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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Seminário São José de Crato completa 145 anos neste 2020

Breve histórico da construção do Seminário São José de Crato -- por Armando Lopes Rafael

Este ano, os alunos daquele educandário comemorarão a data no dia 7 de março próximo

   O Seminário São José de Crato foi fruto de um desejo de Dom Luís, com o objetivo de ampliar a divulgação da Boa Nova de Cristo e salvar almas, no território da sua vasta diocese, a qual, à época, compreendia todo o Estado do Ceará.  Para concretizar esse anelo, e depois de ter recebido sugestão nesse sentido, em 1871, do recém-ordenado Padre Cícero Romão Batista, Dom Luís encaminhou, em 1872, dois sacerdotes lazaristas – Padres Guilherme Van den Sandt (alemão) e José Joaquim de Sena Freitas (português nascido no arquipélago dos Açores) – para realizarem uma missão religiosa, em terras do Cariri cearense. Os dois missionários lazaristas ficaram encantados com o progresso da cidade de Crato e com o entusiasmo com que a população cratense acolheu as missões.

     Os dois padres receberam orientação para angariar doações visando à construção de um Seminário Diocesano em Crato. Depois disso Dom Luís Antônio enviou para Crato o padre italiano Lourenço Vicente Enrile, a fim de acompanhar a construção do vasto prédio, que seria erguido em grande terreno doado pelo coronel Antônio Luís Alves Pequeno, no aprazível subúrbio, à época conhecido como Grangeiro, hoje denominado bairro do Seminário. Logo faltaram os recursos para dar continuidade à construção. Então Dom Luís Antônio resolveu deslocar-se de Fortaleza para Crato, ficando ele próprio à frente dos trabalhos. Aqui chegou no dia 31 de dezembro de 1874.

       Esta foi a terceira e última visita que Dom Luís Antônio fez a Crato. Nesta cidade ele permaneceu por sete meses, pois só retornou a Fortaleza nos primeiros dias de agosto de 1875. Nesta sua permanência ele veio, exclusivamente, para acompanhar a construção do Seminário São José.

       Durante sua estada em Crato, foi-lhe preparada uma residência episcopal pelo seu grande amigo e compadre, coronel Antônio Luís Alves Pequeno, que arcou também com as despesas de cama e mesa de Dom Luís Antônio e sua comitiva. A residência ficava num sobrado localizado na esquina da atual Rua João Pessoa com Praça Juarez Távora. Como sempre, a população de Crato acolheu com festas, respeito e muita alegria o primeiro Bispo do Ceará. Pôs-se Dom Luiz à frente da construção, mas, dada a grandiosidade da obra, o Seminário São José foi inaugurado, em 07 de março de 1875, em barracões provisórios, feitos de taipa e cobertos de palha, enquanto a construção dos blocos de alvenaria tinha prosseguimento. O povo cratense apelidou os barracões de taipa de “seminarinho”. Este funcionou com salas-de-aulas, dormitório, refeitório, cozinha e uma pequena capela até o mês julho, quando foi concluído o lado sul do atual prédio do Seminário São José.

         Estava realizado o grande sonho de Dom Luís, dotar Crato do seu Seminário, que vem funcionado, com algumas interrupções nos primeiros anos, até os dias atuais. No início de agosto de 1875, Dom Luís Antônio retornou a Fortaleza para nunca mais voltar às terras caririenses. Em 1881, ele foi transferido para Salvador, como Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil, e lá permaneceu até 11 de março de 1891, data do seu falecimento. Foi sepultado na capela do Santíssimo Sacramento da Catedral de Salvador.

Pe. Lourenço Enrile, primeiro Reitor do Seminário São José
       
 Padre Enrile nasceu em Finalborgo, diocese de Savóia, na Itália em 28 de fevereiro de 1833. Ele chegou ao Cariri em 1875, para colocar em funcionamento o Seminário São José. Aqui viveu menos de dois anos, tempo suficiente para alcançar – junto à sociedade cratense – o conceito de um sacerdote digno, piedoso e exemplar.


Segundo o “Álbum do Seminário de Crato”, editado em 1925:

“Não se limitava a ação do primeiro reitor em guiar os destinos da casa, da posição em que o colocara o Sr. Bispo, mas entregava-se a todos os misteres. Desde a sala de aulas até a cozinha, sua atividade se desenvolvia a contento de todos os que habitavam o Seminário.

“Trabalhava sem tréguas, durante o dia, e, à noite quando todos dormiam, ainda vigiando, percorria o dormitório e mais compartimentos da casa, não deixando de consagrar algum tempo ao estudo.

“Os primeiros albores da madrugada, como determinavam as regras da Congregação, já o encontravam no cumprimento do dever.

“Padre Enrile era um modelo de sacerdote católico, que reunia aos vastos conhecimentos de que era possuidor uma piedade sólida, haurida em Paris na Casa Mãe dos Lazaristas. Manejava a língua portuguesa com rara facilidade, de modo que prendia a atenção de todos quando proferia seus memoráveis sermões. À capela do Seminário, em meio de grande massa popular, afluía, ainda, o que o Crato tinha de intelectual naquele tempo, para ouvir a palavra fácil e erudita do Padre Enrile.

“Em todos os misteres do sacerdócio, era o Padre Enrile exato e admirável. Edificava o povo, quando após os trabalhos do Seminário, saía em busca dos moribundos levando-lhes o pão dos anjos e o conforto de sua palavra cheia de unção”.

É ainda o “Álbum do Seminário de Crato” que informa:

“Quando do seu falecimento, a população em peso acorreu ao Seminário e de todos os olhos caiam lágrimas a fio, e todos os lábios ciciavam preces pelo repouso da alma do prateado morto”.

      Os veneráveis restos mortais do Padre Enrile encontram-se sepultados numa das colunas da capela do Seminário São José. Conforme o “Álbum do Seminário de Crato”: “Jamais se assistira (até aquela data) em Crato a enterro tão concorrido e a morte tão chorada” ...

Um comentário:

  1. Seminário do Crato, uma das maiores marcas da atuação da Diocese. Berço da cultura, fábrica de intelectuais.

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