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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 21 de junho de 2020

Capitão perde seu melhor papel: culpar os outros - Por Josias de Souza

A teatralidade radical de Jair Bolsonaro começou a perder o nexo na manhã da última quinta-feira. A prisão do amigo Fabrício Queiroz num imóvel pertencente ao advogado da família Bolsonaro expôs o capitão a um revés que lhe sonega o papel que melhor desempenha. 

Pela primeira vez, não pode culpar os outros a menos que queira apertar o nó que adorna o pescoço do primogênito Flávio.

A conjuntura impôs a Bolsonaro uma encenação para a qual ele não estava ensaiado. Ficou momentaneamente proibido de ser o brigão que aprecia. Obrigou-se a parecer o conciliador que nunca foi. Na quinta-feira, horas depois da cana de Queiroz, serviu na bandeja aos "vagabundos" do Supremo a cabeça de Abraham Weintraub, o mastim ideológico que mantinha na pasta da Educação.

Na sexta, Bolsonaro enviou ao apartamento do desafeto Alexandre de Moraes, em São Paulo, uma missão de paz composta de três membros do seu staff jurídico: os ministros André Mendonça (Justiça) e Jorge Oliveira (Secretaria-Geral), e o advogado-geral da União José Levi Mello do Amaral Júnior.

Suprema ironia: apenas 48 horas antes, Bolsonaro ainda estava sob a influência dos auxiliares que aguçam os seus maus bofes, reivindicando o sangue dos rivais. Ralhava com o mesmo Alexandre de Moraes, que jogara o peso de sua caneta de ministro do Supremo em despachos que enviaram os rapazes da Polícia Federal a 21 endereços de bolsonaristas e invadiram as contas bancárias de 11 parlamentares governistas.

"Estão abusando. Isso está a olhos vistos", dissera o Bolsonaro irascível de sexta-feira. "Está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar". Os próximos lances de Bolsonaro serão complicados. A maneira como o capitão lidará com as adversidades haverá de marcar a história do seu governo. Além do enrosco chamado Queiroz, há os três inquéritos que correm no Supremo.

Num dos inquéritos, apura-se a denúncia de Sergio Moro de que Bolsonaro tramou a conversão da Polícia Federal num aparato político. Noutros dois, investiga-se a indústria de notícias falsas e de ódio antidemocrático que o bolsonarismo mantém nas redes sociais e nas manifestações de rua.

No momento, pode parecer exagerada a afirmação de que o governo Bolsonaro flerta com o impedimento ou a cassação. Mas com o número de infectados do coronavírus ultrapassando a casa de 1 milhão de pessoas e a pilha de mortos ainda na ascendente, o brasileiro tem dificuldade de enxergar a serventia de um presidente que arrasta na conjuntura a bola de ferro de um amigo tóxico e uma agenda penal.

As palavras que Bolsonaro jogou ao vento premonitórias. Está mesmo "chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar."

Um comentário:

  1. Quem por ventura ainda acredita no Bolsonaro? Quem ainda é capaz de dá um crédito de meia pataca furada na palavra de Bolsonaro? Um homem que brigou e humilhou da forma mais covarde e vil as mais importantes figuras que trouxe para o seu entorno. Um homem que desprezou uma população inteira e deixou entregue a uma pandemia de um vírus cruel. Que debocha dos mortos e desdenha dos familiares. Capaz de cometer crimes para acobertar milicianos criminosos amigos e ligados aos filhos. A sorte do Brasil é que o Bolsonaro se enganou. Ele pensava que as forças armadas iam entrar na sua insana vontade, no seu insano desejo de se tornar ditador. Nisso ele quebrou a cara.

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