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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 8 de agosto de 2022

André Rebouças, o engenheiro que queria dar terras aos libertos - Postagem do Antônio Morais.


André Rebouças nasceu na Bahia, em 1838, em uma família negra, livre, e incluída na sociedade imperial. Quando jovem, estudou engenharia e começou a trabalhar na área. Foi responsável por diversas obras de engenharia importantes no país, como a estrada de ferro que liga Curitiba ao porto de Paranaguá. Conquistou posição social e respeito na corte. A Avenida Rebouças, importante via em São Paulo, é uma homenagem a André e a seu irmão Antonio, também engenheiro.

Em uma das obras de que participou, outro engenheiro pediu que Rebouças libertasse o escravo Chico, que era operário e tinha sido responsável pelos trabalhos hidráulicos. "Foi quando sua atenção recaiu sobre o assunto", escreve Angela Alonso, também em Flores, Votos e Balas. Chico foi, então, libertado.

"Sou abolicionista de coração. Não me acusa a consciência ter deixado uma só ocasião de fazer propaganda para a abolição dos escravos, e espero em Deus não morrer sem ter dado ao meu país as mais exuberantes provas da minha dedicação à santa causa da emancipação", discursou certa vez Rebouças, na presença do imperador Pedro II.

André Rebouças era adepto de uma reforma agrária que concedesse terras para os ex-escravos.

Na década de 1870, Rebouças se engajou na campanha pelo fim da escravidão. Participou de diversas sociedades abolicionistas e acabou se tornando um dos principais articuladores do movimento. Um de seus papéis foi fazer lobby - uma ponte entre os abolicionistas da elite e as instituições políticas, para quem executava obras de engenharia.

As ideias de Rebouças incluíam não apenas o fim da escravidão. Ele propunha que os libertos tivessem acesso à terra e a direitos, para serem integrados, não marginalizados. "É preciso dar terra ao negro. A escravidão é um crime. O latifúndio é uma atrocidade. Não há comunismo na minha nacionalização do solo. É pura e simplesmente democracia rural", proclamou Rebouças.

O engenheiro também se opunha ao pagamento de indenização para os senhores de escravos em troca da liberdade - para Rebouças, isso seria uma forma de validar que uma pessoa fosse propriedade da outra.

Apoiador da monarquia e da família real brasileira, Rebouças foi ainda um dos responsáveis pela exaltação da Princesa Isabel como patrona da abolição.

5 comentários:

  1. A minha bisavó Isabel de Morais Rego, Neta de Papai Raimundo, nasceu em 1866 no dia em que o pai dela faleceu. Foi batizada pelo primeiro vigário de Várzea-Alegre de quem era afilhada Padre Benedito de Sousa Rego. Herdou do pai 12 escravos, e, logo mandou alforriá-los dando-lhes a liberdade e um pedaço de terra que denominavam "quinta" para cada um deles.

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  2. Nas papeladas encontradas junto as coisas de minha avó Josefa Alves de Morais encontramos uns recortes de jornais editados na Bahia à época com foto de uma negra e três filhas com os dizeres : "Vende-se uma escrava parideira com três filhas e a espera de outra". Estava escrito a mão : Meu Deus, que mundo é esse?

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  3. Morais:

    Parabéns pela postagem. Há um aspecto pouco divulgado sobre a personalidade de André Rebouças: a sua gratidão e lealdade. Ambas, consideradas as mais difíceis das virtudes que um ser humano pode possuir.

    Monarquista e possuindo vínculos muito estreitos com Dom Pedro II, André Rebouças acompanhou a família real em seu exílio ,após a Proclamação da República, em 1889, viajando no mesmo navio que levava a Família Imperial deportada pelos republicanos golpistas. André ficou morando em Lisboa, de onde colaborou com os jornais Gazeta de Portugal e The Times, de Londres.

    Em 1892, transferiu-se para Cannes, na França, a pedido de D. Pedro II, lá permanecendo até o falecimento do magnânimo imperador. Nesse mesmo ano, devido a problemas financeiros, aceitou trabalhar em Luanda, Angola. No entanto, pouco mais de um ano depois, mudou-se para Funchal, na Ilha da madeira, pertencente a Portugal.
    O exílio fez tremendo mal a André Rebouças. Deprimido, e com constantes problemas de saúde, em 09 de maio de 1898, André Rebouças atirou-se de um penhasco, próximo ao hotel em que vivia.

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  4. Prezado Armando - Esse seu comentário mostra o quanto esse ilustre cidadão era honrado, digno, justo e bom. Não conhecia essa parte, que apesar de trágico pode se entender como glória e virtudes do ser humano.

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  5. Excelente. Essas postagens que nos trazem informações sobre nossa gente e nossa são maravilhosas. Muito melhor do que postagens de cunho político.

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