Crônica para o dia dos pais.
Nas minhas experiências vividas nenhuma me marcou tanto quanto essa. Nos anos 70 e 80 do século passado um dos meus xodós era a Fazenda Cacimbinha, localizada no município do Assaré.
Nada me fazia mais bem do que está no curral sentindo o cheiro do gado, nada era mais aprazível do que arrastar uma tarrafa do açude cheia de peixeis, nada me era mais prazeroso do que ficar na alpendrada da casa conversando com os moradores, nada me dá mais saudade do que aquele vocabulário próprio do caboclo sertanejo.
Um dia, um deles me disse que estava com uma filha doente, carecendo de atendimentos médicos. Eu orientei que ele viesse com a filha para o Crato e os acompanhei na consulta.
Pelos sintomas apresentados pelo pai eu fiquei desconfiado e levei para um médico amigo, um especialista no assunto. O consultória ficava à rua Santos Dumont um pouco antes do cruzamento com a Coronel Luiz Teixeira.
A mocinha entrou para ser atendida e em pouco tempo saiu e o médico pediu para falar com o pai dela. Eu fui junto. Vi os dois frente a frente.
O médico com toda calma do mundo falou para o pai da moça : Sua filha está grávida! O homem teve um choque de revolta e desespero próprio do caboclo sertanejo diante de um fato tão grave para aquela época : Ter uma filha mãe solteira e reagiu dizendo : Vou matar ela e o cabra safado que fez isso.
O médico fez uma intervensão digna de sua sabedoria e grandeza humana: O senhor já foi preso? Não senhor!
O senhor já imaginou ser preso, perder sua liberdade por que matou o seu genro, o seu neto e sua própria filha?
Sob o meu olhar de admiração que sempre tive pelo médico, fui testemunha, nos despedimos e saímos do consultório.
Quatro meses depois eu fui convidado pelo avô do menino para ser o padrinho. Na hora do batizado vendo a felicidade dos avós e dos pais, eu falei para o avô de forma quase inaudivel : Quem merecia ser o padrinho deste menino, quem construiu toda essa felicidade de vocês foi o médico que lhe atendeu. Ele lembrou do médico, do conselho e de suas virtudes.
O avô do menino é falecido.
Os pais são aposentados e moram na cidade de Altaneira.
O menino é advogado.
O autor da vida, o médico humanitarista Dr. Heldon Cariri faz parte de nossas saudades.
E eu estou revelando a história para o mundo.
Histórias, memórias e legados que mudaram o mundo e que precisam ser conhecidos.
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