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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 28 de julho de 2019

Lembrando Dr. Marchet Callou – por Armando Lopes Rafael


   No último dia 19 completaram-se doze anos do falecimento do Dr.  Marchet Callou. Quem o conheceu, pode dizer que ainda vivenciou o estilo aristocrático de Barbalha, o qual vigorou até a década 70 do século passado. Hoje, no Cariri, tudo é diferente! Tudo é material... A elite só fala em investimentos, dinheiro, progresso e globalização...

    Antônio Marchet Callou, pernambucano de Parnamirim, nascido na antiga Leopoldina (Marchet nunca se conformou quando as autoridades republicanas substituíram, – sem consultar o povo – o nome da sua cidade de  “Imperatriz Leopoldina”, para o vulgar “Parnamirim”) nasceu em 17 de novembro de 1907 e faleceu, em Barbalha, em 19 de julho de 2007, próximo de completar 100 anos de existência.

   Formou-se em Odontologia, em 1937, na Faculdade de Medicina (e cursos anexos) de Recife (PE). Em seguida fixou-se na Barbalha de Santo Antônio, onde exerceu sua profissão até o final da sua longa vida. Naquela cidade casou-se com Maria Elbe de Sá Barreto Callou, com quem teve oito filhos. Marchet foi, paralelamente ao exercício de odontólogo, um bom professor de história e geografia; era reconhecido como historiador e poeta. Foi membro de várias associações literárias, dentre elas o Instituto Cultural do Vale Caririense e a Academia Cearense de Odontologia. Participou de vários movimentos sociais em prol da melhoria do Cariri cearense.

      Algumas particularidades de Marchet: ele chegou a Barbalha em 1937, mesmo ano do nascimento de sua esposa, Maria Elbe. Casou-se com ela depois de ter completado 50 anos de idade. Até no físico Marchet era um nobre! Alvo, louro de olhos azuis, detinha sempre uma postura serena. Seus gestos eram lhanos, e a bondade transparecia no seu rosto. Tornou-se um defensor da restauração da monarquia, no Brasil, ainda na juventude, quando estudava em Recife. Foi o mais autêntico monarquista do Cariri! E se ufanava das suas convicções ideológicas, sem nunca ter se atritado com ninguém por causa delas.

      Era intelectual de mão cheia e um católico fervoroso. Seu primeiro livro de poesias (“À Sombra da Baraúna”) só veio à lume em 1987. Depois disso, publicou mais três obras poéticas.

        Muito poderíamos falar sobre as virtudes do Dr. Antônio Marchet Callou! Ele foi um defensor nato da natureza, um esposo e pai amoroso, um amigo leal, um cidadão exemplar em todos os aspectos. Doze anos depois de falecido, sua história de vida – bonita e edificante – ainda é lembrada na antiga “Terra dos Verdes Canaviais”. Naquela urbe, à entrada da cidade., existia num muro uma frase pintada que dizia: “Alto Lá senhores protestantes, Barbalha de Santo Antônio já foi evangelizada”. Há quem atribua a iniciativa dessa frase ao Dr. Marchet Callou...

3 comentários:

  1. Familia de intelectuais - Dr. Antônio Marchet, Dr. Gregório Callou e tantos outros que enobreceram Barbalha com seu trabalho.

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  2. Contam que certo dia chegou à casa do Dr.Marchet um homem da roça que veio presentear-lhe com um tatu.
    Dr.Marchet gratificou o homem e perguntou o local onde ele havia capturado o tatu. Quando o homem saiu, Marchet alugou um carro, botou o tatu dentro e viajou cerca de 50 kms.
    No local que o tatu havia sido capturado, Marchet desceu, devolveu o bicho à natureza, mas avisou:
    -- Deixe de ser besta e não deixe mais ninguém lhe caçar...
    Era assim Marchet Callou.

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  3. Dr.Marchet - ao lado de um coração boníssimo - possuía muita presença de espírito. Quando os evangélicos de Juazeiro foram pregar nas ruas de Barbalha, na década 40 do século passado, -- e foram expulsos pela população -- pediram a proteção da polícia e voltaram no dia seguinte.
    Dr. Marchet ia passando quando viu o retorno dos "crentes". Parou e respeitosamente disse ao pastor norte-americano:
    -- Meu amigo, eu não entendo muito de Bíblia, mas o que é que diz o Evangelho de Mateus, capítulo 10 versículo 14?
    O pastor procurou a página e repetiu a Dr. Marchet:
    -- "Então Jesus disse: Porém, se não vos receberem bem , sacudi o pó das vossas sandálias e se retirem não mais voltando aquele lugar"...
    Dr.Marchet riu e finalizou:
    -- Então cumpram a vontade de Jesus...

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