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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

COISAS DE CRIANÇA - Por Duda do Vale


Já que eu recebi o convite do tio Morais. Eu vou contar essa história. Mas por favor não contem ao ao Poeta Sávio, porque ele com certeza vai espalhar pela Várzea Alegre toda.
Foi assim:
Teve um domingo que eu fui passar com o meu vô Nanum e lá uma hora chegou tia Paula. Vocês sabem quem é a tia Paula? Pois ela é irmã do meu avô. Quando ela chegou meu pai mandou subir umas cervejas chocas e aminha vó Fátima, sapecou uns pedaços de queijo. Eles ficaram bebendo e tirando o gosto, Mas eu nunca vi gente tão possessiva, não me ofereceram nem um pedacinho do queijo. E olhem que eu gosto muito de queijo, porque não tem ossos, nem peias e nem espinhas.
Teve uma hora lá que eles foram para o computador, para olharem o Blog do Sanharol eu aproveitei e comi todos os pedaços do queijo. Só quem viu foi a minha avó, mas ficou calada na dela.
Quando os dois voltaram eu fiquei de costas brincando com a Vilma para disfarçar. A Vilma é uma rolinha caldo de feijão que a vovó cria solta no apartamento. eu gosto muito da Rola e a vovó também. Ela banha a rola, beija a rola e vive passando a mão na cabecinha da rola.
Quando os egoístas notaram a falta do queijo no prato, meu avô perguntou: - Quem foi que comeu o queijo que estava no prato?
Vovó Fátima lá da cozinha, respondeu:
-Foi uma catitinha que tinha por aí.
Eu dedico a minha primeira postagem a; João Pedro e a pequena Melyne Bitu.

SEXTA DE TEXTOS – Sávio Pinheiro

SONETO, PROSA E CORDEL

O soneto dita a norma
De mostrar uma emoção
Trazida do coração,
Que precisa de reforma.
Os quartetos dão a forma
Dos tercetos no papel.
Na tela, uso o pincel,
Quando não ouso escrever,
Mas, no ano novo, eu vou ler
Soneto, prosa e cordel.

A expressão “A Emenda saiu pior que o Soneto” surgiu há mais de cem anos quando o poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage foi procurado por um admirador seu para uma missão literária. Pediu que lhe corrigisse um soneto, que o havia escrito, marcando possíveis erros existentes. Bocage concordou. Porém, no dia seguinte, ao conversarem, veio a grande surpresa do poeta aprendiz. O seu texto era tão ruim que não valia a pena ser consertado. O experiente poeta disse-lhe que se fosse emendar aquele texto o produto final sairia pior que o original. Daí, a tão famosa expressão.

No Blog do Sanharol aconteceu algo semelhante, porém com sentido bastante contrário ao episódio citado, que eu gostaria de mostrar para vocês neste final de ano. E como o ano ainda não é novo, resta-me o direito de mostrar um fato mais antigo. Escrevi, certa vez, um soneto dedicado ao genial escritor Varzealegrense Paulo Viana e, este, inteligentemente, fez um comentário, em prosa, tão interessante, que saiu bem melhor que o meu poema. Portanto, apresentarei esta pequena peça com direito a réplica e tréplica.


DISFARÇATEZ

Querendo antever que sou sindrômico
No meu entardecer hipercinético
Eu busco encontrar no clã genético
Um modo de acalmar meu jeito atômico.

Tentando disfarçar que sou um cômico,
Palhaço de humor jamais patético,
Encontro um patamar, nada poético,
Compondo o meu biótipo anatômico.

Mostrando o meu querer no estilo cênico
E expondo o meu caráter androgênico
Eu lanço um superego muito enfático.

Daí, sem me mostrar oligofrênico
E sem transparecer esquizofrênico
Eu passo a ser feliz, sem ser lunático!



COMENTÁRIO EM PROSA (A RÉPLICA)
Autor: Paulo Viana

Caro amigo Sávio Pinheiro,

Lendo teus versos de estética augustiniana, onde dizes, em soneto acrobático, que não és excêntrico, fico estático, como um cético, pois, apesar de construído com termos técnicos, psiquiátricos, conseguiste produzir um poema artístico, uma obra de arte pictórica, com palavras em movimentos lógicos, em frases rítmicas, em música lúdica, mostrando como és artífice das letras, típico poeta clássico, portanto é lícito pensar que inspira-se no místico, que passeias no onírico, que viajas nos símbolos, feito um cronista cênico. Deixo aqui meu agradecimento explícito, por ter-me dedicado o fruto do teu mérito.


RESPOSTA DO COMENTÁRIO EM CORDEL (A TRÉPLICA)

Amigo Paulo Viana
Quero, aqui, agradecer
E também enaltecer
O que de você emana.
Com verve tão soberana
Uma gafe, eu não cometo.
No teu pensar não me meto
Nem no teu imaginário,
Porém o teu comentário
Foi melhor que o meu soneto.


Aos leitores, escritores, colaboradores e amigos, um 2011 recheado de coisas novas, diferentemente dessa reprise de ano velho. Paz, amor, alegria e compreensão a todos no protótipo do desenho do novo ano.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Programa COMPOSITORES DO BRASIL - Rádio Educadora do Cariri

“E quando o trovão
Acorda o sono nestes tristes vales
Ecos de um clamor medonho
Desce lá da serra
E estremece tudo por aqui
São os curumins as mães os pais
Dos velhos cariris”...

(Triste Vales, Zé Nilton)

COMPOSITORES DO CARIRI

Texto de Carlos Rafael Dias

A música do Cariri cearense ecoa desde os tempos remotos. Os indígenas cariris, primeiros habitantes deste torrão, eram genuínos músicos. Este legado vem se perpetuando na musicalidade regional dos herdeiros da tribo, misturado aos sons que aqui chegaram com os estrangeiros da época da colonização às últimas novidades sonoras trazidas pelas mídias contemporâneas. Entre as maviosas notas que soam do rústico pife de taboca sob a marcação ritual dos tambores afros, entrelaçam-se os acordes dissonantes do violão bossanovista e os solos distorcidos das guitarras roqueiras.

Mas a música caririense tem um algo mais. Talvez um atrativo que combina o aroma acentuado do pequi ao gosto raro do buriti. Talvez seja o lendário canto da Iara que guarda as fontes de águas cristalinas das encostas serranas, fisgando corações românticos como o visgo que pega passarinho.

Na obra dos compositores caririenses, ouvidos atentos podem captar muito mais do que os poucos minutos de cada canção. Nela podem ser ouvidos os ecos de quatrocentos anos de história, onde as lendas se confundem com a epopéia dos homens que traduzem suas vidas em um espetáculo diuturno de fé, coragem, esperança, trabalho e muita arte.

Aqui, todos os sons se fundem. O canto da cigarra prenunciando inverno bom. O sino da igreja chamando os fiéis. A velha amplificadora irradiando as boas novas para além do perímetro urbano. A banda de música animando os eventos, percorrendo ruas ou fazendo tremer os coretos. O burburinho da feira com seus artistas mambembes. Serestas e seresteiros sempre vivos enquanto existir um coração apaixonado...

O programa Compositores do Brasil, desta quinta-feira, 30 de dezembro, presta uma homenagem aos compositores caririenses ciente de que importantes nomes da música regional foram omitidos. Mas o leque sonoro abordado é por demais representativo do ecletismo regional. Para degustar plenamente o programa, recomenda-se, se puder, que se deite em uma rede em uma varanda com vista para o vale, deixando a brisa serrana espantar o calor deste ano que se finda...

É apenas um pequeno mostruário, pois o espaço é pequeno para tamanha grandeza.

Na sequencia:

O Poeta, de Abidoral Jamacaru e Xico Chaves, com Abidoral Jamacaru
Levada de Coco, de Francisco Saraiva, com Herdeiros do Rei
Galope Diferente, de Jonteilor, Cícero Brasil e Edvânio Nobre, com Jonteilor
Cantoria de Reis, de Antonio Queiroz e Júnior Boca, com Dr. Raiz
A Pressa, de Igor Arraes, com a banda Nacacunda
Calar o amor, de Leninha Vaz, com Leninha Vaz
Amor Beato, de Zé Nilton e Francisco Sávio, com Zé Nilton e João do Crato
Tambores e Maracás, de Lifanco, com Lifanco
Flor do Mamulengo, de Luís Fidélis, com Luís Fidélis
Terras Brasileiras, de Pachelly Jamacaru e Marcus Vinícius, com Pachelly Jamacaru
Pra Cantar o Amor Distante, de Cleivan Paiva e Rosemberg Cariry, com Cleivan Paiva
Venham Ver as Belezas do Crato, de Correinha, com Correinha
Chuva de Janeiro, de Geraldo Júnior, com Geraldo Júnior

Quem ouvir, verá!

Programa: Compositores do Brasil
Rádio Educadora do Cariri (www.radioeducaroradocariri.com)
Telefone: (88)3523-2705
Todas as quintas de 14 as 15 horas
Pesquisa, produção de Carlos Rafael
Apresentação de Carlos Rafael e Zé Nilton
Operador high tech: Iderval Dias
Direção Geral: Dr. Geraldo Correia Braga


DEIXA - Por Mundim do Vale

O poeta Cláudio pediu, para que eu explicasses com minhas palavras o que é uma deixa, para os leitores.
A DEIXA é palavra final deixada por um violeiro, para que o seu colega comece com uma rima obrigatória daquela palavra.

Exemplo:

Ivanildo Vilanova, filho de José Faustino, é acusado por muitos companheiros de seguir as pegadas do pai, que é decorar os versos, prejudicando os colegas. Na linguagem dos violeiros isso se chama BALÁIO.

O cantador João batista, conhecido por João Furiba, respondeu a Ivanildo, fazendo referências a Zé Faustino, Ivanildo no término de uma estrofe, menospreza a João Furiba:

Já estou ficando velho
De dar em cantor ruim! ( RUIM ) é a DEIXA,

A palavra final da estância de Ivanildo foi boa deixa para a formulação da resposta:

Teu pai também era assim...
E se dizia professor;
Tudo que lia, decorava;
Usava anel de doutor.
Cantou trinta e cinco anos,
Morreu sem ser cantador!

MOURÃO - Por Dedé França e Mundim do Vale

Dedé:
Seu Mundim tenha cuidado
Quando bulir com Dedé.

Mundim:
Eu estou bem preparado
E no mourão tenho fé.

Dedé:
Você não sabe o que faz,
E além de tudo Morais
Não brigo com batoré.

Mundim:
Rimo sem quebrar o pé
Meu repente é vuco-vuco.

Dedé:
Você tá ficando doido
Pra mim você é maluco.

Mundim:
Doido pra brigar com alguém,
Nunca perdi pra ninguém
Quanto mais para um caduco.

Dedé:
Me disseram em Pernambuco
Que você lá foi vaiado.

Mundim:
Mas isso é sua mentira
Poeta mal informado.

Dedé:
E aqui só leva a pior,
Além de ser o menor
Só rima de pé quebrado.

Mundim:
Quem aqui está quebrado
É o vate do cariri.

Dedé:
Estou inteiro danado
Não vejo poeta aqui.

Mundim:
Você tá só a metade,
Conhecido na cidade
Por roedor de piquí.

Dedé:
Peça pra fazer xixi
Que você já tá molhado.

Mundim:
Melhor eu sair daqui
Que o velho é abusado.

Dedé:
Abuso no meu terreno,
Pois você é tão pequeno
Que não alcança num dado.

Mundim:
Sou um pequeno afamado
O tamanho na importa.

Dedé:
Um anão desaforado
Não grita na minha porta.

Mundim:
Grito e faço desaforo,
Não tenho medo de coro
Sou anão da carga torta.

Dedé:
Veja como se comporta
Poeta de rima bamba.

Mundim:
Sou valente comportado
E nunca vendi muamba.

Dedé:
Mas comigo é diferente,
Você nunca foi valente
Seu tamborete de samba.

Mundim:
Deixe a casca de mutamba
E mude pra catuaba.

Dedé:
O meu tesão e a rima
Vai e vem e não se acaba.

Mundim:
A mulher e a poesia,
Hoje lhe dão é azia
Nem rima mais, nem enraba.

Dedé:
Seu comedor de piaba
Não bula nesse terreno.

Mundim:
Eu bulo e não tenho medo
Sou cobra que tem veneno.

Dedé:
É cobra que não provoca,
Pelo tamanho é minhoca
Tudo em você é pequeno.

Mundim:
Sou um poeta sereno
Sua altura não me abala.

Dedé:
Onde tem poeta alto
Poeta baixo se cala.

Mundim:
Pra fazer você sofrer,
Eu só preciso esconder
Sua maldita bengala.

Dedé:
Você hoje aqui se entala
Vai rimar de marcha ré.

Mundim:
Só se você arranjar
Meia dúzia de Dedé.

Dedé:
Já cantei com gente boa,
Hoje tou cantando à toa
Com um poeta roda-pé.

Mundim:
Eu não sei você quem é
Se é gente ou é jerico.

Dedé:
Dentro da sua malota
Eu vi maracá e bico.

Mundim:
E na sua tem torrado,
Cobrança de advogado
Um rosário e um penico.

Dedé:
Nesse lugar eu não fico
Pois não tem competição.

Mundim:
Vá dormir na preguiçosa
Que é lugar de ancião.

Dedé:
É difícil acontecer,
Mas amanhã vai haver
Um enterro de anão.

Mundim:
Quando eu tiver no caixão
Você já tá enterrado.

Dedé:
Esperando por você
Para um mourão de finado.

Mundim:
Pode ir marcando o dia,
Não abro pra cantoria
Nem que lá seja pecado.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O perfil forrozeiro de Xico Bizerra - Almerio Carvalho.

Com pouco tempo de carreira, Xico Bizerra é figura central na produção de pé-de-serra de Pernambuco. Destacamos no presente espaço, artigo de Bruno Nogueira, inserido na revista continente, da companhia editora de Pernambuco – Recife. Não precisa de muito esforço, numa manhã de pouca chuva no mercado da Madalena, ponto de encontro dos forrozeiros de Pernambuco, para perceber o quanto a figura de Xico Bizerra, Francisco Bizerra de Carvalho é central. Ele ao contrario da maioria, não está tocando nenhum instrumento ou mesmo cantando. Mas, quem se arrisca num acorde, sempre olha em volta, buscando uma aprovação.
Quem chega, faz questão de cumprimentar aquele que hoje é o compositor mais gravado do forró do Estado. São cerca de 160 interpretes. Apenas “Se tu quiser” sua musica mais emblemática teve mais de 65 regravações. Seus cabelos brancos comprovam a sua longa trajetória no forró de Pernambuco. Mas, na verdade, de carreira efetiva são curtos oito anos no currículo.
“Eu comecei a compor aos 15 anos, mas achava que não teria uma atividade profissional com isso. Preferi ganhar a feira, porque com musica não conseguiria, recorda. Quando eu me aposentei, no ano de 2000, comecei a pensar no que fazer para ocupar o tempo e lembrei-me das musicas. Xico Bizerra nasceu no Crato, interior do Ceara, mas veio para o Recife ainda jovem, no começo da década de 70”.
“Tenho mais tempo de vida aqui, por isso, sempre digo que sou cearense de paridez, mas, pernambucano de coração”. A primeira lembrança musical vem de lá. “ A poesia vem do meu avô, com quem me correspondia por carta, sempre em forma de sonetos, enquanto minha mãe Myrtes tocava bandolim. Eu compunha, mas não dava vazão. Guardava para mostrar a alguém, no momento correto”. Com o sucesso do primeiro trabalho, Xico Bizerra passou a lançar um disco por ano, sempre com uma temática central. A versão masculina veio no CD Forroboxe 4, chamado cantadores da nação do seu Luiz, com participação de Dominguinhos, Flávio José e Quinteto Violado.
Em 2008, ele consegue implementar o forró pé-de-serra como instrumento didático nas escolas publicas de Pernambuco, um disco com temática infantil, valorizando ritimos como xote, xaxado, baião, com temática mais lúdica, falando de céu, terra, sol e de outras coisas que não “chupa que de uva”, para tentar combater esse crime, que é essa musica que faz estimulo a drogas, bebidas, e a raparigagem.
“Eu, pessoalmente, recrimino e contesto a estética de forró que eles usam”, diz o compositor, acha que o Ministério Publico é omisso em algumas circunstancias, porque uma musica que fala dinheiro na mão, calcinha no chão, incita a prostituição, “ um orgão publico deveria impedir isso”.
Xico Bizerra é cratense, aposentado ( Banco Central do Brasil }, filho de Afranio Carvalho e, sobrinho do colunista.
Fonte –Jornal do Cariri.

PERGUNTAR NÃO OFENDE - Por Mundim do Vale

Eu lí e ouví várias vezes, algumas pessoas dizerem que o Blog do Sanharol era muito político.
A pergunta que se faz:
Aquelas pessoas já viram por acaso ou de propósito, o blog Várzea Alegre na Real? Aquelas pessoas já conheceram qualquer entidade da sociedade que não tenha política? Se alguém satisfizer a minha curiosidade eu vou ficar muito grato.
Raimundinho Piau.

A FIGURA DO DEMO - Por Mundim do vale

Teve um tempo em Várzea Alegre que eu só andava com Antônio Ulisses. Por conta da nossa grande amizade nós arranjamos uma paquera com duas garotas do sítio Varas, que eram irmãs. Uma dia lá Antônio Ulisses soube que havia falecido uma velha lá nas Varas e veio me convidar para ir com ele argumentando que as meninas poderiam aparecer no velório. A princípio eu não concordei achando sem futuro porque era de noite e não era tão perto, mas ele me convenceu dizendo que ia arranjar um jumento do pai dele. Depois de me convencer ele saiu e logo depois chegou com um jumento tão grande que parecia um burro.
Partimos por volta das sete horas da noite. Passando pela bodega de Raimundo de fama tomamos meia garrafa de cana e já saímos de cabeça quente. Quando chegamos no Buenos Aires eu tirei um realejo do bolso e fui tocando mais desafinado do que Manoel da Rebeca.
Quando passávamos no corredor das Melosas eu avistei uma luz de lamparina numa casinha que tinha dentro da roça, aí falei:
- Deve ser naquela casa. Vamos lá.
- Vamos.
Encontramos um rapaz demos boa noite, ele respondeu e depois falou:
- Vocês não me leve a mal não, mas parem de tocar que morreu uma velha naquela casa.
Ficou assim confirmado o local do velório.
Nós descemos, amarramos o jumento num juazeiro, entramos e demos os pêsames ao viúvo. As garotas não estavam, tinha apenas seis pessoas a saber: Eu, Antônio Ulisses, Neguinho das Gaiolas, o viúvo, a finada e Afonso cunhado de Manoel Cabeção, que já estava de luto fechado. Ele usava sapato preto, calça preta, chapéu preto e camisa preta de manga longa. Era a figura do Demo.
Deu onze horas da noite e nada de chegar as meninas nem mais ninguém. Quando foi onze e meia Afonso se despediu dizendo que tinha de bater uns tijolos no dia seguinte, mas depois eu descobri que a intenção dele era de assustar a gente na volta para a cidade.
Por volta da meia noite nós resolvemos voltar. Na saída que dava para o corredor das Melosas eu dei uma pancada na cancela que meu companheiro quase caia do jegue. Depois desse susto nós ficamos calados, mas de repente eu quebrei o silêncio:
- Antônio! Se a alma da velha aparecesse aqui o que era que tu fazia?
- Eu me agarrava com ela e dava uns cocorote pra tirar os pecados
Quando nós passávamos de lado de uma moita de mufumbo, Afonso pulou na frente do jegue abrindo os braços. Deu um grito tão pavoroso que os cachorros do sítio Fundão latiram. O jegue deu quatro saltos, mas três foi de graça, porque logo no primeiro nós caímos.
Eu caí para o lado esquerdo pulei a cerca e corri na direção da cidade, Antônio Ulisses caiu pela direita pulou também uma cerca e correu na direção do Rosário e o jegue assustado correu de ré na direção do sítio Coité.
Este causo terminou assim:
Eu amanheci o dia rezando na porta da igreja matriz de Várzea Alegre, Antônio Ulisses foi parar na casa de Leó no sítio Riacho do Meio e o jumento foi encontrado quatro dias depois relinchando debaixo de um pé de oiticica no sítio Caiana.
Antônio Ulisses sempre que falava no assunto dizia que tinha visto a figura do Capiroto, mas eu tenho convicção de que era Afonso.
Dedico esse causo a Chico Nenem.

MINHA VIDA NO SERTÃO - Por Mundim do Vale

Eu moro aqui no sertão
Onde tudo é natural,
Vivo com satisfação
Nesse meu torrão natal.
Acordo de madrugada,
Com o canto da passarada
Num musical de acolhida.
Faço meu sinal da cruz,
Agradecendo a Jesus
Por mais um dia de vida.

Depois do pelo sinal
Levanto-me sem enfado,
Dou um pulo no curral
Pra tirar leite o gado.
Quando chego no terreiro,
Já sinto o gostoso cheiro
Do café no coador.
Tomo o café na palhoça,
Depois vou pra minha roça
Na serra do Mirador.

A mulher sem alvoroço
Vai temperando a panela,
Quando termina o almoço
Bota um pano na janela.
É o aviso mais perfeito,
Que o almoço já tá feito
Chamando-me sem demoras.
Pois é assim, meu patrão,
Os almoços do sertão
Não passam das nove horas.

Depois eu tiro um cochilo
Na minha velha tipóia,
O meu lugar mais tranqüilo
Depois que eu pego a bóia.
Chega a hora do jantar,
A mulher vem me chamar
E eu acordo sem alarde.
Da rede o prato eu já vejo,
Pois jantar de sertanejo
Não passa das três da tarde.

De noite eu junto a moçada
Num banco de aroeira,
A mulher serve coalhada
Rapadura e macaxeira.
Depois eu pego um rosário,
No quarto do santuário
E peço a virgem Maria
Que abençoe o meu lar,
Na hora de acordar
Pra enfrentar outro dia.

Eu passo a semana inteira
Sem conhecer a preguiça,
No sábado eu vou pra feira
No domingo eu vou pra missa.
Feriados vou caçar,
Tirar inchu ou pescar
E esgotar cacimbão.
Mas se alguém duvidar,
Pode vir pra confirmar
MINHA VIDA NO SERTÃO.


Dedicado aos Primos João e Renato Bitu. Homens do sertão.

Mundim do Vale

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

MOTE DO SEXTO DE FUXICO - Por Mundim do vale

Para os poetas do Blog.

Nem arreio e nem cabresto
Nem cavalo e nem jumento,
Nem o décimo mandamento
Nem panela nem o texto.
Sávio só quer o pretexto
Do texto com a panela
E uma velha na janela
Pra fazer o mexerico.
ONDE TIVER UM FUXICO
SÁVIO PINHEIRO REVELA.

O Sávio foi convidado
Por um colega doutor,
Pra servir de contador
De fofoca e de babado.
Deixou o Cristo de lado
Não acendeu nem a vela,
Só faltou uma passarela
Ou um banco de angico.
ONDE TIVER UM FUXICO
SÁVIO PINHEIRO REVELA.

O texto de sexta feira
É só para disfarçar,
Ele gosta é de falar
No sério ou na brincadeira.
Fala até de rezadeira
Que tropeça na capela,
Do periquito de bela
Que se afogou no pinico.
ONDE TIVER UM FUXICO
SÁVIO PINHEIRO REVELA.

Para fazer a zoeira
O poeta se aprofunda,
Já começa na segunda
Pra postar na sexta feira.
A rima sai de primeira
Mas a fofoca congela
E assim cai na esparrela
Parecendo ser do Chico.
ONDE TIVER UM FUXICO
SÁVIO PINHEIRO REVELA.

Mundim do Vale

QUEM FOI O AUTOR - Por Mundim do Vale

PELO SINAL.

A fome nos faz sentir
Da desgraça o duro corte,
Estou conhecendo a morte
PELO SINAL.

Se não chover em geral
Em dezembro com franqueza,
Se acaba toda pobreza
DA SANTA CRUZ.

Roubar nunca me dispuz
Morrer de fome, acho feio,
Porém pegar no alheio
LIVRAI-NOS DEUS.

Possa ser que com os meus
Escape deste estandarte,
Só temos de nossa parte
NOSSO SENHOR.

Se ficarmos a favor
Dos mais arremediados,
Nós seremos desprezados
DOS NOSSOS.

Já vendi todos os troços
Só não diga que roubemos,
Porque do dono seremos
INIMIGO.

Vamos ter novo castigo
E vamos ter coisa pouca,
Só dá pra botar na boca
DO FILHO.

Já não tem feijão nem milho,
Nem farinha, nem crueira
Só nos resta uma palmeira
DO ESPÍRITO SANTO

Não sirva a ninguém de espanto
Não tenho profetizado,
Que vai morrer tudo inchado
AMÉM.


Esse bem feito verso de pé quebrado, é de autoria de um poeta do Chico ou da Varzinha.
A minha fonte não soube dizer o nome do autor, Eu espero que os poetas do Blog consigam identificar o artista.
Feliz ano novo a todos.
Mundim do Vale.

PASSAGEN DE ANO NOVO - Por Mundim do Vale

Na passagem de ano de 1957, eu e meu saudoso amigo, Antônio Ulisses Costa, desenvolvemos uma aposta que consistia em adivinhar onde era o sítio que moravam as pessoas que vinham para a cidade, na noite de festas.
Nós dois vestidos com um cenário que era; Camisas Banlon, Calça de tropical e sapato fanabu. Depois de fazer a farra comendo broa com aluá, nós partíamos para o desafio, aquele que perdesse, pagava um pão-de-ló para o outro.
Tinham algumas situações que era muito fácil acertar. Era o caso dos moradores da Unha de Gato. Que eram apenas duas famílias, A Lobo e a Joaquim. Também o pessoal do Chico e Varzinha, que Era uma família só.
Nós saímos contornando o mercado velho, quando vimos um anão tomando sopa no café de Domicilia.
Eu apontei e perguntei:
- De onde é aquele nó de cana?
- Só pode ser da Aba da Serra.
- Da Aba da Serra, não é não.
- Pois vamos perguntar.
Meu amigo aproximou-se do pequeno e perguntou:
- Ei batoré. De qual sítio tu é?
O roda-pé de quartinha respondeu:
- Sou da Aba da Serra. Eu sou primo legítimo desse outro baxim aí.
Antônio Ulisses ficou fazendo gozação, enquanto eu preparava a minha vingança.
Continuamos pela calçada, quando chegamos na esquina, eu avistei na porta da bodega de Raimundo Silvino, um galego sapecado, que parecia mais com um cavalo gazo.
Eu olhei para o meu amigo apostador e falei:
- Vamos apostar naquele sarará.
- Tem futuro não, esse povo assim costuma se zangar.
- Tem nada não, vai ser ele mesmo. Eu acho que ele é das Cajazeiras.
- É não. Ele deve ser da Caiçara.
- Não Senhor! Na caiçara não tem gente desse tamanho não.
- Pois vamos lá.
Quando eu abordei o galego, meu amigo afastou-se um pouco mas mesmo assim eu perguntei:
- Ei galego! Tu é de qual sítio?
- Sou das cajazeiras dos Costas. Eu sou primo desse galego véi qui anda mais tu. Ele só veve lá im casa. Ei primo! tá siscondendo deu?
Meu amigo cumpriu o trato, mas ficou um tanto aborrecido.
E eu fiquei satisfeito, porque apliquei a volta do cipó de aroeira, no lombo de quem me bateu.

Dedicado a Flavin e aos galeguim de Antõnio Ulisses.

domingo, 26 de dezembro de 2010

MOMENTO DA POESIA

Elegia à palavra
- Claude Bloc -


Peço a palavra
quando nas horas tardias
semeio harmonia
e devolvo canções
em novelos de luz
em cordões de alegria...

Peço a palavra
dos poetas e das musas
e o sortilégio inspirador
das mais distintas horas...
A eloquência da palavra
na rua deserta
como a palavra que me mata a sede
ao me acordar.

Peço a palavra
aos arremedos do sol
aos milagres da lua
e à sua magia
ao anoitecer .

Peço a palavra
aquela que sente
a minha própria ausência
a palavra que me chama
quando te ausentas
A palavra que grita
quando o sono
me vence...
A palavra
clandestina na leitura
de todos os dias.

Claude Bloc
Fotos do por do sol do dia 26/12/2010.
(partilho essa beleza com vocês)

COMO ERA ALEGRE O NATAL - Por Mundim do Vale

Nossa Várzea Alegre tinha
Num certo tempo passado,
Jesus Cristo na lapinha
Com Maria do seu lado.
Seu Amadeu arrumava,
Dona santa ajudava
Junta com Dona Andradina.
Depois que o padre benzia,
Vinha aquela romaria
Para a festa natalina.

A criança não sabia
Quem era papai Noel,
Pra ele só existia
O Menino Deus, no céu.
A festa era de acolhida,
Com toda família unida
Na igreja ou na capela.
Quem sofria era o peru,
Que o último gulu-gu-gu
Era perto da panela.

Na casa da minha avó
No natal tinha um estilo,
De se fazer pão-de-ló
Manzape, broa e sequilo.
A meninada comia,
Quando era no outro dia
Abarcava o que sobrou.
De toda essa verdade,
Eu me lembro da metade
E O RESTO MEU PAI CONTOU.

Hoje os netos de vovó
Não praticam o mesmo estilo,
Já não fazem pão-de-ló
Nem apreciam sequilo.
O peru já foi trocado,
Pelo um chest congelado
Do tamanho de um tetéu.
A casa é cheia de luz,
Mas esqueceram Jesus
Pensando em papai Noel.

É triste como essa gente
Faz do natal um mercado,
Só pensa em ganhar presente
E deixa Jesus de lado.
Essa nova geração,
Não mantém a tradição
De alguns anos atrás.
É o mal da juventude,
Que não conserva a virtude
E os costumes dos pais.

Quando a virgem deu a luz
A família era carente,
E o menino Jesus
Não ganhou nem um presente.
Hoje em dia a mídia manda,
A fé do povo desanda
E o natal perde seu brilho.
Como tudo já mudou,
O que meu pai me contou
NÃO VOU CONTAR A MEU FILHO.

Mundim do Vale.

UM BRINDE EM MARTELO

O Francisco Gonçalves de Oliveira
Elegeu-se um bom colaborador,
Pois na vida é um homem de valor
Numa grande metrópole brasileira.
Sua verve é pura e verdadeira
Quando ouvida com muita atenção.
Na bebida, engabela a confusão,
Pois só bebe uma tal de cajuína
Mesmo assim, nos brindou com obra prima
Declamando o Vieira com emoção.

sábado, 25 de dezembro de 2010

AINDA É NATAL !!

MEU TESOURO DE NATAL
-  Claude Bloc -

As caras e bocas de Natália


A timidez de Victor
A brincadeira e a cumplicidade com a vovó

Desde que meus pais se foram, os festejos de Natal têm se tornado para mim vazios. Os irmãos se dispersaram, as filhas vão pra casa das devidas  sogras... e se não quero me "ajuntar" a essas "aderências" vou ficando só no meu canto.

Para não me deixar tomar de lembranças ou pensamentos tristes, vou  escrevendo, lendo, assistindo a alguma coisa... me programando para o futuro. Enfim, sendo construtiva. Mas não sou nenhuma heroína como possa parecer nesse meu propósito. Não ter com quem trocar sorrisos é um ato doloroso. Muitas vezes sucumbo e me amofino.

Ontem resolvi mudar a rotina natalina. Reuni minhas filhas à tarde, na casa da mais nova - Flavia - e me pus a fazer o que realmente me dava prazer: estar com meus netos. É tão bom vê-los crescer, vê-los construir suas vidas, estar com eles... brincar com eles e observar suas reações. Analisar o que neles parece ou não comigo... Que pequenina semente de uma vovó apaixonada está nessas criaturinhas tão amadas.

Pois é, foi este meu Natal. Se o Natal é momento de renascimento, pois saibam que renasci. E não me entristeci quando à noite eu brindei com a lua que minguava e com as estrelas que bailavam nos meus mais novos sonhos.

Foi este o meu tesouro de Natal.

Claude Bloc

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Em clima natalino o resgate de um patrimônio histórico do Cariri

O relógio da Catedral de Crato
por Armando Lopes Rafael (*)


O relógio existente na torre do lado sul da catedral de Crato foi adquirido na fábrica Ungerer & Frères, (1) localizada em Estrasburgo (França) e assentado na então Matriz de Nossa Senhora da Penha no dia 21 de janeiro de 1863, pelo artesão Vicente Ferreira da Silva. O relógio foi oficialmente entregue à população de Crato no dia 12 de outubro daquele ano, por ocasião da primeira visita pastoral feita ao Cariri, pelo primeiro bispo do Ceará, dom Antônio Luís dos Santos.

A iniciativa da compra desse relógio coube ao vigário colado (2) da freguesia, padre Manuel Joaquim Aires do Nascimento, que o adquiriu por intermédio do Dr. Marcos Antônio de Macedo(3). Consoante informação do historiador Irineu Pinheiro, (4) o relógio da Matriz de Crato foi considerado “naqueles tempos, um dos melhores do Império”.
Decorridos quase 150 anos da sua instalação o velho relógio da Sé de Crato ainda marca as horas com exatidão. Em 2003, o ex-Cura da Catedral de Crato, monsenhor João Bosco Cartaxo Esmeraldo, atual reitor do Santuário Eucarístico Diocesano, escreveu à fábrica de relógios Ungerer solicitando informações sobre o equipamento adquirido para a Paróquia de Nossa Senhora da Penha no terceiro quartel do século XIX.

Acima, Theodore Ungerer, construtor do Relógio da Catedral de Crato,
Cfe. site: http://phaffans.com/wp/?tag=equation-du-temps


Transcrevemos abaixo a correspondência recebida – e traduzida – por monsenhor João Bosco Cartaxo Esmeraldo:

"Estrasburgo, 6-11-2003

A Mons. João Bosco Cartaxo Esmeraldo
Vigário Geral da Diocese de Crato-CE

Monsenhor,

Quereis perdoar o atraso desta resposta à vossa simpática mensagem de 21 de janeiro de 2003 e vossa carta de 7 de maio ao Vigário Geral de Estrasburgo, que me chegaram há algumas semanas somente após três meses de ausência.
Eu sou filho caçula de Thédore Ungerer (1894-1935) construtor do relógio Astronômico de Messina (Sicilia) (1933) o maior do mundo com 50 autômatos dos quais 48 desenhados por meu pai.
Para responder à vossa questão se há ainda a fábrica em Estrasburgo, eu anexo a esta carta um texto do Sr. Yann Cablot, dos Arquivos Departamentais do Baixo Reno.
Eu concluo que a firma Ungerer fundada em junho de 1858 cessou definitivamente sua atividade em janeiro de 1989.
Eu encontrei talvez traços de vosso relógio no repertório dos Grandes Livros Ungerer nos Arquivos Departamentais (73J45 pag.91, anexo) onde se encontra um pagamento de 1.130 Fr em 27 de abril de 1860 “para o Brasil” (talvez uma conta (parcela?).
Em nome dos meus ancestrais, eu vos agradeço, Monsenhor, por vossa mensagem cordial e por vossas bênçãos e vos dirijo minhas saudações respeitosas e cordiais.
B.Ungerer

Teríeis a gentileza de me enviar uma foto da torre da Catedral com o relógio Ungerer, para os Arquivos Departamentais? Obrigado antecipado".
oOo oOo oOo
Verificando o anexo que acompanhou a carta do Sr. Bernard Ungerer ao monsenhor João Bosco Cartaxo Esmeraldo lemos uma relação manuscrita referente a 1860, onde consta as encomendas feitas à fábrica Ungerer & Frères, naquele ano. Na relação, uma anotação registra: “avril, 27 Caisse 1 – pour Le Brésil –37– 1.130 Fr (abreviatura da moeda francesa, o Franco)”

Donde se conclui que o atual relógio, ainda batendo às horas na Sé de Crato, foi adquirido por Dr. Marcos Antônio Macedo, em Estraburgo, no dia 27 de abril de 1860, fato comprovado pelo cineasta Jackson Bantim que fotografou a máquina do equipamento e lá consta o ano da fabricação: 1860. Este relógio – segundo pesquisa de Irineu Pinheiro – foi instalado na torre lado do sul da Catedral de Nossa Senhora da Penha no dia 21 de janeiro de 1863, pelo artesão Vicente Ferreira da Silva.

NOTAS:
1) -
A fábrica de relógios Ungerer & Frères foi fundada, na cidade de Estrasburgo, em 1858 pelos irmãos Albert e Théodore Auguste Ungerer. Estes sucediam ao famoso relojoeiro Jean-Baptiste Schwilgue. A empresa funcionou – mudando algumas vezes a denominação – até 1989.

2) - Na época do Brasil Império, vigorava o Sistema de Padroado, ou seja, a união do Estado com a Igreja Católica, e os vigários eram divididos entre colados e encomendados. Os vigários colados, normalmente os mais ilustrados, prestavam concurso público e, se aprovados, recebiam a paróquia por colação e dela só saíam se quisessem, pois eram efetivos, e recebiam sua remuneração diretamente do poder civil que, por sua vez, recolhia o dízimo dos fiéis e por isso tinha a obrigação de sustentar o culto e seus ministros.

3) - Marcos Antônio de Macedo nasceu em Jaicós (Piauí) em 18 de junho de 1808, sendo proveniente de família genuinamente caririense. Durante o primeiro governo de José Martiniano de Alencar, na Presidência da Província do Ceará, o já bacharel Dr. Marcos Antônio de Macedo foi enviado à Europa para trazer colonos e artífices para o Ceará. Obteve êxito na empreitada e na sua estada em Paris estudou Ciências Naturais, com destaque para a Química. De regresso ao Ceará foi nomeado Juiz Municipal de Órfãos do Inhamuns. Ao se aposentar foi viver na Alemanha, em Stuttgart, aonde veio a falecer em 15 de dezembro de 1872.

4) - PINHEIRO, Irineu. Efemérides do Cariri. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1963. Página 148.

(*) Armando Lopes Rafael, historiador. Sócio do Instituto Cultural do Cariri e Membro Correspondente da Academia de Letras e Artes "Mater Salvatoris", de Salvador (BA)

SEXTA DE TEXTOS – Sávio Pinheiro

NATAL SEM PRÉ-NATAL

No mês nono antes de Cristo
Uma jovem fecundou
O fruto da esperança
Que ela, encantada, sonhou,
O seu nome era Maria,
Por liberdade, lutou.

Gravidez não planejada,
Calmamente, ela aceitou,
Sendo fruto de uma luz
Divina, assim brotou,
Santo menino Jesus
No seu ventre se gerou.

A gestação transcorreu
Sem existir pré-natal
Realizado por leigo
Ou por profissional.
Somente a fé no seu Deus
Reacendeu-lhe a moral.

Sua residência modesta
Sem condição sanitária
Dificultava o viver
(Vida era temporária).
Tinha assistência difícil,
Faltava Atenção Primária.

No ventre avolumado
A criancinha crescia,
Sem um acompanhamento,
A fé em Deus a nutria,
A gravidez dava a graça
E a esperança luzia.

Sentindo-se indisposta
Era grande o seu tormento,
Pois sem existir equipe
Pra lhe dar contentamento
Sobrava a fé no seu Deus
Pra lhe acalmar o lamento.

Se as pernas lhe pesavam
Ou as doíam, somente,
Ela ficava tristonha
Suportando humildemente
Rezando para o Deus-pai
E o louvando bravamente.

Quando o vômito se mostrava
E a azia, ela sentia,
Sofria muita gastura,
Pois o Dramin não havia
E elevando as mãos pro céu
Ao Deus-pai, ela pedia.

O Imperador Romano
Pra controlar a nação
Ordenava que o censo
Contasse a população
Organizando o seu povo,
Apesar da migração.

A nossa Virgem Maria
Sendo mulher de ação
Sabia que, em Nazaré,
O censo era obrigação
Tendo, ela, que constar
Como membro da nação.

Sendo este obrigatório
A esperta santa implora:
- Meu José cuide em buscar,
Precisamos ir agora,
Arranje logo um transporte,
Pois temos que ir embora.

São José atarantado
Laçou um jumento forte,
Um asno muito ligeiro,
Que o preservava por sorte,
Dando a família castiça
A esperança de um norte.

Já perto do nono mês
Ela sente as contrações
Que, apesar, de indolores,
Anunciam vibrações
Dando a Santa Maria
Sublimes resoluções.

Ela olha o firmamento
E sente algum desatino,
Mas estando amparada
Pelo Dono do destino
Prevê o belo futuro
Deste sagrado menino.

Ele dá um pontapé
E mexe com harmonia
E Ela vendo que está próximo
E chegando o grande dia
Fica bastante contente
E com sublime alegria.

Os olhos celestiais,
Que orbitavam em Maria
Reluziam para o mundo
Com toda a pedagogia
Irradiando a esperança,
Que Deus almejou, um dia.

Uma dor no baixo ventre
Sente a compadecida
Pressentindo aproximar-se
O surgir de uma nova vida,
Tendo, já, que se abrigar,
Ter proteção garantida.

Numa outra contração
A Santa Maria implora:
- José, trate de arranjar
Um bom abrigo, agora!
(- Não tinha casas de parto
Para atender à senhora).

A cidade de Belém
Estando superlotada,
Não havia um só lugar
Para mantê-la hospedada.
Daí, Maria pernoitar
Embaixo de uma latada.

Em singela manjedoura
Nasce o menino Jesus
Sem serviços de saúde
Nem assistência do SUS
Pais e filho sem agasalhos
Sem enxoval, quase nus.

A criança quando chora
Já Irradia o seu poder
E exalando o tom da graça
Dá aos pais grande prazer.
- Nasce o menino de Deus
Para o mundo proteger.

A sua graça é divina
E tem grande proteção
Sem precisar de vacinas
Para qualquer prevenção,
Pois tem o leite materno
Ao alcance de sua mão.

Uma estrela anunciou
O local do nascimento,
A boa nova deslumbrou
A todos, nesse momento,
E até quem não o sabia
Teve um bom pressentimento.

Quando amanheceu o dia
Já havia alguns presentes:
Os reis magos os trouxeram
Deixando a todos contentes
Demonstrando para nós
Quem regará as sementes.

A mãe santa amamentava
O seu filhinho querido,
Pois sabia que o seu povo
Nunca seria esquecido,
Pois veio, Ele, pra salvar
O pecador mais temido.

Quedou-se apreensiva
Consciente do perigo,
Pois os políticos vigentes
Premeditavam um castigo:
Eliminar as crianças
Era a meta do inimigo.

O rei Herodes com medo
De um novo rei vir crescer
Eliminava as crianças
Pra, o seu reino, não perder.
Daí, nascendo um filho homem
Com certeza ia morrer.

A estratégia do poder,
Que menosprezou Maria,
Que maltratou São José
E incentivou rebeldia
Favoreceu a maldade,
Que o Deus-Pai não queria.

Fim.

Natal para mais um Cristo do viaduto - Por Expedito Mauricio

Um novo Jesus Cristo

sem casa, sem terra, com pouca saúde,

nascerá na noite de 25 de dezembro,

embaixo do viaduto da avenida 13 de maio.

Nascerá nordestino, pequenininho,

magrinho e pobrezinho

Muito “inho” - este novo cristinho.

Nossa Senhora terá de deixá-lo logo,

pois os cantos dos corais,

em homenagem ao seu menininho,

irão começar na igreja de Fátima,

e ela terá de ocupar logo o seu lugar no altar.

Ela irá contente

porque já sabe que muitos outros cristos,

meninos de rua, á procura de suas manjedouras,

chegarão ás dezenas,

para alegrá-lo com suas artes de cristos de ruas.

Muitas madalenas,

ainda crianças e já madalenas,

chegarão ás dezenas, para fazê-lo adormecer

com as suas canções de ninar.

Mas Nossa Senhora sairá um pouco preocupada,

pensando no que sempre aconteceu com seus outros cristos meninos,

que nasceram em todos os outros natais

todos sem teto, todos sem terra, todos pobres.

E todos crucificados.

Apesar de tantos salvarem a humanidade.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Noite de Festas - Por Giovane Costa.


Chega esta época e nós lembramos muito do Natal do nosso tempo de infância, que a nossa maior alegrias era quando nossa mãe começava a juntar ovos e o material para os bolos de "noite de festa". Pois bem, Clara do Canto, prima de minha mãe, era fraca do juízo e num dia de Natal chegou na casa de seu primo Luiz Bitu, no Serrote. Logo que chegou a prestimosa Dona Anìsia foi logo perguntando: Clara, tu prefere bolo de goma (pão-de-ló) ou tu quer manzape? Clara, muito educada, respondeu de imediato:

"Eu quero bolo goma , quero manzape também, mas me dê primeiro uma tora de rapadura".

Prezado Giovane:

Com este seu texto e esta sua historia, nós fazemos o nosso protesto contra a comercialização do Natal. Sinceramente eu não gosto nada destas festas com bebidas, comidas e presentes. É o desvirtuamento do espirito cristão. Hoje tem abraços, presentes, jantares e amanha nega-se um aceno, um bom dia. O Natal verdadeiro é aquele que se cultua diariamente. O verdadeiro Natal é aquele em que todos participam, não só os de posses. Um feliz Natal para todos 365 dias do ano.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

LEMBRANDO A TERRA DO ARROZ

Várzea Alegre que saudade
Que tu vem me provocando,
Tou agora me lembrando
Do tempo da mocidade,
Quando eu vivia à vontade
Jogando cara ou coroa,
Correndo na rua atoa,
Sem a ninguém perturbar.
Depois ia tibungar
Banhando-me na lagoa.

Várzea alegre eu sei que tu
Ainda não esqueceu,
Da casa de Seu Dirceu
Vizinha a de Zé Bitu.
De Romana e Seu Dudu
Na calçada da usina
E logo na outra esquina
A casa paroquial,
Onde tinha num varal
Pano de altar e batina.

Lembra-se daquela estrada
Que ia para a Serrinha?
Tu se lembras de Cotinha
Senhora muito prendada?
Sei que lembra da chegada
Da água e da energia,
Que a velha lavanderia
Ficou sem utilidade.
Mas deixou muita saudade
Porque nos serviu um dia.

Eu sei que tu tá lembrada
Das malotas de Britim,
Dos poemas de Bidim
Sem nem uma rima errada.
Do caldo de madrugada
No café de Mariinha,
Das loucuras de Costinha
Dizendo “ Oba “ e “ Tuíba “
Rua abaixo, rua arriba,
Com Manoel Cachacinha.

Te mando aqui um abraço
Em nome dos que estão fora,
Aqueles só foram embora
A procura do espaço.
Essa homenagem eu faço
Na expressão da verdade,
Me acabando de saudade
Do Riacho do machado,
Do arroz prata cacheado,
Que circulava a cidade.

Mensagem do autor:

Quando deus fazia o mundo
Começou na nossa terra,
Fez a mata, fez a serra,
Em menos de um segundo.
Depois deu a São Raimundo
Que ficou no seu altar,
Com os fiéis a rezar
Pra seu Santo verdadeiro,
E assim nosso padroeiro
Abençoou o lugar.


Dedicado aos meus conterrâneos, com um desejo de feliz natal eu ano novo de muita paz.
Mundim do Vale.

Programa COMPOSITORES DO BRASIL - Rádio Educadora do Cariri


“Menino Deus
Quando a flor do teu sexo
Abrir as pétalas para o universo
Então por um lapso se encontrar
Ligando os breus, dando sentido aos mundos
E aos corações sentimentos profundos
De terna alegria, no dia
Do menino Deus
No dia do menino Deus”

(Menino Deus, Caetano Veloso)

NATAL BRASILEIRO

Por Zé Nilton

Desde que o homem captou o som ouvindo a natureza, descobriu a estrutura matemática de suas combinações e inventou uma escala tonal com infinitas possibilidades de manifestar uma melodia, a música definitivamente marca os eventos da trajetória humana.

A música, dentre múltiplas serventia, parece despertar certa substância em nosso cérebro, quando nos lembramos de algo em que ela fora testemunha.

Os acontecimentos por que passamos não se repetem, ou melhor, a atmosfera da época e o clima do momento estão ausentes nos ciclos repetitivos de nossas vidas. No entanto, caso esses momentos tenham sido emoldurados pela música – ou por aquela música que embalou e marcou aquele momento, ao ouvi-la e juntá-la ao ocorrido, entramos na aura que decolou daquela ocasião e que agora emerge na nossa lembrança.

Só para entendermos melhor: outro dia, numa entrevista, o músico Tom Zé descreveu, com pureza de detalhes, o momento em que ouviu, pela primeira vez, a voz e o violão de João Gilberto interpretando “Chega de Saudade”. Seu semblante se transfigurava à medida que ia detalhando o local, o clima, as pessoas e tudo o que se encontrava à sua volta, enquanto desfrutava daquela ocasião mágica. Assim também ocorreu com toda uma geração de jovens compositores nos idos de 1959.

Parece que essa “sobredeterminação,” como uma imagem projetada num espelho – quando a música ajuda a tecer a ocasião - aguça o sentimento de (des)prazer quando lembramos.

Caso o leitor não concorde com minhas observações, remeto-o para a leitura de um livrinho (muito substancioso), do cratense Paulo Elpídio de Menezes, - “O Crato de meu tempo”, Fortaleza: edições UFC, 2ª. edição, 1985.

Nele o autor faz uma descrição histórica de nossa cidade nos fins do século XIX, levando em conta não o calendário histórico-linear, aquele em que se vai marcando os acontecimentos numa escala evolutiva. O autor se vale dos ciclos da vida, dos ciclos festivos como forma de construir suas rememorações, que terminam por revelar uma história (social) da cidade e de seu povo. Em todos esses eventos ele cita os folguedos, as músicas, as cantigas, as brincadeiras de rua, as serenatas e descreve as letras. Enfim, fala de sua infância e adolescência revividas em sua memória enriquecida pela trilha sonora que marcaram sua lembrança.Então, o que seria do ser humano se não houvesse a música?

Acho mesmo que no Natal, assim como em outros ritos de passagem, e todos os ciclos festivos, a música ajuda muito a realçar as simbologias desses eventos. No Brasil a música natalina é marcada pela diversidade de criação.

As cantigas dos autos de natal no Brasil são expressões da cultura local. Acredito ser a música de Natal uma manifestação musical extraordinariamente rica, porquanto ela acompanha sob diversos ritmos e tons, os temas dos ciclos natalinos que se realizam em diferentes subculturas.

Por aqui tudo foi perfeitamente assimilado pelos diversos grupos que ensejaram a (des)ocupação paulatina do nosso território. No plano da música, os instrumentos, as danças, as cantigas, muitos ritmos, os autos, as coreografias etc. transplantadas por populações misturadas de todas as partes do mundo, foram acolhidas e até ressignificadas para permitirem sua continuidade no tempo...

Esse será o tema de hoje do Programa COMPOSITORES DO BRASIL. Vamos falar um pouco das músicas do natal brasileiro, de seus compositores e cantores. Lembrando da compositora Chiquinha Gonzaga, nascida em 1847, e que aos 11 anos de idade, em uma festa de Natal no lar, apresentou, com letra de seu irmão, sua primeira composição, uma música natalina: “Canção dos Pastores”.

Na sequencia:

UM NATAL BRASILEIRO, de Ivan Lins com Ivan Lins
FELIZ NATAL, de Martinho da Vila com Martinho da Vila
PRESENTE DE NATAL de Francisco Alves com Francisco Alves
ENTRADA DO BOI DE REIS, Colhido por Toinho Alves
NATAL TODO DIA, de Maauricio Gaetani, com Roupa nova
MENINO JESUS DE PRAGA, de Jorge Ben Jor, com Jorge Ben Jor
MENINO DEUS, de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, Clara Nunes
MENINO JESUS, de Geraldo Rocco, com Almir Sater
BOAS FESTAS, DE Assis VAlente, com Ná Ozzetti.
VÉSPERA DE NATAL, de Adorina Barbosa, com Demonios da Garoa
MENINO DEUS, de Caetano Veloso, com Caetano Veloso
NATAL DAS CRIANÇAS DE Belcaute, com Carequinha
CRÔNICA DO NATAL CAIPIRA, de Aldemar Paiva, com Rolando Brodrin

Quem ouvir, verá!

Programa: Compositores do Brasil
Rádio Educadora do Cariri (www.radioeducaroradocariri.com)
Telefone88) 3523-2705
Todas as quintas de 14 as 15 horas
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Operador high tech: Iderval Dias
Direção Geral: Dr. Geraldo Correia Braga


A musica e sua historia - Por Thays Mamedio.

RITCHIE.

Nascido na Inglaterra, morou em vários países, por ser filho de militar. Em 1972 conhece em Londres um grupo de brasileiros, inclusive alguns integrantes dos Mutantes, que o convencem a vir para o Brasil. A princípio fixa-se em São Paulo, mas em 1973 muda-se para o Rio de Janeiro, onde passa a dar aulas de inglês. Participa de várias bandas como flautista e vocalista durante dois anos até começar a atuar como cantor no grupo Vímana, ao lado de Lobão, Lulu Santos, Luiz Simas e Fernando Gama, e gravam um compacto. Em seguida a banda se desfaz, e praticamente todos os seus integrantes partem para carreiras solos.

Em 1983 Ritchie atinge grande sucesso com seu primeiro LP, "Vôo de Coração". Mais de um milhão de cópias vendidas com seus hits "Menina Veneno", "A Vida Tem Dessas Coisas", "Pelo Interfone" e "Vôo de Coração", que o levam a uma turnê nacional. Depois de ter se tornado um ídolo pop, Ritchie não conseguiu repetir a façanha, gravando mais discos e fazendo participações, mas nunca mais com o mesmo sucesso. Atualmente trabalha na produção de home pages e prepara um disco em inglês.

Menina Veneno.

MEL COM FARINHA - Por Mundim do Vale

O meu pai Pedro Piau chegou certo dia na casa dos seus compadres Zé Bitu e Vicentina e foi servido de um mel de engenho. Ele pediu um pouco de farinha e ficou tentando unir os compostos com uma certa dificuldade. Quando perdeu a paciência, coisa que ainda hoje ele não tem. Olhou Para Zé Bitu e falou:-
Compadre! Tem coisa no mundo mais trabalhosa, do que misturar mel com farinha?-
- Tem compadre. É separar depois de misturado.

Dedicado a francesinha/Varzealoegrense Fafá Bitu.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O NASCIMENTO DE JESUS - Por Vicente Almeida

Bem deferente essa istóra,
Desse minino Jesus,
Seu nascimento e sua gulóra,
Num cordel ele reduz;

O autor da prezepada,
Eu num conheço inhor não,
Mas passo pra rapaziada,
Ouvir prestando atenção;

Vem lá dos tempo de herode,
Aquele rei carnicêro,
Queria matar Jesus prumode,
Ser o único rei verdadêro;

Mais ele entrô puro cano,
Com sua misquinha intenção,
Pois o anjo suberano,
Num era de brinquedo não;

Os mago num atendêro
Vortá no mermo caminho
Pois num eram badernêro
E protegêro o minininho;

Vamo vortá pro começo,
Assista o vídeo premêro,
Se um comentáro mereço,
Mande brasa companhêro.


Créditos:Texto, Locução e Edição do vídeo: Euriano Sales. Ilustrações: Meg Banhos.

Versos externos, escritos por Vicente Almeida

Bispo cearense recusa homenagem do Senado em protesto contra aumento dos deputados e senadores




Dom Manuel Edmilson da Cruz receberia comenda de Direitos Humanos.
Eduardo Bresciani Do G1, em Brasília
Dom Manuel da Cruz (foto ao lado) durante sessão especial no Senado Federal nesta terça-feira (21) -- (Foto: J. Freitas / Agência Senado)
O bispo-emérito de Limoeiro do Norte (CE), Dom Manuel Edmilson da Cruz, recusou nesta terça-feira (21) receber uma comenda do Senado Federal. Ele afirmou que sua atitude era para protestar contra o aumento salarial de 61,8% aprovado pelos parlamentares em causa própria. A homenagem recusada por ele é a Comenda dos Direitos Humanos Dom Helder Câmara. A recusa do bispo foi feita em um discurso no plenário do próprio Senado. Ele criticou os parlamentares por aprovar o aumento deste montante para o próprio salário. “Quem assim procedeu não é parlamentar, é para lamentar”, disse.

O religioso afirmou que a comenda que lhe foi oferecida não honra a história de Dom Helder Câmara, que teve atuação destacada na luta pelos direitos humanos durante o regime militar.

“A comenda hoje outorgada não representa a pessoa do cearense maior que foi Dom Helder Câmara. Não representa. Desfigura-a, porém. Sem ressentimentos e agindo por amor e por respeito a todos os senhores e senhoras, pelos quais oro todos os dias, só me resta uma atitude: recusá-la. Ela é um atentado, uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão, à cidadã contribuinte para o bem de todos, com o suor de seu rosto e a dignidade de seu trabalho”, afirmou o bispo.
Ele destacou que o aumento dado aos parlamentares deveria ter como base o reajuste que será concedido ao salário mínimo, de cerca de 6%. “O aumento a ser ajustado deveria guardar sempre a mesma proporção que o aumento do salário mínimo e da aposentadoria. Isso não acontece. O que acontece, repito, é um atentado contra os direitos humanos do nosso povo”.

O senador José Nery (PSOL-PA) disse compreender a atitude do bispo. “Entendemos o gesto, o grito, a exigência de Dom Edmilson da Cruz”. Nery, que foi um dos três senadores a se manifestar na votação de forma contrária ao aumento, deu prosseguimento a sessão após a atitude do religioso.

Dom Manuel Edmilson da Cruz foi indicado para receber a comenda pelo senador Inácio Arruda (PC do B-CE). Além dele, foram indicados para a homenagem Dom Pedro Casaldáliga, Marcelo Freixo, Wagner de La Torre e Antônio Roberto Cardoso. Apenas este último também estava presente e discursou.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Surpresa boa não é para todo dia!!!


 Ao sair da URCA, hoje, lá pelas 10h, fui tomar  um cafezinho bem em frente à Universidade, quando me aparece uma pessoa simpática, sorridente, perguntando se eu era eu... (risos). Essa pessoa gentil me apresentou sua esposa e me teceu tantos elogios que gastei todo o “encabulamento” num só instante. Expliquei até que só sou “valente” na palavra escrita, mas a naturalidade e a simplicidade do acolhimento foi tanta que de repente pareceu que já nos conhecíamos.

Depois de devidamente apresentados, a conversa fluiu ligeira. Os sorrisos foram sinceros e fáceis... e a alegria de uma amizade que saiu do virtual para o real se fez de imediato.

Pois é, minha gente, conheci Dr. Sávio de Rajalegre. Me senti honrada e feliz,  pois ele veio ao Crato me conhecer. Uma gentileza que nunca recebi em minha vida...

Emoções à parte, espero um dia poder me reunir a outros do Sanharol com a mesma sincera alegria e amizade.

Claude Bloc

sábado, 18 de dezembro de 2010

E NEM DE JESUS! Por Mundim do Vale.

O meu pai Pedro Alves de Morais ( Pedro Piau ) Era escrivão do cartório do segundo ofício.E João Alves de Lima ( João Francisco ) Do primeiro ofício. Os dois cartórios ficavam na rua Major Joaquim Alves, em Várzea Alegre a menos de 50 metros de um para o outro.
Rita Valdeliz Correia, casada com Jesus Clemente, acumulava as funções de distribuidora e contadora da comarca, mas tinha dificuldade para fazer o seu trabalho. Sempre recorria ao meu pai ou a João Francisco.
Um certo dia meu pai estava lavrando uma escritura com uma certa urgência, quando chegou Valdeliz com quatro processos na mão. Colocou no balcão e falou:
- Pedro Piau. Distribúia esses processos para mim, que já tá com cinco dias que o juiz despachou e eu ainda não tive tempo.
Meu pai sem nem levantar a cabeça disse:
- Valdeliz. Eu sinto muito. Mas você teve cinco dias para distribuir e não distribuiu, agora vem no último dia, quando eu estou muito ocupado. Não vai dar não.
Valdeliz catou os processos e saiu para o outro cartório. Chegando lá encontrou João Francisco um tanto nervoso, mas resolveu arriscar:
- João. Distribúia esses processos, que eu só tenho prazo até amanhã. O escrivão sério ou brincando disse;
- E porque você não distribuiu? Não é você a distribuidora?
Valdeliz com expressão de decepção ainda quís salvar o seu problema dizendo:
- João Francisco parece que não gosta de mim.
- O escrivão respondeu cuto e grosso, como baga de charuto:
- E NEM DE JESUS!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

VIAJANDO PELA BR 116

Coragem ou loucura?
- Claude Bloc -


Comprei a passagem. Vir ao Crato é sempre uma alegria e por isso o entusiasmo me privou da razão. Comprei, então, essa passagem às cegas. Não atentei para um detalhe importantíssimo: o roteiro.

Pois é, nessa bobeira acabei vindo pela BR 116. Jaguaribe, Icó... Chegando em Icó a chuva começou a engrossar. Buracos à parte até aí a viagem foi normal. Vim de “Executivo” que deveria ter um mínimo de paradas e um certo conforto. Acostumada com o “lombo” dos ônibus dormi até esse ponto.

Depois disso, um senhor começou a bodejar. Parece que na parada havia tomado “chá de chocalho”. Contou mil histórias de “unha de gato”, chuva, roça, caminhão atolado, Brejo Santo alagado... Eita, uma verdadeira enfieira de histórias intermináveis. Creio que em outra situação eu até tivesse gostado de ouvir aquilo, mas em plena madriugada, olhos pesados de sono e o frio tomando conta da gente, embaçando os vidros, realmente não dava pra aguentar. E não adiantava tapar os ouvidos...

O tal senhor desceu em Milagres. Mas aí o ônibus seguiu rumo a Brejo Santo. Saindo de lá ainda debaixo de chuva, foi a hora de passar por uns 5 km de estrada de terra, (desvio), ou melhor, de lama. Barro e piçarra. E a chuva caindo. O ônibus parecia um barco em alto mar, andando a uns 5 km por hora e bambeando para um lado e pra outro. Um martírio para quem tem trauma de atoleiro.

Saindo de Fortaleza às 21:45, cheguei ao Crato às 8 da manhã. De Juazeiro ao Crato fui a única passageira. Crato? debaixo d’água. Rua José Carvalho um verdadeiro rio. Eu? De volta ao Crato.

Às 13:30h, na URCA, meu curso de Especialização. Depois de um baião com pequi.

Claude Bloc

NASCIMENTO DE JESUS - Por Jose Augusto de Lima Siebra.

Dedicado a Stela Brito Siebra - neta do grande poeta.

Meia-noite, meia-noite!

Acorda, escuta Belém!

Canta o galo anunciando

Que nasceu o Sumo Bem.

Numa pobre manjedoura

Entre os irracionais

Nasce o sol da meia-noite

Para a glória dos mortais.

Nasce pobre. O pobrezinho

Não tem berço e nem cortina

Sente frio, está envolto

Numa faixa muito fina.

Chora Jesus pequenino

Fitando o olhar materno

E ao seu vagido divino

Acorda e treme o inferno.

Chora Jesus. Lá no céu

Brilha a estrela do Senhor

Anunciando ao mundo

Que nasceu o Redentor.

Nasceu pobre cá na terra,

Aquele que fez o céu

Mas se ouve nas alturas

Glória in excelsis-Deo

Mensageiro do Senhor

Descendo lá das alturas

Vem trazer a boa nova

Para as pobres criaturas.

Ao chegar os pastorinhos

Com presentes carregados

Jesus estende os braçinhos

Sorri aos recém-chegados.

Apenas no horizonte

Brilha a loura madrugada

Correm todos pressurosos

Para a gruta anunciada.

SEXTA DE TEXTOS – Sávio Pinheiro


DEBULHA DE VERSOS
Dedico a Francisco Gomes da Silva (Nem)

O folheto ou romance, hoje cordel, significava para o homem simples do nordeste o jornal impresso, a revista, o noticiário, a novela e toda a fonte de informação necessária para o seu entretenimento. De origem ibérica – o escritor português Gil Vicente já publicava as suas peças teatrais em livrinhos pendurados em barbantes, daí a origem do termo cordel - esta prática entrou no Brasil através de narrativas orais até ser utilizado de forma impressa pelo grande editor e poeta paraibano, radicado no Recife, Leandro Gomes de Barros.

As proezas de Lampião, os milagres de padre Cícero, a trajetória de Antônio Conselheiro, a morte de Getúlio Vargas, as histórias de Príncipes e Princesas e os relatos de amor com final feliz complementavam o imaginário de vaqueiros, comboieiros, agricultores e tantos outros, de forma agradável e acessível.

Coco Verde e Melancia (o Romeu e Julieta do cordel) e o Romance do Pavão Misterioso (folheto que trouxe inspiração para a música e a novela) de José Camelo de Melo Resende; Os Doze Pares de França de Sebastião Nunes Batista; A Chegada de Lampião no Inferno de Zé Pacheco da Rocha (um dos folhetos mais editados do país); História do Soldado Vingador, O Dinheiro ou Testamento do Cachorro e o Cavalo que Defecava Dinheiro de Leandro Gomes de Barros; Proezas de João Grilo de João Ferreira de Lima e tantos outros clássicos era motivo de alegria e orgulho para os leitores, cantadores e declamadores. Os três últimos serviram de base para a peça O Auto da Compadecida, do genial Ariano Suassuna.

O aposentado Nem, do sítio Juazeirinho em Várzea Alegre no sertão nordestino, ex-comboieiro, ex-pedreiro e famoso declamador de versos, narrou-me, que era comum nas comunidades rurais, a prática da debulha de feijão: forma socialista de o pequeno agricultor beneficiar e armazenar a sua safra de grãos, sem a necessidade de utilizar os seus parcos recursos. Tudo era feito de forma comunitária, tornando as noites mais produtivas e animadas, pela formidável integração do grupo e pelas conversas prazerosas existentes.

Certa noite, após uma longa maratona dessa tradicional prática agrícola, pensou: - Já estou com os dedos calejados de tanta debulha e, pelo jeito, estou no prejuízo, pois o que trabalhei nessas noitadas todas dava de sobra para eu armazenar o dobro do que produzi este ano trabalhando sozinho. - A partir daí, aconteceu a sua grande reflexão e posterior descoberta.

Um velho amigo, ouvindo as suas lamentações, disse-lhe: - Olha Nem, você nunca percebeu, mas as pessoas lhe convidam para as debulhas de feijão não é devido ao seu trabalho, não! É por conta da sua prodigiosa memória e do seu grande talento para declamar versos. Você é quem faz a festa e quem incentiva a força produtiva dessa gente. Você sempre foi a grande atração da noite.
Sem pestanejar e de maneira segura, retrucou o amante dos cantadores de violas e dos folhetos de cordéis e, até então, o acomodado artista: - Ora veja! E eu com os dedos descascados de tanto debulhar feijão, podendo estar, apenas, debulhando versos.

# Francisco Gomes da Silva, o Nem, 88 anos, sabe de cor a maioria dos clássicos da literatura de cordel, alguns com mais de cem estrofes, que os declama, solenemente, para a dedicada esposa Antônia, que não se cansa em ouvi-lo.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Humor e romantismo - Por A. Morais

Eu não assisto os programas de humor de hoje em dia. Nada de humor, muita bobagem. Tudo não passa de um forçamento de barra sem criatividade. Veja este vídeo e compare.

Teresinha

COMO-É-QUE-PODE? - Por Vicente Almeida

Neste ato de vandalismo, a parte que mais gostei, foi a inocencia deles ao passar pelos guardas. E você?

SONHEI QUE ERA NATAL
- Claude Bloc -


Uma noite sonhei
Que era Natal...
Meu pai sentado na velha poltrona
Minha mãe sorrindo ao seu lado,
Tempo de pura festa!

Pela casa
A vida era leve !
Em toda parte havia cheiro de alegria
E a música enchia a alma de esperança
Pelo ano inteiro...

Guardei desse tempo
Este sorriso que mostro
Nas noites de Natal.
Essa fagulha que arde
E se exibe em meu peito
A cada ano...

Uma noite, sonhei que era Natal
Um Natal diferente
Como em todos os sonhos
Que não voltam jamais...

***

Feliz Natal a todos do Sanharol

Cada ano que passa...
Cada pequeno instante do Natal,
E cada pensamento que temos,
Sobre a importância dessa época,
Ficam marcados em nossos corações.
Os amigos, a família, as pessoas,
Que realmente importam para nós,
São o verdadeiro sentido da felicidade,
E da emoção que sentimos,
Ao comemorar uma data tão importante!
É tempo de acreditar no Amor!