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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 6 de julho de 2021

SEMPRE TIVE PREGUIÇA DE GANHAR DINHEIRO. MAS ISSO NÃO É DEFEITO - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.

 

O homem é o nada, antes de nascer, e o nada que se segue, após a sua morte.

Teses sustentadas como essa nos fazem meditar, com um pouco de angústia, sobre a nossa existência no último terço de campo que nos resta.

Ao refletir sobre o absurdo da vida, o que fazer senão seguir em frente, fingindo um sentido para tudo que nos rodeia?

O que passou não pode ser modificado. Portanto, passemos a boiada, priorizando a fruição.

Até aqui quase tudo tem dado certo. Mas é preciso ficar atento e forte para não morrer na praia ou entregar o jogo no terceiro tempo.

Mas, sabem, no critério de pontos corridos, adotado para o campeonato da vida, me ocorre um fato (uma receita) que funciona como uma garantia de equilíbrio para o cumprimento de tabela: viver com pouco e não ser subjugado pela força totalitária do dinheiro.

Acreditamos que a felicidade é que traz o dinheiro.

Como ensinou, em seus sermões, o Padre português  Antonio Vieira: “Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem”.

Confesso que sempre tive preguiça de ganhar dinheiro, o que é considerado, por quem detém um dinheirinho a mais, como um grande defeito: a falta de ambição.

Nunca me considerei defeituoso por isso e minha caminhada foi um treinamento contínuo para viver com o essencial.

Mesmo porque as nossas deficiências não nos definem. Elas fazem parte de nós.

Os desejos monetários foram sempre sendo substituídos por outros alimentos.

Ficar à mesa com os amigos (a mesa é a ribalta da amizade), lugar onde revelamos tudo aquilo que transita entre o coração e a alma, manter a família por perto e trabalhar pouco.

Adoro não ter o que fazer, mas não imagino, daqui por diante, viver como na Grécia antiga, onde poucos trabalhavam e muitos se dedicavam à leitura e à poesia.

Não é isso.

Quero ir, aos poucos, deixando os espaços no proscênio para os que chegam, e flanar pela cidade, descobrindo a alma encantadora das ruas, como um João do Rio.

Não é desejar muito.

Um comentário:

  1. Prezado Wilton - Eu era padrinho de um seminarista no Seminário São José. Quando ele precisou ir fazer filosofia em Teresina veio me comunicar e saber se eu podia continuar ajudando. Eu disse, eu estou aperreado, mas você vai porque pra mim dinheiro é coisa do diabo. Ele pensou um pouco e me disse :É meu padrinho, mas o senhor quer ver o diabo fique sem dinheiro!

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