Recebi mais uma colaboração de Mundim do Vale, que, em sua generosidade, sempre nos presenteia com versos da melhor qualidade. Desta vez, o poeta fala de coisas que já não se vê mais, que ficaram obsoletas nesse mundo louco em que vivemos. O interessante é perceber que as coisas estão ficando obsoletas cada vez mais rapidamente.
É o novo!
É o novo!
Um amigo me pediu
Pra fazer uma rima antiga,
E da cabeça saiu
Constipação e fadiga.
Forcei minha paciência
Me lembrei de saliência
De apocada e sisuda.
Lembrei de moça falada,
De mulher amancebada,
De teúda e manteúda.
Me lembrei de taboada
Para ensinar a contar,
Lembrei quando era cobrada
A minha taxa escolar.
Lembrei revista cruzeiro,
Papel almaço, tinteiro,
Pena e o mata-borrão.
Lembrei de aluno pescando,
E a professora brigando
Com a palmatória na mão.
Me lembrei de andajá,
De enganador de apito,
Bolo ligado, aluá,
E taboa de pirulito.
Puxei mais pela memória,
Lembrei de cigarro astória,
Continental e elvira.
Lembrei chiclete de bola,
Quebra queixo, mariola
E de mel de jandaíra.
Lembrei roleto de cana
E papa de carimã,
De prato de porcelana e
Pastilha de hortelã.
Falei em gripe asiática,
Em cola de goma arábica,
Jardineira e marinete.
Falei em réis e tostão,
Cueca samba canção,
Suco de uva e grapete.
Falei em fogão jangada,
Em cepo de caminhão,
Isqueiro sete lapada
E na dança de feição.
Lembrei de bingo dançante,
De caixeiro viajantee
De bica jacaré.
Falei em vento caído,
Catapora, estalicido,
Pereba e bicho de pé.
Lembrei de blusa banlon,
De riri, de gigolé,
De música de Roni Von,
De frejo e de cabaré.
Sem perguntar a ninguém,
Lembrei foguista de trem,
Pastorinha e sacristão.
Lembrei de bola de meia
Bingo de galinha cheia
E de jogo de gamão.
Das coisas que me lembrei
Teve sabão de tinguí,
Cana madeira de lei
E a velha t.v. tupi.
Relógio de algibeira,
Espingarda socadeira,
Show de Tonico e Tinôco.
Caco de torrar café,
Frasco de guardar rapé,
Rosário feito de coco.
Não esqueci de lambreta
O transporte do playboy,
Me lembrei de carrapeta,
De corrupio e rói rói.
Lembrei jogo de peteca,
De relancim e sueca,
De lu e cara ou coroa.
Também lembrei mina avó
Que fazia pão- de- ló,
Manzape, sequilho e broa.
Também lembrei Ludugero
Mandando Otrope calar,
A marcha “ mamãe eu quero
Mamãe eu quero mamar.
“Da revista luluzinha,
Das músicas de emilinha,
E o livro capivarol.
Lembrei de disco de cera,
De pingüim de geladeira,
De quartinha e urinol.
Eu me lembrei de frasqueira,
Bateria pra panela,
De bule, de cristaleira,
Colher de pau e sovela.
Perguntei a um beradeiro
Quem foi que nasceu primeiro
Se foi o pinto ou o ovo.
Quando mostrei esse verso,
Pensando ser um sucesso
Ele me disse: - è o novo!
Mundim do Vale.
Postagem consertada por: Dihelson Mendonça
Postagem consertada por: Dihelson Mendonça
Parabens Mundim. Voce está com a razão. O tempo passa e com ele passam as coisas interessantes da vida.
ResponderExcluirEita! Que Mundim do Vale é um poeta cordelista dos bons!!
ResponderExcluirDas vezes que retornei ao Crato nunca esqueci de comprar os cordéis.
Parabéns Mundim e Morais pela postagem.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGlória. Nesse verso além da rima
ResponderExcluire da métrica tem os objetos antigos
que eu peguei, usei e gravei na memória, para lembrar apenas para
aqueles da minha idade,os mais novos não sabe o que é.
Abraço.
Mundim do Vale.