora sem muitas explicações, o calendário cívico assinala 30 de janeiro como o Dia da Saudade. Os músicos Chico César e Paulinho Moska, dizem que a Saudade é “... eterno filme em cartaz” e aportuguesando com Dona Carolina, observamos que “Se saudades matassem... muita gente morreria!”.
Aproveito a ocasião para agradecer a todos os que me felicitaram pela revalidação do meu título de Doutor em Direito obtido em 2015 na Universidad Nacional de Lomas de Zamora, na Argentina, e revalidado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC, Universidade que conta com mais de 113 anos de fundação. Sobre este tema lembro os versos do poeta T.S. Eliot: “Eu disse à minha alma,/ fica tranquila e espera.../ Até que as trevas sejam luz/ e a quietude seja dança”... Gratidão a Deus sempre e por tudo dando graças e gratidão a todos. Não citarei nomes para não ser injusto, mas, eles todos estão em meu coração que penso ser o melhor que tenho. Deus Lo Vult!
(*) José Luís Lira é
advogado e professor do curso de Direito da Universidade Vale do
Acaraú–UVA, de Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito
Constitucional pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora (Argentina)
e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Messina (Itália). É
Jornalista profissional. Historiador e memorialista com mais de vinte
livros publicados. Pertence a diversas entidades científicas e culturais
brasileiras.
Saudade não é saudade,
ResponderExcluirSaudade é só lembrança,
Saudade só é saudade,
Quando não resta esperança.