Ruy Maranhão do Rego Barros, medalhão da Escola de Medicina do Recife, educado ali, em Colégio de Padres Jesuítas, muito religioso, foi contemporâneo do poeta e hospede da mesma pensão familiar, em Salvador, ao lado dos colegas Francisco Chaves Brasileiro, José Pimentel, Arlindo Teles,Machado Pontes e Osório Abath, nos três primeiros anos do curso de medicina.
Transcorria o aniversário do Francisco Chaves Brasileiro, o mais velho da turma, que estava sendo homenageado pelos companheiros.
Era um almoço lauto e festivo. Quando os cérebros se achavam impregnados pelo vinho, o Ruy extemporaneamente, começou a dissertar sobre cerimonias do solidéu, aquele barrete chato e roxo que o bispo usa sobre a tonsura. E dizia: o Bispo ao levantar-se pela manha, após persignar-se coloca o solidéu sobre a tonsura. Daí em diante, durante todo o dia, ao sentar-se a mesa para as refeições e após servir-se delas, ao persignar-se novamente , ele tira o solidéu. Tirar o solidéu aí, significa suspender e soltar sobre a tonsura o tal barrete escariante.
Na igreja, ao paramentar-se para celebrar, o bispo tira o solidéu. Estando sem a mitra, quando as cantoras bradam: gloria in excelsis Deu, o bispo tira o solidéu; quando vai dormir, o bispo tira o solidéu.
Mais de meia hora o Rui falou minuciosamente sobre esse ritual do solidéu. Calou-se. Fez-se profundo silencio. Ninguém deu uma palavra. O poeta, súbito, levanta-se, limpa a boca com um lenço, empertiga-se, como se fosse saudar o aniversariante, olha para todos, volta-se para o Ruy e lhe pergunta:
Ruy, você que está ao par
Dessas coisas lá do céu,
Quando o bispo vai cagar
Também tira o solidéu?
Também... só faltou isso. E o Ruy danou-se! Foi uma polvorosa.
Do Livro Doce de Pimenta da autoria do medico e escritor Dr. Mozart Cardoso de Alencar, a melhor obra literaria que conheci nos ultimos tempos.
ResponderExcluirÉ verdade, Morais. Passei um tempão, ontem, na agradável companhia de Dr. Dantes. Mente brilhante e glosador de mancheia. Esse mancheia ele usou nas suas estórias.
ResponderExcluirPor causa disso, eu vou voltar a escrever. Vai ser tipo assim, "As coisas do Crato".
Aliás, bem atrás o Vicelmo escrevia uma coluna no famoso "A Ação", com o título "As coisas". Era a que eu mais curtia, pela irreverência do sempre irreverente Antonio Vicelmo.
Portanto, em sua homenagem, toda semana, as quintas, vou firmar uma coluna na Sanharol.
O Sanharol é bom demais porque, entre outras coisas, fala de nossa vidinha. Eu adoro isto.
Obrigado Zé Nilton.
ResponderExcluirE como eu sei um bocado de prosopopeias do Crato, prometo que cada causo que você contar eu conto outro na area de comentarios. Portanto, serão dois causos, o seu e o meu. Vamos começar com Chico Soares, Noventa, Melito, Incha Tetê, etc - voce é quem escolhe.
Abraços.