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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 5 de abril de 2020

O TELEFONE E O ENCONTRO COM O OUTRO - Por Wilton Bezerra

A vida é o encontro com o outro, apesar dos muitos desencontros por aí, já dizia Vinicius de Morais.
O encontro é pessoal; impessoal é o desencontro.
Em tempo de virtualidades, o poeta Carpinejar alerta para a necessidade de se revitalizar a pessoalidade.
Por conta de um vírus assassino, tudo isso fica para depois. Não tem encontro com o outro. O mundo físico vira uma miragem e um “até logo” ao abraço.
O poeta Quintana é quem definiu: “O abraço é dizer com as mãos o que a boca não consegue”.
Parece até que o mundo parou suas atividades, nos condenando a uma “prisão domiciliar”, só faltando uma tornozeleira eletrônica imaginária.
Para falar a verdade, as coisas já estavam esquisitas. Nos termos de um relacionamento virtual que alijava até os papos do telefonema.
Entre as pessoas, já prevalecia uma coisa rápida e burocrática, como se uma conversa dos tempos do telefone fixo fosse algo reprovável e aborrecido.

“Pode falar”?
“Posso, mas deixa o recado no zap, que depois eu te ligo”.
Um relacionamento de redes sociais, WhatsApp, Twitter, tela e teclado, com pessoas que nunca vamos conhecer.
Mas, enquanto o relacionamento físico não é reatado, continuamos forçados ao virtual.
A filósofa Amélia Valcarcel admite que, no momento crucial que atravessamos, as pessoas voltaram a descobrir o telefone e estão felizes, falando sem parar.
Esse me parece o dado mais importante nessa prosa, num momento de turbulência que nos leva a recuperar os telefonemas.
E pensar que o primeiro telefone fixo que adquiri me custou uma pequena fortuna.
Era tempo em que Antonio Carlos Magalhães, “O Toninho Malvadeza”, mandava na Comunicação do Brasil.

Um comentário:

  1. Eu sou do tempo que no Crato não tinha linhas telefônicas disponíveis. Conheci um cidadão que tinha 12 linhas e eram alugadas como se alugava uma casa. Eu era gerente de um banco na cidade e chegamos a alugar duas linhas dele. Com a privatização do sistema hoje cada habitante tem um telefone com duas, três ou mais linhas.


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