Monsenhor Joviniano Barreto – O Mártir do Dever
O ano
de 1950 começou promissor para Juazeiro do Norte. A comunidade católica
daquela cidade preparava-se para comemorar – no mês de março – os 15
anos do profícuo paroquiado de Monsenhor Joviniano Barreto. Este, por
sua vez, após ajudar na instalação da Congregação Salesiana em Juazeiro
do Norte, aguardava o dia 6 de janeiro com certa ansiedade. Era a data
marcada para o lançamento da pedra fundamental do convento e seminário
dos frades franciscanos capuchinhos, recém chegados àquela cidade, após
pacientes negociações feitas entre o Bispo de Crato, Dom Francisco – com
decisiva participação do Monsenhor Joviniano Barreto – e a Província
Regional Franciscana.
A quase totalidade da população ordeira e humilde de Juazeiro do Norte
professava a religião católica. Mas, como ocorre em toda cidade em fase
de grande crescimento, Juazeiro abrigava alguns portadores de
esquizofrenias. Um deles, Manoel Pedro da Silva, natural de Açu, Rio
Grande do Norte, vinha, nos últimos meses, insistindo (junto a Monsenhor
Joviniano) para que o vigário o casasse com uma senhora já casada. Em
vão o sacerdote explicou ao esquizofrênico que a Igreja Católica proibia
a realização desse matrimônio.
Consta que, por algumas vezes – por vingança ante a recusa do sacerdote
em realizar o ilegal casamento – Manoel Pedro procurou assassinar
Monsenhor Joviniano. Uma dessas ocasiões durante a Missa de Natal de
1949. E só não foi concretizada, porque, na hora planejada para o
delito, faltou coragem a Manoel Pedro para praticar o homicídio.
Entretanto,
no início da fatídica noite de 6 de janeiro de 1950, após a solenidade
de lançamento da pedra fundamental do convento dos capuchinhos, Manoel
Pedro veio na direção de Monsenhor Joviniano e lhe desferiu profunda
facada no coração, matando-o na hora. A pedra fundamental do convento
dos capuchinhos foi, assim, regada pelo sangue desse servo bom e fiel,
um verdadeiro “Mártir do Dever”.
Monsenhor Joviniano Barreto nasceu no município de Tauá, no Sertão dos
Inhamuns, em 05 de maio de 1889. Oriundo de família com sólida formação
católica, ele era afilhado de crisma do segundo bispo do Ceará, Dom
Joaquim José Vieira.
Estudou
no Seminário da Prainha, em Fortaleza, onde recebeu ordenação
sacerdotal em 22 de dezembro de 1911, aos 22 anos. Enquanto aguardava a
idade canônica para receber a ordem do presbiterato lecionou naquele
Seminário, entre 1908 e 1909 e no Colégio São José de Crato, entre 1910 e
1911.
A criação da Diocese de Crato veio encontrar o já então Padre Joviniano
Barreto como vigário-cooperador de Lavras da Mangabeira.
Posteriormente, ele foi Cura da Catedral de Crato, Secretário do
Bispado, professor e reitor do Seminário Diocesano São José,
vice-presidente do Banco do Cariri (pertencente à diocese) e diretor do
Ginásio, posteriormente denominado (até sua extinção em 2020) de
“Colégio Diocesano de Crato”.
Segundo o escritor Mário Bem Filho: “Na administração episcopal de Dom
Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, primeiro bispo de Crato,
Monsenhor Joviniano Barreto era o padre de maior projeção da diocese.
Homem apostólico, dedicado, trabalhador, inteligente e culto. Tinha um
caráter forte e uma personalidade marcante. Contava com a amizade e
estima de todo o clero diocesano. Impôs-se pela bondade. No governo do
segundo bispo, Dom Francisco de Assis Pires, Monsenhor Joviniano era
depositário de toda a confiança do pastor diocesano que o tinha como
conselheiro. Dom Francisco mandava-o chamar frequentemente, ao Palácio
Episcopal, para ouvi-lo”.
Com a morte de Monsenhor Esmeraldo, vigário de Juazeiro do Norte,
ocorrida em outubro de 1934, aquela paróquia ficou novamente vaga e o
Bispo de Crato encontrava dificuldades (junto aos seus padres) para que
um deles assumisse aquela jurisdição paroquial. Um grupo de senhoras de
Juazeiro do Norte veio, certa vez, ao Seminário São José, em Crato,
pedir a Monsenhor Joviniano para aceitar a missão de pastor dos
juazeirenses. Ele respondeu negativamente ao pedido. Dias depois, sem
que ninguém soubesse o motivo da mudança, Monsenhor Joviniano procurou
Dom Francisco e disse que aceitava a nomeação para Vigário de Juazeiro
do Norte, uma função que representava, àquela época, um grande desafio.
Assumiu a Paróquia de Nossa Senhora das Dores em 26 de março de 1935.
Durante 15 anos reorganizou a vida paroquial. Dinamizou as associações
religiosas. Reformou totalmente a igreja-matriz – hoje Basílica Menor –
deixando-a com o aspecto como está hoje. Ajudou na evolução social da
Terra do Padre Cícero, participando de todas as iniciativas que
representavam progresso para Juazeiro do Norte. Foi professor da Escola
Normal Rural e concluiu sua profícua missão pastoral em 6 de janeiro de
1950, quando foi assassinado por um débil mental, passando à história
como “O Mártir do Dever”.
Texto e postagem de Armando Lopes Rafael
Os religiosos do passado marcaram a história da região e diocese pelo legado de trabalho e exemplos deixados.
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