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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 12 de agosto de 2020

2 - Sacerdotes católicos que ficaram no imaginário popular do Cariri

Monsenhor Joviniano Barreto – O Mártir do Dever


   O ano de 1950 começou promissor para Juazeiro do Norte. A comunidade católica daquela cidade preparava-se para comemorar – no mês de março – os 15 anos do profícuo paroquiado de Monsenhor Joviniano Barreto. Este, por sua vez, após ajudar na instalação da Congregação Salesiana em Juazeiro do Norte, aguardava o dia 6 de janeiro com certa ansiedade. Era a data marcada para o lançamento da pedra fundamental do convento e seminário dos frades franciscanos capuchinhos, recém chegados àquela cidade, após pacientes negociações feitas entre o Bispo de Crato, Dom Francisco – com decisiva participação do Monsenhor Joviniano Barreto – e a Província Regional Franciscana.

     A quase totalidade da população ordeira e humilde de Juazeiro do Norte professava a religião católica. Mas, como ocorre em toda cidade em fase de grande crescimento, Juazeiro abrigava alguns portadores de esquizofrenias. Um deles, Manoel Pedro da Silva, natural de Açu, Rio Grande do Norte, vinha, nos últimos meses, insistindo (junto a Monsenhor Joviniano) para que o vigário o casasse com uma senhora já casada. Em vão o sacerdote explicou ao esquizofrênico que a Igreja Católica proibia a realização desse matrimônio.

     Consta que, por algumas vezes – por vingança ante a recusa do sacerdote em realizar o ilegal casamento – Manoel Pedro procurou assassinar Monsenhor Joviniano. Uma dessas ocasiões durante a Missa de Natal de 1949. E só não foi concretizada, porque, na hora planejada para o delito, faltou coragem a Manoel Pedro para praticar o homicídio.
Entretanto, no início da fatídica noite de 6 de janeiro de 1950, após a solenidade de lançamento da pedra fundamental do convento dos capuchinhos, Manoel Pedro veio na direção de Monsenhor Joviniano e lhe desferiu profunda facada no coração, matando-o na hora. A pedra fundamental do convento dos capuchinhos foi, assim, regada pelo sangue desse servo bom e fiel, um verdadeiro “Mártir do Dever”.

     Monsenhor Joviniano Barreto nasceu no município de Tauá, no Sertão dos Inhamuns, em 05 de maio de 1889. Oriundo de família com sólida formação católica, ele era afilhado de crisma do segundo bispo do Ceará, Dom Joaquim José Vieira.
Estudou no Seminário da Prainha, em Fortaleza, onde recebeu ordenação sacerdotal em 22 de dezembro de 1911, aos 22 anos. Enquanto aguardava a idade canônica para receber a ordem do presbiterato lecionou naquele Seminário, entre 1908 e 1909 e no Colégio São José de Crato, entre 1910 e 1911.

     A criação da Diocese de Crato veio encontrar o já então Padre Joviniano Barreto como vigário-cooperador de Lavras da Mangabeira. Posteriormente, ele foi Cura da Catedral de Crato, Secretário do Bispado, professor e reitor do Seminário Diocesano São José, vice-presidente do Banco do Cariri (pertencente à diocese) e diretor do Ginásio, posteriormente denominado (até sua extinção em 2020) de “Colégio Diocesano de Crato”.

     Segundo o escritor Mário Bem Filho: “Na administração episcopal de Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, primeiro bispo de Crato, Monsenhor Joviniano Barreto era o padre de maior projeção da diocese. Homem apostólico, dedicado, trabalhador, inteligente e culto. Tinha um caráter forte e uma personalidade marcante. Contava com a amizade e estima de todo o clero diocesano. Impôs-se pela bondade. No governo do segundo bispo, Dom Francisco de Assis Pires, Monsenhor Joviniano era depositário de toda a confiança do pastor diocesano que o tinha como conselheiro. Dom Francisco mandava-o chamar frequentemente, ao Palácio Episcopal, para ouvi-lo”.

     Com a morte de Monsenhor Esmeraldo, vigário de Juazeiro do Norte, ocorrida em outubro de 1934, aquela paróquia ficou novamente vaga e o Bispo de Crato encontrava dificuldades (junto aos seus padres) para que um deles assumisse aquela jurisdição paroquial. Um grupo de senhoras de Juazeiro do Norte veio, certa vez, ao Seminário São José, em Crato, pedir a Monsenhor Joviniano para aceitar a missão de pastor dos juazeirenses. Ele respondeu negativamente ao pedido. Dias depois, sem que ninguém soubesse o motivo da mudança, Monsenhor Joviniano procurou Dom Francisco e disse que aceitava a nomeação para Vigário de Juazeiro do Norte, uma função que representava, àquela época, um grande desafio.

      Assumiu a Paróquia de Nossa Senhora das Dores em 26 de março de 1935. Durante 15 anos reorganizou a vida paroquial. Dinamizou as associações religiosas. Reformou totalmente a igreja-matriz – hoje Basílica Menor – deixando-a com o aspecto como está hoje. Ajudou na evolução social da Terra do Padre Cícero, participando de todas as iniciativas que representavam progresso para Juazeiro do Norte. Foi professor da Escola Normal Rural e concluiu sua profícua missão pastoral em 6 de janeiro de 1950, quando foi assassinado por um débil mental, passando à história como “O Mártir do Dever”.

Texto e postagem de Armando Lopes Rafael

Um comentário:

  1. Os religiosos do passado marcaram a história da região e diocese pelo legado de trabalho e exemplos deixados.


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