Há um ano eu havia passado pelo Rio de Janeiro. Tinha uma reunião com Sua Eminência o Cardeal Orani Tempesta, fiz visita à Dama de Comenda Isis Penido, Lugar Tenente da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, assisti a uma peça de teatro, fui a uma consulta com o Dr. Luciano Negreiros. Aproveitei a viagem. Ouvia-se notícia da então, epidemia, da covid-19 no exterior, mas, não aqui. A Cidade estava linda, como sempre. No bairro em que costumo ficar, Catete, tudo transcorria normal.
Na volta para Fortaleza algumas poucas pessoas usavam máscaras dentro do avião ou no aeroporto. Passei em casa e vim para Sobral. Era início de semestre e recebi os alunos do primeiro período de Direito da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), na disciplina Introdução ao Estudo do Direito. Semana seguinte, dia 15, aconteceu o batizado de minha sobrinha Anne Eloísa, filha da Elisiane e do Robério. No outro dia, retornei a Sobral. As atividades no Museu Diocesano Dom José e as aulas, me chamaram.
Dia 17 começou a fechar tudo. Era iniciada essa “travessia”. Um ano depois, é primavera no velho mundo e chove nessa parte do novo mundo onde vivemos. Jardins floriram e murcharam. Pessoas nasceram e morreram... a vida foi seguindo. Novos hábitos se acoplaram às nossas vidas. O uso constante de máscaras; o álcool; os programas de TV com o repetido e desagradável assunto do aumento da epidemia que se tornou pandemia. Aulas remotas. Medo. Tivemos que nos isolar. Houve flexibilizações, mas, tudo volta pouco-a-pouco e temos a impressão de que estamos na estaca zero.
Lembro-me da primeira coluna que escrevi sobre o tema, citando o poema de Irene Vella, publicado, em francês, e que o apresentador português Rui Unas emprestou sua voz. O tempo então presente se tornava passado e parece que retorna ao presente neste 2021: “Era março de 2020... As ruas estavam vazias, as lojas fechadas, as pessoas não podiam sair. Mas a primavera não sabia... Os jovens tinham que estudar online e arranjar como se ocupar em casa, as pessoas não podiam ir mais aos centros comerciais nem tão pouco ao cabeleireiro. Dentro em breve não haveria mais vaga nos hospitais, e as pessoas continuavam a adoecer... As pessoas foram colocadas em confinamento, para proteger avós, famílias e crianças. Acabaram as reuniões e refeições em família. O medo tornou-se real e os dias eram todos iguais... As pessoas começaram a ler, a brincar com a família, a aprender nova língua. Cantavam nas varandas e convidavam os vizinhos a fazer o mesmo. As pessoas aprenderam uma língua nova, ser solidários e concentravam-se n'outros valores. As pessoas aperceberam-se da importância da saúde, do sofrimento, deste mundo que tinha parado, da economia que tinha tombado...”.
E a autora concluía: “Então chegou o dia da libertação. As pessoas ouviram na televisão: ‘ – O vírus perdeu!’. As pessoas saíram às ruas. Cantavam, choravam, abraçavam-se os vizinhos... sem máscaras, nem luvas... E então o verão chegou, porque, a primavera não sabia. Ela continuou lá, apesar de tudo, apesar do vírus, apesar do medo, apesar da morte... Porque a primavera não sabia... mas, ensinou às pessoas... o Poder da Vida”. A libertação ainda não chegou. Façamos nossa parte e confiemos no Altíssimo Deus para que voltemos à normalidade.
(*) José Luís Lira é advogado e professor do curso de Direito da Universidade Vale do Acaraú–UVA, de Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito Constitucional pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora (Argentina) e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Messina (Itália). É Jornalista profissional. Historiador e memorialista com mais de vinte livros publicados. Pertence a diversas entidades científicas e culturais brasileiras.
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