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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

107 - Dona Fideralina, Negros e Cabras - Por Antônio Morais


O Tatu, sítio de sua propriedade e sob o seu comando, apesar de apresentar uma paisagem peculiar, era semelhante a tantas outras da região, regularmente organizadas, com a casa-grande, a capela, o engenho, o açude e os casebres dos moradores, formando a central administrativa da atividade corriqueira do meio: a agropecuária. 

Entretanto, a referida capela, construção muito mais rara a época, nos sítios daquela zona, assim como a presença do negro, bem mais acentuada que nas demais propriedades, emprestavam ao Tatu um aspecto especial, configurando um latifúndio.

Em geral, nas conversações sobre Dona Fideralina, se lhe faz referência ao gosto ou costume de ter sempre muitos negros no Tatu. Esta particularidade da sua vida está comprovada, através so folclore poético da região. Velhas quadras populares, como estas:

Fazenda Tatu.

O Tatu pra criar negro,

Sobradim pra criação,

São Francisco pra fuxico,

Calabaço pra algodão,

Caraíba é prata fina,

Suçuarana, ouro em pó,

Xiquexique, mala veia

E o Tatu é negro só.

Cercado de negros e cabras as suas ordens, numa propriedade de ares latifundiários, detendo o poder supremo no seu município e influindo na política do Ceará, Dona Fideralina, descendente e ascendente de líderes políticos de reconhecido prestígio, transformou-se em símbolo do mandonismo sertanejo, numa das figuras de prol da história do coronelismo nordestino. 

Essencialmente vocacionada para o mister político, dotada de superior capacidade de liderança e dominação, forte, autoritária e brava, não seria de estranhar que sua influência extrapolasse, como de fato extrapolou, as fronteiras do seu reduto e se fizesse exercer sobre a região e o Estado.

Essa abrangente ascendência de mandona de Lavras da Mangabeira não poderia deixar de ser evidenciada, como seus negros e cabras, pela inspiração dos bardos sertanejos, intérpretes fiéis do pensamento do povo, como no caso desta sextilha, atribuída ao repentista Zé Pinto – José Pinto de Sá Barreto:

O Belém manda no Crato,

Padre Ciço no Juazeiro,

em Missão Velha Antônio Rosa,

Barbalha é Neco Ribeiro,

Das Lavras Fideralina

Quer mandar no mundo inteiro.

Extraído do livro – Ensaios e Perfis – Joaryvar Macedo.

5 comentários:

  1. É sabido que Lampião fez muitas estripulias e escaramuças por esse nordeste. Mas, fugiu com medo dos cabras de Dona Fideralina.

    De passagem por Barro, Antônio Silvino versificou : Lampião bem que te disse, que deixasse de asneiras, que passasse bem longe, de Lavras da mangabeira.

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  2. Tem de familia q sofria, esses povos tinha os seus moradores como escravo .

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  3. Se fosse hg essa mulher tinha q indenizar todos os moradores do cazebre q ela tinha como escracos.

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  4. Graças a Deus 🙌🏽🙏🏽 que acabou ( é o que se espera ) em tempo algum deveria ou deve existir absurdos ! O ser humano tem por dever e honra respeitar e se conduzir como tal !!!!!

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  5. Não se ler fatos da história do passado com o olhar no presente. Precisamos entender que a economia, a sociedade e os costumes eram outros. Claro que nos dias de hoje não caberia mais. O que ressalta na história era ela ser uma mulher e ter feito coisas próprias do sexo masculina. Não era só ela que tinha escravos eram todos os latifundiários brasileiros. Nos registros de batismo da Paróquia de Lavras existiam muitos proprietários de escravos. Inclusive o bisavô de Joaryvar Macedo de quem ele herdou o nome.

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