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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

SAPRUMA BAITOLA VEIO - Por Mundim do Vale

Em Várzea Alegre já aconteceu de tudo. Certa vez Cícero Inácio, já com a idade bastante avançada, cismou de aprender a andar de bicicleta. Adquiriu uma de segunda mão de Chagas Chibata e levava para casa empurrando pela antiga rua do Juazeiro, quando Belezário perguntou: Pruque num vai amuntado Ciço? - É pruque eu tou levando premêro prumode amansar ela mais Quinco meu. Adispois é qui eu vou passar isquipando cum ela por aqui.

Chegando em casa todo mundo foi contra a idéia, mas ninguém conseguiu fazer Cícero mudar de opinião. Ele levou o filho Quinco quase na marra, para a avenida Figueiredo Correia, onde a largura e uma rampa, eram boa para o aprendizado. Só que no segundo quarteirão, tinha uma sobra de pedras de pavimentação, amontoadas para ser removidas pela prefeitura para outra rua.

Quinco começou a ensinar o básico. Pegava na cela e dizia: - Aqui é o acento, nas luvas dizia: - Aqui é as bainha dos guidom, nos pedais falava: - Aqui é os estribo. Agora pai se monta e eu fico sigurando no acento até pai aprender. Cícero muito afoito dizia: - É mais mió eu me apiar logo e você vai açoitando ela, qui é prumode eu já ir galopando. Quinco insistia: - Não pai ! premêro pricisa trenar cum ela parada. - Mais eu já amansei burro brabo, pruque num amanço uma bicicreta cheia de arame o burracha?


Quinco perdeu a paciência e falou: - Apois tá certo pai tá querendo então vá. Cícero montou, Quinco segurou na cela, deu um empurrão de ladeira abaixo e gritou: Sapruma baitola véi teimoso! Olha pra frente babiquara! Coidado cum as peda véi caduco! Cícero saiu costurando, assim como gráfico de exame cardíaco, depois pegou o rumo das pedras. Quico arrependido gritou: - Coidado pai! Isbarre essa bicha! – E adonde é o isbarrador? – è aí dibacho das luva do guidom. Foi tarde demais. Cícero caiu por cima das pedras, quebrou a bicicleta, o rosário e os seis dentes que ainda lhe restavam.

Soarim que passava no local com um pau de galinhas disse: - Ái vai! Ciço Inaço depois de véi deu pra ispaiá as peda da prefeitura? Quinco saiu correndo para socorrer o pai ainda falando grosseiro: - Eu num dixe qui isso num tinha fundamento. Ora, véi qui num presta mais pra nada, agora querer bancar faceirice inriba duma bicicreta. Cícero levantou-se capengando e falou com raiva: - Num presta mais é uma ova! Quem você pensa qui é? Tudo qui você sabe aprendeu cum eu. Eu insinei você a falar, pidir, caminhar, correr, mijar e beber e quando acabar você num quer insinar eu a andar de bicicreta.

Mundim do Vale

Reprise.

5 comentários:

  1. Mundin do Vale ainda se encontra em Jati. Viaja no Natal para passar com a familia em Fortaleza. Trocamos alguns emails nestes dias. Ele me confidenciou que o Joãozinho está meio desgostoso com Claudio Souza. Parece que o Claudio chegando em São Bernardo danou-se a participar de eventos, era prefeito prum lado e prefeito pru outro e Joãozinho ficou trancado no apartamento sem sair pra lugar nenhum. Joãozinho pediu arrego ao Mundim. Eu acho até que Mundim fará sua defesa. Vamos aguardar.

    Um abraço para Mundim, para o Claudio e para Joãozinho.

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  2. Joãozinho tem razão. A festa foi grande em São Bernardo, tem retrato pra todo lado e de todo mundo. Do Joãozinho só tem um e ainda é a padrasto dele olhando pra outro lado. Vou dar corda pra Mundim do Vale fazer uma boa defesa do Joãozinho e "nois" dar boas rizadas.
    Abraço Claudio se zangue não viu.
    JP

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  3. Mundim, gostei do detalhes do zig-zag do eletrocardiograma.Um abraço.

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  4. Mundim, essa tua postagem me fez rir demais e ao mesmo tempo lembrar como fui capaz de aprender a andar de bicicleta. Você sabe que Luiz me levava para o colégio de bicicleta e vivia preocupado como seria quando ele fosse estudar fora. Pois me ensinou e eu acabei ganhando a monareta da época. Ia para o colégio toda prosa rodeada de amigos para me ajudar quando chegasse na ladeira tanto no BECO DE GOBIRA como aquela atrá da bodega de papai. Aquela ladeira era difícil para quem não tinha força para pedalar. Então a turma fazia fila e empurrava cantando: " PEDALANDO CONTRA O VENTO SEM LENÇO SEM DOCUMENTO NUM SOL DE QUASE DEZEMBRO FAFÁ VAI..." Bom, quero um presente de Natal e aniversário do meu amigo poeta, deixo o mote: !"A MONARETA DE FAFÁ". Aguardo.

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  5. Ninguém ensina a andar de bicicleta, só muita coragem, meu irmão Luiz ficava sempre por perto com medo de uma queda, me protegendo. Um dia ele pisou num prego e não pode correr atrás de mim, foi aí que enfrentei o guidom e o pedal, perdi o medo e virei ciclista. Graças a nossa bravura, minha perna não atrofiou, segui meus estudos e hoje caminho numa boa. Palavra do ortopedista que me operou.
    Fafá

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