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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 19 de abril de 2012

A Importância da Organização Financeira Pessoal - Por Antonio Gonçalo de Sousa.


Não é de hoje que o ser humano compra fiado e, por conseguinte, também não é novidade que uma grande parcela da população costuma atrasar os seus compromissos e, às vezes, chega até a esquecê-los completamente, para desconsolo dos pobres credores. Há registros de que até mesmo nas épocas mais remotas, quando predominava o chamado “escambo”, alguns aproveitadorzinhos se serviam da confiança de alguém mais desavisado para realizar trocas onde só haviam promessas de entregas futuras dos objetos, cumpri-las jamais. É provável que naquela época tenha começado a vigorar o chamado “fiado”, que atualmente tomou nomenclaturas mais amenas, tais como: crediário, crédito consignado, capital de giro, financiamento, etc.

Desde a crise de 2008, quando o mundo se viu envolvido em uma insolvência geral, brasileiros nunca tiveram tantas dívidas em atrasos nos bancos como agora. Dados recentes do Banco Central do Brasil dão conta que em fevereiro passado a cada R$ 100,00  emprestados às pessoas físicas R$ 14,05 estavam com atrasos nos pagamentos superiores a 15 dias. O relatório diz mais ainda que, entre várias linhas de créditos oferecidas pelos Bancos, os financiamentos para compra de veículos amargavam  entre 5,5% a 8,4% de operações com atrasos entre 15 a 89 dias.

Atualmente está difícil andar na “linha” em termos de economicidade, pois os incentivos e a pressão para que as pessoas comprem cada vez mais vêm da mídia, dos filhos, netos,  da sociedade consumista e, por vezes, até do  próprio governo que, no afã de impulsionar o crescimento do país, insinua de todas as formas para que as pessoas comprem de qualquer maneira. Aí está, portanto, um prato cheio para os chamados “compradores compulsivos”.

Sabe-se que o ato de comprar, que seja à vista ou a crédito, é um processo muito complexo, principalmente para quem costuma planejar, reformar ações e, por fim, tomar iniciativas de forma responsável. A compra, quando é feita no momento e na hora certa, torna-se um ato prazeroso; no entanto, as aquisições realizadas por impulso, via de regra, provocam desalentos, vergonha e arrependimentos, muitas vezes sem retorno. 

Um professor que tive na disciplina de planejamento estratégico definia que o ideal seria que todo o ser humano se considerasse como uma empresa. Ou seja, nossas ações deveriam ser focadas em planos e metas embasados num bom planejamento, levando em conta pelo menos cinco perguntas básicas que deveríamos fazer a nós mesmos sempre que desejássemos comprar algo importante ou que interferisse fortemente no nosso dia-a-dia: O que comprar?, como?, quando?, quanto? e, finalmente, porque comprar?

Sabe-se que mesmo para o comprador organizado já é difícil estabelecer e seguir esse escrutínio de indagações. Então,  para um  compulsivo essa estratégia passa-lhe por longe, pois antes da segunda pergunta ele já decidiu levar o sapato, a roupa, smart-fone, motocicleta, bicicleta, cama, sofá, carro  etc...etc, desde que lhe sejam dados 10, 24, 30  ou até mesmo 60 meses para pagar.     

Não estou aqui querendo dar uma de “economês”, muito menos de professor. Mas acredito que nesses tempos atuais em que a ferve de gastar tem nos contaminado dia-a-dia, talvez não seja demais apresentar aos leitores uma simples planilha que, se utilizada com o mínimo de maestria poderá, quem sabe, provocar mudanças de atitudes nos nossos comportamentos na hora de gastar.  A mesma poderá ser adaptada de forma mais resumida, a fim de propiciar o acompanhamento e a avaliação simultânea de cada pessoa ou de uma família. 

Os dados da planilha têm um conteúdo programático mais interessante se observamos que ela nos dá a condição de fazermos uma avaliação de como anda a relação do “ponto de equilíbrio” do nosso fluxo de caixa. Antes, porém, é bom explicitar o que venha ser “ponto de equilíbrio”. Ou seja, é o percentual de comprometimento dos nossos gastos variáveis em relação aos nossos custos fixos. 

O importante é que façamos o possível para tentarmos equilibrar os dois grupos de gastos. A sugestão mais prática é, por exemplo, se uma pessoa/família tem renda mensal  média de R$ 2.000,00, o ideal é que programe seus gastos fixos de modo que envolva no máximo R$ 1.000,00 por mês, assim ficaria mais fácil direcionar o restante da renda para gastos variáveis ou semi-fixos. 

E o como definir o que são custos fixos e variáveis? Os fixos são aqueles que não variam em função da nossa renda mensal. Por exemplo: aluguel, água, energia residencial, alimentação, mensalidade escolar, etc.. Por sua vez, custos variáveis são as despesas que podem ser evitadas ou aumentadas sem levar em conta o que ganhamos, tais como: festas, roupas da moda, aniversário do filho ou do neto, viagens a passeio, uma cervejinha....., etc. Nada que um bom “Cartão de Crédito” não resolva, pelo menos até a próxima fatura chegar............... 

Antônio GONÇALO de Souza

Analista de Projetos

Banco do Nordeste

5 comentários:

  1. O Professor Antonio Gonçalo de Sousa dar uma verdadeira aula de economia. Oportuna por demais para o momento em que o brasileiro é o povo mais desorganizado e endividado do mundo.

    Infelizmente não deu para salvar um anexo com um fluxo de caixa explicativo, mas nada mais era do que a informação de que quem tem uma receita de 2.000,00 não deve nem pode gastar mais do que 1.800,00.

    Essa proporção vale para qualquer outro valor.

    Ao professor Antonio os nossos agradecimentos.

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  2. O governo que se diz defensor dos pobres, para salvar os grandes, incentivou o endividamento pessoal da nação. Emitiu MP para um só Banco destruir o orçamento dos aposentados e funcionários públicos em geral. O povo foi na conversa. Hoje endividado e tomando remédios para dormir, embora ande num carro importado, devendo 60 suaves prestações. Só vai dormir em paz quando devolver o carro a revenda, esta só vai quebrar quando encher o patio sem ter a quem vender. Não se resolve o problema de hoje, empurrando com a barriga para amanha.

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  3. O depoimento mais acertado foi dado em uma reunião com o público de uma associação Comunitária aqui do Município de Benedito. Um agricultor participante da reunião, onde estávamos discutindo assuntos relacionados ao Crédito Rural e outros tipos de empréstimos, ele pediu a palavra e disse: Senhor Bitu!!!!, Pobre não era pra viver, ele é como cachimbo, só leva fumo, ele é como um toco, deitado parece um porco. Mais um detalhe, só enche a barriga quando morre afogado. Sinto-me constrangendo o quanto o colega Antonio Gonzalo de Sousa com o tratamento que é dado pelos nossos gestores com vista à classe dos mais humildes. Infelizmente, o que chega ao seu poder é apenas pequenos paliativos, objetivando calar suas bocas e continuarem na mesma miséria.

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  4. O assunto é abrangente, envolve vários níveis sociais. Com relação ao pobre, como relatou nosso amigo João Bitú em seu comentário, a situação é na verdade muito constrangedora. Pior é que os jovens de hoje estão ficando cada vez mais endividados, a maioria usam o crédito para transmitir um padrão de vida maior do que o real, e por ai vai...

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  5. Sr. Antônio Gonçalo de Souza

    Uma belíssima crônica sobre economia com linguagem simples, sem aqueles economês chato. o visitante terá, além de outros assuntos, uma importante dica de como melhor cuidar de suas finanças. O blog com essa postagem cumpre sua função de: Divertir, informar e orientar os conterrâneos e demais visitantes do blog.

    Parabéns!

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