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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 9 de janeiro de 2021

Três autores e curiosidades aos vestibulandos da UVA! – José Luís Lira (*)

   Feliz 2021. As primeiras chuvas banham nosso Ceará, de forma discreta, mas, acendem em nós a esperança de bom inverno. Com data de aplicação prevista para 14/03/2021 visando selecionar alunos para o segundo semestre de 2021, em 09/12/20, foi anunciado o Vestibular da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, na qual sou professor, com muita honra, e uma curiosidade nos livros sugeridos me moveram a tecer comentários a certame tão bem e diligentemente organizado pelo meu confrade na Academia Sobralense de Estudos e Letras, o Prof. José Ferreira Portella Netto, honrado cidadão e grande profissional. Os três últimos romances indicados fizeram o tempo voltar quando vi São Bernardo, de Graciliano Ramos; As Três Marias, de Rachel de Queiroz e Iracema, de José de Alencar. Não só porque li os livros, evidentemente. Tenho uma preservada segunda edição (1938) de São Bernardo. D’As Três Marias tenho primeira, segunda, terceira edições e outras clássicas. De Iracema não tenho primeiras edições, mas, possuo muitas comemorativas. 

    “Iracema” é o sexto romance de José de Alencar (1865), de cunho indianista é precedido por Guarany (1857) e sucedido por Ubirajara (1874). Ler Iracema, vez por outra adquiro uma nova edição saída de modo especial ou que seja edição com número fechado (100ª de tal editora etc.), dá uma saudade da infância e da curiosidade de conhecer o grande cenário da primeira parte de Iracema, Ipu. Ali está o véu de noiva e parece que até ouvimos suas passadas naquelas matas. Depois, crescido, encontrei seu segundo cenário, a praia de Iracema, onde ela aguarda Martin, com Moacir que alguns etimologistas definem como “filho da dor”, o primeiro brasileiro miscigenado, conforme a lenda. Alencar é o fundador do romance nacional. 

    Quanto ao “As Três Marias” penso até que me faço suspeito em falar. O cenário do livro é o “viveiro adorado”, Colégio da Imaculada Conceição de Fortaleza. Lendo o início do romance, ainda hoje, tenho a impressão de que estou ingressando no Colégio. Maria Augusta (Guta), era a própria autora, Rachel. Maria da Glória é Odorina que se casou e foi residir no Cariri. Maria José é Alba, amiga querida de Rachel que faleceu no acidente aéreo em que também morreu Castelo Branco. Podemos dizer que “As Três Marias” é romance-autobiográfico, não autobiografia, pois, em sua genialidade, a autora deu novas faces a personagens e espaços desenvolvidos na trama. O livro é de 1939. Rachel, com menos de 30 anos, já é escritora conhecida em todo o País, pelo sucesso da clássica obra prima “O Quinze” (1930). Ela viveu quase 93 anos e afirmou a mim uma vez: “Vivi muito. Sofri muito e tomei pouco juízo”. A escritora recebeu título de doutora honoris causa da UVA. É uma das mulheres mais importantes do século XX, a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, possuidora de rara inteligência e franqueza. Apontei-me suspeito porque sou afilhado, biógrafo e tive a honra de ser seu amigo. No Imaculada conheci a “Santa” Irmã Elisabeth Silveira e a querida Profa. Norma Soares que teve importante participação na UVA. A obra já foi destaque no vestibular anterior.

   Mas, a curiosidade maior para mim entre os três autores é que Graciliano era amigo de Rachel e a escritora foi responsável por salvar “Angústia”, escrito em 1936, que Graciliano queria jogar no lixo. Enredo para uma outra conversa por conta do espaço. Alencar era neto da heroína Bárbara de Alencar e Bárbara também é quinta-avó de Rachel. Nestes três livros temos Rachel amiga de um e prima de outro. Salve Rachel!

(*) José Luís Lira é advogado e professor do curso de Direito da Universidade Vale do Acaraú–UVA, de Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito Constitucional pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora (Argentina) e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Messina (Itália). É Jornalista profissional. Historiador e memorialista com mais de vinte livros publicados. Pertence a diversas entidades científicas e culturais brasileiras.

 

2 comentários:

  1. Não há duvidas. Raquel de Queiros foi uma unanimidade brasileira. Na humildade, na cultura e no conhecimento.

    Com um mês de atraso chegava em Várzea-Alegre, na casa de assinante um exemplar da revista O Cruzeiros. Eu era menino e corria para lê a "Ultima Pagina". Nunca esqueci um texto sobre a solidariedade dos nordestinos.

    Sustentava o texto que dois empresários ricos viajavam de São Paulo aos estados Unidos sentados lado a lado e não trocavam uma palavra. Já o nordestino que descarregava a mudança no novo endereço era recebido pelo futuro vizinho com um bule de café e bolo de milho.



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  2. Sou um grande admirador de Rachel de Queiroz. Ela compreendeu e divulgou a alma nordestina.Era autêntica, inteligente,patriota, leal e sincera. Uma mulher ímpar!

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