Texto do Dr. Norberto Batista Rolim.
ROTINA HORÁRIA DE V. ALEGRE NUMA SEXTA FEIRA QUALQUER DO ANO DE 1954 - Por Norberto Batista Rolim.
04:00 Horas:
Encontro de Zé Peru e Pedro Tonheiro no café de Mariinha, para atualizar os fatos do dia anterior.
05:00 Horas:
Passava João do Leite balançando um chocalho para atrair a clientela.
06:00 Horas:
A meninada ia para a padaria para comprar o pão nosso de cada dia e na volta assitiam a partida do misto para o Crato.
07:00 Horas:
Passava Zé Belo com dois pesos de carne de gado, pendurado numa palha de carnaúba. Um era para o Padre Otávio e o outro para o Sr. Josué Diniz.
Nesse mesmo horário abria o comércio, com muitos vendedores e nenhum freguês. Os alunos do Grupo Escolar José Correia Lima desciam no beco de Gobira e encontravam o preto benedito, com uma lata para recolher lixo nos quintais das casas. Gritavam em coro:
Benedito sai da lata!
Benedito respondia:
Eu já tou no pote!
08:00 Horas:
Pasava Antônia dos filhóis vendendo seu produto a cinco tostões.
09:00 Horas:
Passava Soarim com um pau de galinhas, mas só vendia fiado a meu pai e ao português Sr. Ferreira.
10:00 Horas:
Aquele horário era escolhido por Sá Maria para desfilar nas calçadas da Major Joaquim alves, conduzindo uma trouxa de pedras dizendo que uma delas era a pedra de Clarianã. Todo dia um vendedor de uma loja de tecidos pegava o metro e futucava a trouxa. Em resposta ela dizia:
Sai bicho! Tu pensa que eu não sei quem é teu Pai? Ele tem chifre até nos pés que nem galo.
11:00 Horas:
A cidade ficava vazia porque todo mundo almoçava naquele horário.
12:00 Horas:
Encontro dos empregados do comércio debaixo do pé de algodão da avenida velha.
13:00 Horas:
Abria o comércio na mesma situação anterior, muitos empregados e poucos fregueses.
14,00 Horas:
Passava Santana vendendo o alfinim a dois tostões o enroladinho.
15:00 Horas:
Passava Dunga vendendo pão doce.
16:00 Horas:
Acontecia o treino de futebol no campo dos Patos.
17:00 Horas:
Fechava o comércio a cidade ficava vazia novamente porque era hora do jantar.
18:00 Horas:
A meninada assitia a chegada do misto do Crato.
19:00 Horas:
Os rapazes e as moças iam para a avenida velha ou para a porta do cinema de Leó, para flertarem.
20;00 Horas:
Todas as crianças eram recolhidas para rezarem e dormirem.
21:00 Horas:
Hora de recolher as cadeiras das calçadas, e colocar a chave debaixo da porta para os que chegavam depois poderem entrar sem acordar ninguém.
22;00 Horas:
Zé Saldanha apagava as luzes três vezes durante quinze minutos para que todos podessem chegar as suas casas com iluminação.Depois desse horário se não tivesse um samba ou uma sentinela, só quem ficava na rua era o guarda noturno, Jesus fotógrafo e João Tonheiro.
Várzea Alegre dormia nos braços da paz, agradecendo a São Raimundo por aquela tranquilidade.
E São Raimundo lá da sua torre dizia:
BOA NOITE, VÁRZEA ALEGRE.
Já passei dos setentanos. Dezessete vividos em Várzea-Alegre. A outra parte no Crato. Portanto sou mais cratense do que varzealegrense. Vivi toda essa rotina escrita por Dr. Rolim. Conheci toda esse gente. Admirável o relato e a coletânea de personagens.
ResponderExcluirE, permita-me informar que nessa rotina, as 11 horas da manhã, Chichica do Rato passava por mim na rua Major Joaquim Alves com um relógio extravagante no pulso, eu disse : Chichica que relógio mais bonito? Que horas são? Ela deu uma cubada no relógio e respondeu : Vije seu Morais, já é bem dez, se num já for onze ou doze. Parabéns pelas resenhas da sua postagem, ela merece o meu aplauso com distinção e louvor.
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