Dedique todo o esforço de suas orações e fé pra não ser preciso se hospitalizar. Mas se tiver que, chegue consciente na UTI.
A primeira coisa que você deve fazer, antes de qualquer uma outra, é pedir para instalarem o “elmo” em você. Não espere que lhe ofereçam.
Grande parte dos profissionais que me atenderam, credita a esse bendito instrumento muito da minha recuperação.
A segunda, mas essencial, é compreender a ecologia da UTI, é saber quem é quem. São muitos os profissionais que revoluteiam em torno desse espaço.
Cedo descobri que o poder do médico na UTI assemelha-se ao do comandante de um aeroplano em voo. É maior do que a de um Ministro do STF.
Foi baseado nessa constatação que eu criei a “engenharia dos olhos”. Eu usava o “elmo” algo entre 14 e 18 horas por dia. Porque sabia que era necessário e porque o equipamento tornou-se “friendly” para mim. Isso ressecava bem os olhos, deixando-os ardentes.
Descobri que colocando gases sobre as pálpebras e derramando soro sobre elas, o alívio era imediato. Mandei fazer isso e quando me perguntaram quem tinha indicado, respondi apenas “o doutor”. O passo seguinte foi conseguir que a enfermeira trouxesse um colírio apenas para umedecer.
Comentário.
"Meu amigo, meu irmão, meu camarada, Você é forte, nossas orações também e Deus é mais".
Antônio Morais.
Todos são importantes numa UTI, mas é essencial que você tenha empatia com a técnica responsável pelo seu leito. É ela que vai matar sua cedo às duas da madrugada, ajustar o encosto da cama, ou lhe dar o banho diário e fazer sua higiene depois que você evacua (palavra bonita que criaram para dizer que você fez cocô).
Uma dica importante: se você quiser ficar menos tempo sujo, deixe para evacuar apenas cerca de meia hora depois que lhe disserem que vão lhe limpar. O tempo entre pegar as toalhas e lençóis e conseguir a colega para ajudar, geralmente é muito longo.
Outro registro: apesar de o hospital ter (quase) tudo que você precisa, é importante que você tenha seu próprio o que eu convencionei chamar de Kit UTI. Acho que no 4º ou 5º dia acordei na madrugada com a “boca pregada” por falta de higiene. Uma sensação muito ruim. A técnica do plantão conseguiu algo para que eu bochechasse.
O Kit UTI deve ter escova e dentifrício, sabão líquido, óleo hidratante, uma pomada de prevenção a assaduras, fraldas e um pacote de lenços úmidos.
A enfermeira como que coordena vários setores e por isso mesmo é “figurinha difícil “. Mas sempre atende sob demanda. Recorra à técnica se precisar da enfermeira.
Um dia, no início do seu estágio, vão abrir um acesso permanente na mão para colher a gasometria e sangue para exames (incontáveis exames). Dói. Junto com esse acesso, também fizeram um acesso central na jugular. Dói muito quando está sendo feito.
Não se engane com a voz doce da cirurgiã (lembrou-me a voz de Sandra Dee nos filmes do início dos anos 60). Cada vez que ela disser “picadinha”, espere muita dor.
Existe uma técnica de higiene bucal que duas vezes por semana (foi assim comigo) vem lhe ajudar. A que me atendeu, muito profissional e amigável, sempre deu preferência a utilizar o kit descartável do hospital.
Você certamente será acordado muitas vezes ao longo da madrugada para fazer Raio X do tórax. Nada complicado.
Se você tiver a sorte de adaptar-se bem ao “elmo”, vai precisar muito da fisioterapeuta.
Quando quiser botar (ou tirar) o “elmo”, não se peje de mandar recados por todos que entrarem no seu espaço. É muito improvável que a fisioterapeuta esteja apenas contando a última do filho para a amiga ou eventualmente falando do novo namorado. As demandas das UTIs são muito grandes. Ouvi num determinado momento que a Fisio de plantão estava atendendo a sete UTIs com pacientes com “elmo” e um entubado.
A nutricionista vem diariamente saber como está sua alimentação. Não é que a comida seja ruim, mas a carga de remédio cria um ambiente em que o que quer você ponha na boca, dá-nos ânsia de vômito. Passei literalmente 17 dias sem comer quase nada, com um intervalo de uns 4/5 dias em que descobri que suco de abacaxi entrava sem muito esforço. Passei esse período almoçando e jantando suco de abacaxi.
As pessoas vão insistir para que você coma o que elas trazem. Não concorde de pronto. Tente alternativas. Durante esses 17 dias eu jantei por duas vezes um potinho de sorvete. Elas não vão dizer que há a disponibilidade porque não é nutricionalmente aconselhável. Mas explore sua criatividade.
Finalmente, no 18º dia o médico informou-me que eu passaria para uma dieta semi pastosa. Obrigado, Senhor, pelo arrozinho quase papa e a carninha moída!
Queridos(as) amigos(as), façam tudo que estiver ao alcance, TUDO MESMO, para não se infectar. Se você tiver a sorte de sair com vida, mesmo assim tudo é muito penoso e dolorido.
Como a doença é praticamente desconhecida, o meu processo negou algumas lendas. Quando o sintoma inicia-se por uma desenteria incontrolável, a recuperação é mais fácil. Se o seu sangue é O- tudo é menos agressivo. Não são verdades. NÃO SE INFECTE!
At last but not least (essa é para vocês pensarem que eu sou poliglota), não sei como funciona a administração do Hospital da Unimed. Não sei se há uma superintendência, uma diretoria colegiada ou se cada setor tem sua independência funcional.
Estou saindo hoje da UTI, migrando para uma enfermaria. Independente da forma de gestão, se eu participasse da administração eu estaria orgulhoso.
A UNIMED SALVA VIDAS!!
Meu amigo, meu irmão, meu camarada. Você é forte, nossas orações também são e Deus é mais.
ResponderExcluirUm exemplo claro de quanto à doença é impactante. Ainda bem que o Dr. o Sérgio sai da UTI e, se Deus quiser, brevemente contará muitas estórias boas para nós.
ResponderExcluirMuito lindo, emocionante e esclarecedor esse seu depoimento, que serve de exemplo para nós que ainda não passamos por essa angustiante situação.
ResponderExcluirEsse seu alerta é mais um entre tantos outros que já ouvimos, e que vem, cada vez mais, ratificar que tudo isso vai muito além de uma "gripezinha". Assim, mantenhamos-nos vigilantes porque o momento exige.
Ontem, o Brasil bateu o recorde de mortes, em um só dia, com 1.726 óbitos pela covid. E dizem os especialistas que os piores dias ainda estão por vir, com a ressaca deixada pelas aglomerações de um Carnaval que sequer aconteceu.
Portanto, a lição que tiramos de tudo isso é que não vale a pena nos arriscarmos desnecessariamente, nem muito menos negligenciarmos as regras sanitárias frente a essa terrível pandemia. O momento é de cautela, e requer cuidados redobrados.
Infelizmente, às vezes temos que aprender na dor e no sofrimento.
Fico bastante feliz por vê-lo em plena recuperação, e se saindo dessa sem sequelas.
Que Deus o ilumine, e restabeleça a sua saúde o mais breve possível, para curtimos as coisas boas da vida.
Grande abraço.