Não é de hoje que o ser humano compra fiado e, por conseguinte, também não é novidade que uma grande parcela da população costuma atrasar os seus compromissos e, às vezes, chega até a esquecê-los completamente, para desconsolo dos pobres credores. Há registros de que até mesmo nas épocas mais remotas, quando predominava o chamado “escambo”, alguns aproveitadorzinhos se serviam da confiança de alguém mais desavisado para realizar trocas onde só haviam promessas de entregas futuras dos objetos, cumpri-las jamais. É provável que naquela época tenha começado a vigorar o chamado “fiado”, que atualmente tomou nomenclaturas mais amenas, tais como: crediário, crédito consignado, capital de giro, financiamento, etc.
Desde a crise de 2008, quando o mundo se viu envolvido em uma insolvência geral, brasileiros nunca tiveram tantas dívidas em atrasos nos bancos como agora. Dados recentes do Banco Central do Brasil dão conta que em fevereiro passado a cada R$ 100,00 emprestados às pessoas físicas R$ 14,05 estavam com atrasos nos pagamentos superiores a 15 dias. O relatório diz mais ainda que, entre várias linhas de créditos oferecidas pelos Bancos, os financiamentos para compra de veículos amargavam entre 5,5% a 8,4% de operações com atrasos entre 15 a 89 dias.
Atualmente está difícil andar na “linha” em termos de economicidade, pois os incentivos e a pressão para que as pessoas comprem cada vez mais vêm da mídia, dos filhos, netos, da sociedade consumista e, por vezes, até do próprio governo que, no afã de impulsionar o crescimento do país, insinua de todas as formas para que as pessoas comprem de qualquer maneira. Aí está, portanto, um prato cheio para os chamados “compradores compulsivos”.
Sabe-se que o ato de comprar, que seja à vista ou a crédito, é um processo muito complexo, principalmente para quem costuma planejar, reformar ações e, por fim, tomar iniciativas de forma responsável. A compra, quando é feita no momento e na hora certa, torna-se um ato prazeroso; no entanto, as aquisições realizadas por impulso, via de regra, provocam desalentos, vergonha e arrependimentos, muitas vezes sem retorno.
Um professor que tive na disciplina de planejamento estratégico definia que o ideal seria que todo o ser humano se considerasse como uma empresa. Ou seja, nossas ações deveriam ser focadas em planos e metas embasados num bom planejamento, levando em conta pelo menos cinco perguntas básicas que deveríamos fazer a nós mesmos sempre que desejássemos comprar algo importante ou que interferisse fortemente no nosso dia-a-dia: O que comprar?, como?, quando?, quanto? e, finalmente, porque comprar?
Sabe-se que mesmo para o comprador organizado já é difícil estabelecer e seguir esse escrutínio de indagações. Então, para um compulsivo essa estratégia passa-lhe por longe, pois antes da segunda pergunta ele já decidiu levar o sapato, a roupa, smart-fone, motocicleta, bicicleta, cama, sofá, carro etc...etc, desde que lhe sejam dados 10, 24, 30 ou até mesmo 60 meses para pagar.
Não estou aqui querendo dar uma de “economês”, muito menos de professor. Mas acredito que nesses tempos atuais em que a ferve de gastar tem nos contaminado dia-a-dia, talvez não seja demais apresentar aos leitores uma simples planilha que, se utilizada com o mínimo de maestria poderá, quem sabe, provocar mudanças de atitudes nos nossos comportamentos na hora de gastar. A mesma poderá ser adaptada de forma mais resumida, a fim de propiciar o acompanhamento e a avaliação simultânea de cada pessoa ou de uma família.
Os dados da planilha têm um conteúdo programático mais interessante se observamos que ela nos dá a condição de fazermos uma avaliação de como anda a relação do “ponto de equilíbrio” do nosso fluxo de caixa. Antes, porém, é bom explicitar o que venha ser “ponto de equilíbrio”. Ou seja, é o percentual de comprometimento dos nossos gastos variáveis em relação aos nossos custos fixos.
O importante é que façamos o possível para tentarmos equilibrar os dois grupos de gastos. A sugestão mais prática é, por exemplo, se uma pessoa/família tem renda mensal média de R$ 2.000,00, o ideal é que programe seus gastos fixos de modo que envolva no máximo R$ 1.000,00 por mês, assim ficaria mais fácil direcionar o restante da renda para gastos variáveis ou semi-fixos.
E o como definir o que são custos fixos e variáveis? Os fixos são aqueles que não variam em função da nossa renda mensal. Por exemplo: aluguel, água, energia residencial, alimentação, mensalidade escolar, etc.. Por sua vez, custos variáveis são as despesas que podem ser evitadas ou aumentadas sem levar em conta o que ganhamos, tais como: festas, roupas da moda, aniversário do filho ou do neto, viagens a passeio, uma cervejinha....., etc. Nada que um bom “Cartão de Crédito” não resolva, pelo menos até a próxima fatura chegar...............
Antônio GONÇALO de Souza
Analista de Projetos
Banco do Nordeste