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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 27 de abril de 2019

Caririensidade


Quando  Crato era a “Capital da Cultura” do Cariri

Sede própria do Instituto Cultural do Cariri--ICC, localizada em frente ao Parque de Exposição de Crato. Uma instituição pujante nos dias atuais.

     As novas gerações desconhecem o fato. Mas Crato e Juazeiro do Norte mantiveram – até os anos 1980 – acérrima rivalidade. Em 1953, foi fundado em Crato o Instituto Cultural do Cariri (ICC), o qual, além de suas finalidades culturais, seria uma resposta da comunidade cratense, ao crescente crescimento econômico de Juazeiro. Vendia-se, assim a imagem de que Crato se constituía num polo de destaque e civilizador da região no setor cultural. Crato passou a ser chamado eufemisticamente “A Capital da Cultura do Cariri”. Somente em 1974, Juazeiro do Norte criou o seu o Instituto Cultural do Vale Caririense (ICVC) hoje em franca atividade. 

        Na monografia de mestrado da ex-reitora da URCA, Antônia Otonite de Oliveira Cortez, ela comentou assim este assunto: “Superando o poder econômico do Crato na região e constituindo um forte poder de barganha política junto aos governos estadual e federal, Juazeiro elaborou para si os adjetivos de “Cidade da Fé e do Trabalho”, “Metrópole Econômica”, mas nunca pôde ser adjetivada de cidade civilizada ou culta. Esses foram atributos do Crato, estratégias discursivas com as quais os “especialistas da produção cultural” passaram a defender, conscientemente, a superioridade do Crato na região, à medida que Juazeiro a superava no plano econômico e político”

Um marco no desenvolvimento do Cariri: a chegada da energia da CHESF

Acima, alguns caririenses que lutaram pela eletrificação do sul-cearense

   Como surgiu a ideia para a eletrificação do Cariri, pelo sistema da CHESF– Companhia Hidroelétrica do São Francisco? O jornalista cratense José Jézer de Oliveira escreveu no jornalzinho da Casa do Ceará em Brasília: “Tudo teve início quando, no ano de 1949, o professor José Colombo de Sousa, à frente de um grupo de concludentes do curso de Administração e Economia, de Fortaleza, visitou as instalações da usina hidrelétrica do São Francisco. Ali, surpreendentemente, constatou que a região do Cariri, pela sua localização geográfica, estaria inclusa no raio de ação da CHESF, para efeito de receber a energia a ser por ela gerada. Ao retornar à Fortaleza, Colombo de Sousa, através de entrevista ao jornal O POVO, deu a conhecer o fato, ao que se supõe ainda não do conhecimento das autoridades governamentais do Ceará”.

Crato adere à proposta de Colombo de Sousa

   Em face da repercussão da entrevista, Colombo de Sousa foi convidado pelo Rotary do Crato a proferir palestra sobre o tema. Sua fala foi o “pontapé” inicial da aguerrida campanha em favor da eletrificação do Cariri. Essa campanha mobilizaria as classes mais representativas da sociedade caririense, principalmente das cidades de Crato, Barbalha e Juazeiro do Norte. Em Crato, a primeira manifestação para a eletrificação do Cariri ocorreu, como se observa, em 1949. 

Juazeiro do Norte fortalece o movimento

Rua São Pedro, centro de Juazeiro do Norte, início da década 1960

    Em reunião na sede do “Clube dos Doze”, em Juazeiro, também com a presença de Colombo de Sousa, fundou-se o Comitê Pró-Eletrificação do Cariri, que tinha como Presidente o médico Hildegardo Belém de Figueiredo, residente em Juazeiro. O comitê era integrado por representantes de Crato e Barbalha. O objetivo desse comitê era dar suporte ao trabalho do professor Colombo de Sousa, junto às autoridades federais e à Diretoria da CHESF. Colombo de Sousa (que depois seria eleito deputado federal pelo Ceará) já gozava de prestigio político no Rio de Janeiro, então Capital do Brasil.

     Colombo de Sousa viajou para a então capital brasileira, acompanhado dos membros do Comitê Pró-Eletrificação do Cariri, e lá foram recebidos, no Palácio do Catete, pelo Presidente da República, Getúlio Vargas. Anos depois, pela segunda vez, esses membros do comitê tiveram audiência com o então Presidente Juscelino Kubitschek, o qual manifestou apoio ao Programa de Eletrificação do Cariri. Na audiência com Juscelino, Colombo de Sousa já estava investido do cargo de Deputado Federal pelo Ceará e tinha sido o autor da maioria das emendas ao orçamento, garantindo dos recursos da União para a concretização do grande sonho dos caririenses.

Enfim o Cariri foi eletrificado

     Dentro das comemorações pelo cinquentenário da criação do município de Juazeiro do Norte, em 1961, ocorreu a inauguração da energia de Paulo Afonso no Cariri. Era o dia 28 de dezembro de 1961, e a festa foi realizada em praça pública, na Terra do Padre Cícero.  O primeiro poste foi fincado na então entrada de Juazeiro, onde hoje funciona o supermercado Hiper Bom Preço, na Av. Padre Cícero. Crato, Juazeiro e Barbalha foram às primeiras cidades do Ceará a receberem energia da Companhia Hidrelétrica do São Francisco. No Cariri, para distribuição da energia fornecida pela CHESF, foi criada a Companhia de Eletricidade do Cariri (CELCA), empresa de economia mista, subsidiária da Sudene, mas com a participação acionária da própria CHESF, Prefeituras Municipais da região e, em escala bem menor, de particulares. A sede da CELCA ficava na cidade de Juazeiro do Norte. De lá para cá, Juazeiro só fez crescer em todos os sentidos.

Há 80 anos Salesianos chegavam a Juazeiro do Norte

 Colégio Salesiano Padre Cícero, em Juazeiro, nos dias atuais

     A data passou em branco. Mas é importante deixar registrado que há 80 anos, no dia 31 de março de 1939, a Congregação dos Padres Salesianos chegava a Juazeiro do Norte. Anos atrás, o site Miséria registrou como foram os primeiros dias das atividades dos padres salesianos na Terra do Padre Cícero. Consta na longa matéria do site Miséria os tópicos abaixo:

 “(...) Dois meses após a acolhida, na prática a gente juazeirense mostrou que mais que acolhedora era também solidária. Em 12 de maio sociedade e comércio juazeirense se cotizaram doando em dinheiro vivo a importância de $60.000,00 (Sessenta contos de réis) para que os Salesianos iniciassem imediatamente a construção do sonhado colégio pelo Padre Cícero”.

Santuário do Sagrado Coração de Jesus, no bairro Salesianos em Juazeiro

 “Já para construção da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, a Prefeitura de Juazeiro do Norte efetuou doação do amplo terreno onde existia antes a Praça Pio XII. Lembrou o Padre César Casseta (um dos párocos salesianos que passaram por Juazeiro) que:  “A bênção da pedra fundamental da Igreja, segundo nossos arquivos, data de 1955 e contou com a ilustre presença do Padre Renato Ziggiotti, 5º sucessor de Dom Bosco”.  Foram 20 anos entre e o lançamento da pedra fundamental e a inauguração do suntuoso templo”

 “O Colégio Salesiano Padre Cícero tornou-se uma referência de ensino em toda a região do Cariri. Em 07 de maio de 1978, a comunidade católica juazeirense ganhava o atual Santuário dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. Na Igreja, à entrada, consta uma placa: “Padre Cícero Romão Batista, os Salesianos atenderam ao seu pedido. Tenha sua alma tranquila no Céu”.

Já a criação da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, pela Diocese de Crato, data de 1975, durante o episcopado de Dom Vicente de Paulo Araújo Matos. O bairro -- onde fica o colégio e a igreja-matriz -- hoje se chama Salesianos. Os diversos párocos que por ali passaram, desde 1978 aos dias atuais, construíram várias capelas na vasta área da paróquia. Duas dessas capelas viraram, posteriormente, novas “Igrejas- matriz” das novas Paróquias de São João Bosco e a de Nossa Senhora Auxiliadora. Outras bonitas capelas, frutos da ação dos padres salesianos, foram construídas e dedicadas a São Domingos Sávio, Nossa Senhora de Fátima, Santa Teresinha. Todas, espalhadas pelos bairros citadinos de Juazeiro do Norte.

Um comentário:

  1. Mais um conjunto de informações importantes. Muito bom ler e lembrar o Crato e região de antanho onde a representação social, econômica, religiosa e politica se fazia impor prestigio, respeito e puder.

    Parabéns Armando.

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