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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 20 de julho de 2019

Padre Cícero, 85 anos depois! – por José Luís Lira (*)



    Há exatos 85 anos, em Juazeiro do Norte, aos 90 anos falecia o santo dos sertanejos, Padre Cícero Romão Batista. Quase cego. Proibido de celebrar ou de falar do milagre que presenciou. Obediente. Semana passada, falei sobre o Padre Cícero. O tema é inesgotável e eu lembrava leitura que havia concluído: “Padre Cícero: Santo dos Pobres, Santo da Igreja”, de Ir. Annette Dumoulin, Edições Paulinas, 2017, livro divido em três partes.


   A primeira, o Padre Cícero do ponto de vista da autora, religiosa, doutora em Ciências da Educação, nascida na Bélgica que um dia chegou a Recife, encontrou com outro santo, Dom Helder, que lhe indicara ir a Juazeiro e ali ela se encontrou com o santo Cícero Romão e sua legião de romeiros. Na segunda parte, o Padre Cícero por ele mesmo, quando a autora habilmente transforma uma carta do Padre Cícero, num diálogo com um casal de romeiros, bem esclarecedor e edificante. Na última, Padre Cícero no ponto de vista do Papa Francisco, lemos a tão esperada reconciliação da Igreja com o Padre Cícero, pois, ele nunca se afastou da Igreja, sempre a amou e obedeceu, mesmo quando a injustiça lhe doía no físico e na alma.

   O livro de Irmã Annette tem informações muito peculiares. E se aqui na terra temos amigos, penso que no céu também as amizades seguem. Todos os biógrafos do Padre Cícero falam da influência que o Padre Ibiapina (José Antonio Maria Pereira Ibiapina, advogado, professor universitário, padre, missionário e santo sobralense), exerceu sobre o Padre Cícero e vemos uma semelhança a mais entre os dois. Um dia, Padre Ibiapina foi proibido de visitar sua terra, Sobral, por um bispo da então Diocese do Ceará, depois, foi obrigado a deixar sua obra missionária no Cariri e o Padre-Mestre Ibiapina tudo deixou, em silêncio, deixando apenas um texto. Padre Cícero foi impedido de celebrar no povo que ele transformou em cidade. Sofreu, mas, nada reclamou. Buscou justiça, mas, esta só tem se apontado post-mortem.

    Outro exemplo é o de Dom Helder que sugere à autora, jovem religiosa doutora, belga a conhecer o Juazeiro. Na maturidade, eles se reencontram em Juazeiro e o Bispo Helder Câmara mostra-lhe mais um sinal da santidade do Pe. Cícero. Conta ele que jovem seminarista foi a Juazeiro vender assinatura de um jornal da Igreja que muitas vezes criticava o Padre Cícero. Não vendendo uma assinatura, este assina e recomenda que o povo assine. E o Servo de Deus Helder Câmara sai de Juazeiro com uma caderneta de assinaturas. São atitudes de santidade.

   Neste 20 de julho, lembramos também o dia do amigo, da amizade. O Padre Cícero se dirigia a todos como amiguinhos, “amiguinho”. E a data da entrada de Padre Cícero na pátria celeste, 20, é antecedida e precedida de eventos marcantes na vida do santo de Juazeiro: 21/07/1891 é a data da nomeação da primeira comissão para analisar os fatos ocorridos em Juazeiro, em 01/03/1889; o dia 22/07/1911 foi a criação do Município de Juazeiro, do qual Pe. Cícero foi o primeiro prefeito (único cargo político que ele exerceu); em 22/07/1914, ele foi eleito 1º vice-presidente do Estado do Ceará, mas, não assume nem reivindica o cargo. A 20 de julho de 1934, ele faleceu em sua casa, cercado pelos que o amavam e admiravam. Suas ultimas palavras, conforme Ir. Annette, foram: “No Céu, rezarei para cada um de vocês”.
A bênção, meu Padim!

 (*) José Luís Lira é advogado e professor do curso de Direito da Universidade Vale do Acaraú–UVA, de Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito Constitucional pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora (Argentina) e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Messina (Itália). É Jornalista profissional. Historiador e memorialista com mais de vinte livros publicados. Pertence a diversas entidades científicas e culturais brasileiras.

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