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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 30 de novembro de 2022

O TALENTO DE CASEMIRO VENCE A RETRANCA - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.

O suiços inventaram a retranca no futebol, em 1938.

Por que não usá-la contra o Brasil, no Qatar?

Isso produziu dificuldades para o time brasileiro.

A jogada de ruptura de Vinícius Junior, pela esquerda, teve marcação dobrada.

Pela direita, Rafinha fez uma única jogada (passe para Vinícius Junior, na única oportunidade de gol). Por dentro, Fred, Paquetá e Richarlison tiveram ações anuladas.

Militão e Alex Sandro são muito burocráticos.

No segundo tempo, Tite mexeu ao fazer entrar Rodrigo, Bruno e, depois, Gabriel de Jesus e Antony.

Um pouco mais de mobilidade, domínio mantido e melhor projeção de Vinícius Junior, foi o que se observou.

Mas, foi o talento de Casemiro que evitou o empate sem gols, com um tento espetacular.

Não foi um jornada com brilho. Valeu o segundo triunfo.

terça-feira, 29 de novembro de 2022

A Humildade triunfou - Por Antônio Morais

Seleção brasileira  esperando  o trem em Poços de Caldas - Minas Gerais antes de embarcar  para Suécia, em 1958 onde foi campeã mundial pela primeira vez.

Difícil imaginar as estrelas de hoje numa situação como esta. Mas é uma bela recordação.

Foto - Da esquerda para direita : Nilton Santos, Dino Sani, Gilmar, Beline, Garrinha, Moacir, Dida, Joel, Mazola, Zagalo e Pelé.

COMPANHIA DA SAUDADE - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.

Quando escrevo, me bate uma saudade que chega a incomodar.

Me pergunto como fui sair do Cariri, um lugar ao qual pertenço, embora não tenha nascido lá.

Pergunto pelas cidades e pessoas que não encontro mais e, mesmo assim, insisto no pertencimento.

Os inevitáveis ciclos de vida da gente se fecharam, restando deles apenas o perfume. Toda época tem seus cheiros.

Procuramos nos aquietar no passado, onde tínhamos pouco entendimento das coisas e acreditávamos em quase tudo que nos diziam.

As águas do passado voltam mastigadas pelo tempo e a nossa vida é feita de bons bocados dele.

Em um divã imaginário, pergunto se o presente é tão doloroso assim, para se achar que os tempos passados eram melhores.

Se não eram, por que nos aprisionam tanto? Seria um exercício nostálgico que nos ajuda a viver?

Escrever essas coisas sobre saudade e passado funciona como um ato de respirar e deixar o espírito leve.

"O passado é um segundo coração que bate dentro de nós". Henry Bataille, francês.

domingo, 27 de novembro de 2022

Do seriado "Coisas da República" - Por Armando Lopes Rafael.

 "Memórias republicanas de Crato: a “Lei de Chico Brito”

 
Cel. Francisco José de Brito

   O fato abaixo seria impensável no Brasil Império, nação constitucional e cumpridora das leis vigentes, emanadas do Parlamento. Mas a monarquia foi derrubada em 15 de novembro de 1889 e a coisa mudou...

   Entre 1896-1912 – por 16 anos – governou o Ceará a oligarquia dos Accioly. Vem de longe, como se vê, a tradição de “famílias importantes” dominarem o poder no Ceará. Era “Intendente” de Crato, àquela época, o Cel. Antônio Luiz Alves Pequeno, fiel ao clã dos Accioly. “Intendente” era como se chamava (no início dos conturbados tempos republicanos), o atual cargo de “Prefeito Municipal”. Derrubado o Governo Accioly, assumiu o Coronel Franco Rabelo. Este, nomeou como novo intendente de Crato seu aliado, o Coronel Francisco José de Brito.

     O antigo intendente, Antônio Luiz Alves Pequeno, não quis entregar o cargo. O Coronel Francisco José de Brito, inteligente e astuto, foi ao então sítio Lameiro (que anos depois viraria distrito e hoje é um bairro citadino de Crato)  e de lá trouxe até a Praça da Sé (onde ficava o prédio da Intendência, hoje túmulo do antigo Museu de Artes Vicente Leite) um grupo de amigos. Encontrando a Intendência fechada, arrombou a porta e sentou-se na cadeira antes ocupada pelo Cel. Antônio Luiz Alves Pequeno, Intendente anterior. 

    Nisto apareceu o Dr. Irineu Pinheiro, sobrinho do Cel. Antônio Luiz. Irineu (considerado um dos maiores historiadores do Cariri) ficou revoltado ao ver a cena  e perguntou:

– “Mas qual é  lei que o Sr. se arrima para assumir a Intendência”?

     O Cel. Chico de Brito, tranquilamente, sentenciou:
– “É a “Lei de Chico de Brito”! Esta lei eu mesmo fiz. E estamos conversados”.

sábado, 26 de novembro de 2022

O NOME DELE É RICHARLISON - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.

 

"Eu só quero uma bola", disse Richarlison. Teve duas, no segundo tempo, e iluminou o céu do Qatar.

Na fase inicial, a ação de dois extremas - Raphinha e Vinícius Júnior - que deveria lhe  municiar, não funcionou. Foi uma seca de bola.

Raphinha sentiu a estreia e Vinícius Júnior teve marcação dobrada.

Por dentro, apesar de uma portentosa atuação de Casemiro, Neymar e Paquetá não foram bem.

Adicione-se o apoio contido dos alas Danilo e Alex Sandro.

O Brasil teve o controle do jogo, o que não quer dizer que jogou bem.

As linhas defensivas da Sérvia obliteraram as tentativas da seleção.

Valeu para o segundo tempo a sustentação que o time de Tite manteve em controlar as ações, para que Vinícius Júnior, em duas jogadas, proporcionasse a Richarlison a consagração dos dois gols.

O sem pulo no segundo gol foi espetacular.

Com as modificações que foram sendo feitas - Rodrigo, Antony e Fred -, o Brasil amassou o time da Sérvia.

Coube um placar mais elástico, pelo futebol que a seleção brasileira jogou no segundo tempo.

Não naufragar no desengano - Por Rodson Pereira Sales, colaborador.

 

O mundo está mudado;

Não vejo fraternidade,

não vejo mais humanidade,

nem mesmo no meu lugar.


Perdido,

sem proa,

não vejo mais para onde navegar.

O farol apagou-se,

obscureceu-se o conhecimento.


Serão os tempos,

como diria Cícero?

Não o duvido.

Porém me resta, 

não naufragar no desengano da desesperança.

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

A JANELA DA CASA DA FRENTE - Do outro lado da rua - Por Xico Bizerra.


Estava tão perto, bastava atravessar a rua, no caso, a Avenida Teodorico Teles, onde morava Padim Zuza, meu avô. Do outro lado, ela e seu sorriso, à mesma distância, claro. A vontade de ir até àquela janela do outro lado só era menor que a timidez que impedia seu atravessar. Coisa de adolescente. Sempre, à mesma hora, o ritual repetido: debruçar-se à janela, aprumar a vista para a janela da casa de frente, sonhar. Sabia que ela tinha o mesmo desejo e a mesma timidez, por isso, o mesmo ritual.

Era a melhor parte das férias. Numa tarde de um junho quase julho passaram pela rua que os separava quase 30 fuscas, duas freiras e uma carroça carregando móveis usados, puxada por um cavalo castanho. Seu irmão menor viu e contou. Ele mesmo nada percebera além do debruçamento da menina à sua frente. Apenas praquela janela tinha olhos.

Nas férias seguintes, a casa da janela enfeitada foi alugada a outra família. Foi a pior parte das férias. Numa tarde, ele contou 41 fuscas passando pela rua, a maioria deles branco. Duas freiras voltaram a passar. À tardinha, bem lentamente, passou uma carroça de saudades puxada por um cavalo azul.
Xico Bizerra

Xico Bizerra - Postagem do Antonio Morais.

 

Xico Bizerra.

"Desembuchei no mundo numa cidade cearense chamada Crato, nos calcanhares da Serra do Araripe, avizinhada, parede-e-meia, com o Pernambuco. Por aquelas bandas, se nasce sentindo as baforadas do baião, se toma mingau com gosto de xote, a chupeta já vem melada com o açúcar do xaxado. Além do mais, ao sair do bucho da mãe, já bate nas ‘oiça' da gente um violeiro, um cantador ou um cego de feira, do outro lado da calçada, cantarolando Gonzagão. Como não se apaixonar pelo rei Lua? Assim, fui balançado na rede ouvindo o acalanto Gonzagueante e sentindo no pau da venta o cheirinho bom da terra do sertão. Para completar, minha mãe tocava bandolim, quando não tava namorando com meu pai. Daí, o gosto pela música, conseqüência de uma relação quase umbilical."

O INÍCIO

Assim, Xico se descreve. Lembra que desde os 14, 15 anos já compunha umas ‘besteirinhas’. Meio por timidez, meio por falta de tempo para dedicação integral (um dos seus defeitos, segundo ele, é a utopia de querer fazer as coisas sempre bem feitas) foi ‘embauzando’ as composições, guardando-as só para si. Até que, com a proximidade da aposentadoria e percebendo o processo ‘pinelizante’ dos colegas que se aposentavam, resolveu que, no período de ‘vagabundagem’ que se avizinhava, valeria a pena fazer algo prazeroso, que lhe afagasse a alma... afinal, 28 anos cumprindo obrigações burocráticas atrás de um birô e em viagens por esse ‘Brasilzão’ – vivia à cata de ‘picaretas’ do setor financeiro, era Inspetor do Banco Central – mereciam uma recompensa do ponto de vista da satisfação pessoal.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Um jogo inusitado - Postado Por Antonio Morais



Logo após a Copa do Mundo de 1930, no Uruguai, o esporte bretão tomou um grande impulso no Brasil. Multiplicaram-se os campos improvisados! As bolas para a pratica do esporte iam desde as feitas com bexigas de boi até as de pano.

Em Várzea-Alegre, talvez tenha acontecido a mais inusitada partida de futebol daqueles dias. O campo era um curral onde as duas porteiras, abertas apenas com o pau de cima, serviam de balizas e a bola era uma almofada de bilros. As duas equipas se posicionaram para iniciar a disputa. Há quem diga que houve até um minuto de silencio; não se sabe para quem.

Quando o arbitro deu o silvo inicial, os bandos contendores se "abofelaram" e a poeira cobriu. O juiz ficou perdido no meio da pancadaria e só conseguiu encontrar o apito cinco minutos depois. Com vários e altos silvos longos, conseguiu parar a tourada, mas o estrago já estava feito! Acalmados os ânimos e baixado a poeira, a almofada tinha desaparecido, dez braças de cerca estavam no chão e meia dúzia de contundidos baixaram à "enfermaria" que era uma bodega nas proximidades: cada um tomou um oito de cana para não gripar.

Coronel Ronald Brito.

Se for mentira, eu grele - Por Pedrinho Sanharol.

 

Nas olimpíadas regionais de 1954 o Quixará e Várzea-Alegre foram os finalistas na modalidade "Caçada de Tatu".  

Enquanto o representante de Várzea-Alegre tomava cerveja gelada com os amigos na bar do Geraldo Marinho, o do Quixará cuidava de dois cachorros caçadores,  fortes e bem treinados.

Quando o fiscal deu o silvo inicial os contendores foram a luta na Serra do Barreiro do Jorge. 

Ao retornarem o caboclo do Quixará trazia no saco 8 tatus, o de Várzea-Alegre 12.

Descobriram a fralde, o varzealegrense havia levado um bujão de gás, daqueles pequeno. Soltava a mangueira no buraco, abria e o tatu sufocado fazia finca pé e era abrecado na saída. 

Com justiça anularam a competição e marcaram outra para o dia seguinte.

Encurtando a história, na volta o moço do Quixará, todo confiante trazia com ele 12 tatus, mas que nada, o sagaz caçador de Várzea-Alegre trazia a tiracolo um saco com 15 tatus.

Descobriram uma nova fralde, o camarada tinha levado um chocalho e quando batia tengo, tengo, tengo, tengo na boca do buraco, o tatu dizia : É o "caba" do gás e fazia carreira no giro de fora sendo atracado na saída.

Descoberto a nova traquinagem, adiaram a decisão da modalidade para uma data posterior e até hoje não chegaram a um consenso. 

O troféu está esperando pelo vencedor.

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

O AMIGO DINHEIRO - Postagem do AntônioMorais.

Acumulou riquezas, poupou alegrias. Pensou que ser feliz era juntar dinheiro, bens. E assim fez a vida inteira. Privou-se de tudo que não fosse necessidade e ficou rico. Desconheceu o que de bom a vida ofertava, não viveu.

Mas seu enterro foi cerimônia de primeira qualidade: presentes, os filhos e a viúva. Seu ataúde foi o mais caro que se encontrou para comprar. 

Na missa de 7° dia ouviu-se pouco choro. O Padre não faltou e celebrou a missa com a Igreja quase vazia: de gente, de dinheiro e de bens.

Xico Bizerra.

METAMORFOSE KALEIDOSCÓPICA,ao Antigo Quixará - Enviado por Robson Pereira Sales.

Matriz de Quixará, edificada por Frei Henrique José Cavalcante, nos idos de 1868.

I

Era manhã. Entramos na cidade

Os meus olhos procuraram com ansiedade

Ao descortino da velha Quincocá!

- Que terra estranha é esta? – Farias Brito...

E minh’alma incontida aliou n’um grito:

- Ó Deus! E onde fica o Quixará?

II

E qual um autômato descendo do transporte

Não sabia onde o sul nem onde o norte

Desorientado que estava em pleno dia.

- E a casa onde nasci aonde estava?

E o Rio Cariús? – Tudo indagava...

E quanto mais olhava, menos via!

Revestido de calma e concentrado

Revejo o panorama do passado

Redevivo que está na lembrança

Mas tudo diferente e reformado

As coisas do presente e as do passado

Ao meu distante tempo de criança

III

Sobradinho que nas manhãs e nas tardinhas

Alegres chilriando nos beirais

Transformou-se também o meu sobrado!

Meu Deus, como tudo está mudado

Que diferença do tempo dos meus pais!...

E o Cruzeiro em frente a Matriz?

Indago sobre o mesmo Ninguém diz

O fim d’aquele marco centenário...

Foi vítima também do tal “avanço”

Entrou na nova conta no balanço

Ao modernismo iconoclasta de um vigário!

IV

Aquela árvore talvez bi-secular

Detrás da igreja, materna a agasalhar

Milhões de abelhas, incontáveis ninhos,

Também um Átila cruel às machadada,

Desfazendo aquela sombra das ramadas

Onde alegres trinaram os passarinhos.

V

Entrei na Igreja. Também estava mudada

Aquela imagem da Virgem Imaculada

Que eu via do tempo de menino,

Não era a mesma. Meu Deus quanta mudança!

Fazendo-me olvidar (doce lembrança!)

Badalar plangente do seu sino

VI

Retiraram também do pé do altar

Do Padre Joaquim Sóther de Alencar

A lousa branca que dizia “Ele morreu”!

- “Padim sota” – onde o colocaram?

E as paredes em vibração ecoaram:

“Há tantos anos que ele está no céu”!

VII

A capelinha do nicho alvinitente

Onde eu com carvão (era inocente)

Riscava nas paredes laterais

Inda é a mesma do meu tempo de garoto?

Tive a impressão de ouvi-la: “Oh! Seu maroto!”

E sorrindo: “Não me venha você me riscar mais...”

VIII

Tudo está diferente em minha terra!

Não mudará jamais a velha serra,

A gentil e dadivosa Quincocá!

Sentinela perene, até parece

Um monge com seu povo a fazer prece

Na certeza que Deus o escutará

IX

Até o próprio nome lhe mudaram!

- Meu Quixará – Por que o apelidaram

Por um homem que você nem o conheceu

Até parece você com este crisma,

Ter o seu povo sofrido um novo cisma!

Neste caso você foi quem perdeu...

- Meu Quixará... você está esquisito

Com este nome assim: - “Farias Brito:”

Perdoe-me, mas não o reconheci...

Que diferença você com tanto brilho!

Está mais jovem do que eu, que sou filho

Que em vez de recomeçar... envelheci!...

Do Livro Cantares, Albis Irapuan Pimentel, obra póstuma, 1998.

terça-feira, 22 de novembro de 2022

O FUTEBOL NOS AJUDA A VIVER - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.

 

Como disse o grande Eduardo Galeano: "Diante do futebol, a cidade desaparece, a rotina se esquece".

A bola já está rolando na Copa do Mundo do Qatar.

Sob muitos aspectos, o futebol explica a vida. E mais do que isso: desafia a vida, a lógica e a lei da física.

Jogar futebol e viver a vida se confundem.

O jogo se impõe como grande arte, sobrepujando os protocolos rígidos e sufocantes.

Espelha o que somos culturalmente.

"Cesse tudo quanto a antiga musa canta, que outro valor mais alto se alevanta". Esse valor é o futebol.

Viva o futebol!

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

QUEM GANHA A COPA - Wilton Bezerra, comentarista generalista.

 

Futebol é visto, jogado,  estudado e imponderável.

Nessa modalidade fascinante pangaré pode ganhar de um puro sangue.

Um desses frasistas que o futebol produz disse do alto dos seus sapatos: "Futebol não tem lógica mas a lógica sempre prevalece".

Gritaram em um ouvido mouco: "Quem ganha a Copa do Mundo no Qatar ?"

A resposta do ouvido: "Não sei, ignorante. Mesmo que soubesse não lhe diria."

Pois é assim. Nesse emaranhado só é possível intuir.

As análises serão sempre imprecisas assim como os palpites.

Só sabemos dizer o sequinte: quem conseguir chegar em pé ao cabo sete jogos leva.

Estão vendo como é dificil cravar um vencedor desse torneio que será visto por 5 bilhões de pessoas, somente pela televisão ?

Hungria, Holanda e Brasil, em 1982, ainda perguntam porque não foram campeões se tiveram melhores seleções.

O importante nisso tudo é que a emoção sobreviva.

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

NO CLIMA DA COPA - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.

 

Tá pensando que vai encarar o tic-tac do tempo com a mesma marra de antes?

Bota a bola no chão e não pense, porque o clima é de Copa do Mundo e você pode tudo.

Certo. Estamos conscientes que, durante uma Copa, as ruas se enfeitam, as pessoas celebram e se vingam da mediocridade dos governantes, da falta de emprego, do massacre do meio ambiente, da piora da vida, dos etcéteras e coisa e tal.

Por isso, não vá encher o "tanque", sem condição de receber gasolina batizada. Olha a morte súbita no jogo da existência.

Porque a bola está rolando, não entres em uma pelada achando que é um jogador em plena atividade.

Preste atenção no remelexo do "fole" depois de um certo esforço.

Os carnavais já vividos dão os seus sinais no joelho, na panturrilha, no tornozelo, no tendão de aquiles, na batida do peito após leves sprints.

Te cuida, macho! Tu tá ficando é velho, não é doido não.

Quem avisa amigo é.

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Coronel Raimundo Augusto - Por Antônio Morais

Almoçando o inimigo antes que ele nos jantasse, Cel. Raimundo Augusto dá combate a Lampião no sitio Tipi em Aurora. Entre os cometimentos atribuídos ao Cel. Raimundo Augusto figura o combate que este frente a seus cabras teria sustentado contra o bando de Lampião, no ano de 1927. Muito bem armado com os fugis e os mosquetões recebidos de Floro para dar perseguição a Coluna Prestes, o famoso bandoleiro demorava no sitio Tipi, em Aurora, enquanto planejava o ataque contra Lavras da Mangabeira. A cidade de São Vicente Ferrer com o seu comercio e as suas riquezas havia despertado a cúbiça no temível cangaceiro, encorajando-o a praticar o saque. Já os donos do Tipi eram inimigos declarados do Clã lavrense. Então, por que esperar? Almoçar o inimigo antes que ele nos jante, decidiu o Coronel. E, assim foi feito. Sem perda de tempo Raimundo Augusto reuniu seus cabras e arrojou-se de surpresa sobre o bando facinoroso. Após breve combate Lampião e os do seu bando fugiam, deixando no local da refrega armas, mantimentos e vários cavalos de montaria do bando, que não puderam conduzir. Dias depois, na propriedade do Coronel António Joaquim de Santana, na Serra do Mato, onde o bando costumava esconder-se, António Ferreira, irmão de Lampião, recriminava em versos, ao som da sanfona, a imprudência do irmão:

Lampião bem que eu te disse,
Que deixasse de asneira,
Que passasse bem por longe,
De Lavras da Mangabeira.

UM BREVE RELATO SOBRE A ENIGMÁTICA E HISTÓRICA CAPELA DE NOVA BETÂNIA EM FARIAS BRITO-CE - Por Robson Pereira Sales.

Segundo fontes do velho Cel. Francisco José Leite, homem que nasceu e viveu em Quixará e que nunca arredou pé dali, nem mesmo para ir ao Crato. Fiel congregado mariano. 

Há 172 anos atrás, nos idos de 1850, num lugar denominado "Barreiros” do “Cariús”, hoje atual vila de Nova Betânia, um cidadão, irmão do Barão de Aquiraz, foi que mandou construir uma Capela dedicada a Virgem das Graças.

Depois de terminada a capela, na primeira noite, a senhora do referido cidadão ouviu certos estalos para àquelas bandas, o que levou a ficar preocupada, chegando a alertar o senhor, seu marido, que afirmou que eram as vigas que estavam se “endireitando” após serem colocadas.

No outro dia, ao raiar do sol, deram-se conta que a Capela havia desmoronado. Caíra totalmente. Movidos pela devoção à Santíssima Virgem, tornaram a reconstruir novamente, porém, ela tornou a cair. Somente ao ser reconstruída por um Rev. Pe. Sousa, ficou ereta até os tempos atuais, fazendo parte da Paróquia do antigo Quixará.

Dizem os antigos, que Dom Luiz Antonio dos Santos, em passagem por São Mateus, hoje Jucás, vinha até aquela capela, onde crismava e celebrava os seus atos religiosos. Não ia à Quixará, bem perto dali, pois lá não havia Capela naqueles tempos remotos. Destarte, os moradores do Sítio “Escondido”, vizinho à povoação de Quixará, fizeram um pequeno apartamento de tijolo e telha, a fim de que se alojasse o Sr. Bispo, para que se pudesse crismar muitas criançinhas no povoado.

O quartinho ficou sendo chamado pelo povo de Nicho. Era para ter sido dedicado ao Apóstolo Pedro, considerado como a “pedra” fundamental da Igreja. Em 1933, os vicentinos, arautos da caridade, o reconstruíram, aumentando-o e ficando Capela dedicada a S. Vicente de Paulo. 

Os fatos escassamente narrados somam-se à história eclesiástica do antigo Quixará e enriquecem largamente a nossa história.

Narração de J. Calíope de Araujo.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Se a Monarquia é um sonho, a República é um pesadelo – por Armando Lopes Rafael (*)

 


  

    Hoje, o dia amanheceu literalmente sem sol. Justo neste dia que era para se comemorar a “proclamação” da República. Ao invés de comemoração a data sequer foi lembrada, a exemplo dos anos anteriores. É total o desconhecimento – e o desinteresse – da população brasileira por este feriado de 15 de novembro. Sempre foi assim. Desde que há 133 anos, uma minoria impôs aos brasileiros a forma de governo republicano, por meio de um golpe.

   Em 133 anos de República tivemos oito Presidentes destituídos; dois que renunciaram; dois que não chegaram a tomar posse e um que foi impedido de fazê-lo; dois que assumiram pela força; duas juntas militares; cinco Presidentes interinos; duas ditaduras, vários estados de sítios, censura à imprensa, dois ex-Presidentes presos; e cinco dos seis ex-Presidentes vivos investigados por corrupção.

     Em 133 anos de república o Brasil passou por seis Constituições (caso único no mundo) e teve oito trocas de moeda, com a inflação atingindo os estratosféricos 1.400.000.000.000%, quando nos 67 anos do Império, houve apenas uma Constituição, sólida, concisa e eficaz, uma moeda estável e a média da inflação foi de apenas 1,58% ao ano.

   No Cariri cearense feriado de 15 de novembro nunca foi comemorado. Justo nesta região, habitada por um povo alegre e festeiro, que gosta de comemorar tudo. Desde a festa cívica do 7 de setembro, passando pelos festejos dos santos padroeiros das nossas comunidades. Nossa população, todo ano, promove a ExpoCrato, o Juáforró, os festejos juninos, as vaquejadas... Participa das romarias ao Padre Cícero e à Beata Benigna. Agora uma reunião – mesmo uma reunião mixuruca – para lembrar essa desconhecida “proclamação”, nunca se viu por aqui... Temos que respeitar a sabedoria popular.

     Comemorar o quê? Hoje, por exemplo, milhões de pessoas sairão às ruas para protestar contra o resultado das últimas eleições, devido a “suspeitas de fraudes”. Há 16 dias essas aglomerações se repetem pedindo a anulação do pleito. No duro – no duro mesmo – “República” para o povo é sinônimo de "república de estudante", ou seja, uma casa bagunçada, desorganizada, quase sempre mal administrada. Fica a pergunta: comemorar o quê?

SINAL DE ESPERANÇA - Por Robson Pereira Sales.

Passei uns dias fora. A alegria de chegar na terrinha e ver o verde tomar posse da natureza é imensurável. Parece até que a passarada canta noutro tom. O fenômeno climático "La Niña" ajudou bastante na presença constante das chuvas. 

A alegria do coração sertanejo é essa: ver o céu nublado. Prenúncio de chuva que está por vir.

O Rio Cariús correu água, muita água! Bom para os peixes, bom para às matas, apesar do pouco esforço feito para manter ele limpo e seguro em épocas de estiagem. Basta somente uma chuva para o amarelo dá lugar ao verde, e bradarmos em alto e bom som: "Viva São José!", patrono das chuvas cá nestas bandas, aqui ele é quem manda. 

O fenômeno no céu é imponente, misterioso. Para alguns causa medo, para outros, sinal da boa nova de uma ótima safra que estará por vir. 

É bonito ver minha terra assim! É bonito ver meu povo feliz!

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Feriado de 15 de novembro: como a intervenção militar dos EUA garantiu a continuidade da “proclamação” da república no Brasil – por Armando Lopes Rafael



   O que vou relatar abaixo está no livro "A Diplomacia do Marechal", resultado de longas pesquisas do ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos, diplomata Sérgio Correia de Castro. Ele vasculhou, literalmente, arquivos e documentos históricos naquela nação para escrever o citado livro.

O livro trouxe à tona um acordo militar feito entre governo norte-americano e as novas autoridades republicanas brasileiras. Objetivo desse acordo: garantir a “proclamação” feita pelo Marechal Deodoro, ou seja, o golpe militar de 15 de novembro de 1889. Aos fatos: em 6 de setembro de 1893, cansados de presenciar os desmandos do governo autoritário do Marechal Floriano Peixoto, um grupo de oficiais da Marinha brasileira se rebelou para derrubar este sanguinário ditador, que vinha a ser o então segundo presidente da “República dos Estados Unidos do Brazil” (grafia da época).

   Entre os insurgentes dessa rebelião estava o lendário Almirante Saldanha da Gama, conhecido por suas convicções monarquistas. Floriano sentiu que, sozinho, não tinha como derrotar a Marinha brasileira. Apelou, então, para o governo dos Estados Unidos da América, dizendo que a "restauração" da Monarquia seria daquele momento em diante, o objetivo dos insurgentes da Marinha.

    O autoritário Floriano Peixoto fez mais. Deslocou um homem de sua inteira confiança, Salvador de Mendonça, a fim de obter ajuda junto ao Secretário de Estado dos EUA, Gresham, para  sufocar o movimento nacionalista da Marinha brasileira. Salvador de Mendonça foi subserviente, mas competente.  Lembrou às autoridades dos EUA que o Governo do seu Presidente Cleveland tinha contribuído para a restauração da monarquia no Hawai. E perguntou Mendonça: "Não seria demais duas restaurações para só uma administração democrata"? Ainda sentenciou: se os Estados Unidos não ajudarem o Marechal Floriano Peixoto, o Brasil volta a ser uma monarquia, como no tempo de Dom Pedro II, quando éramos mais ligados à Inglaterra. Ou seja, os norte-americanos perderiam os privilégios que vinham desfrutando desde o golpe militar de 15 de novembro de 1889.

   O governo norte-americano não se fez de rogado. Mandou três possantes cruzadores ao Rio de Janeiro: o Charleston, o Newark, e o Detroit. Aos três cruzadores se juntaram depois mais dois navios de guerra norte-americanos, sob o comando do Almirante Benham. E com isso as forças militares dos EUA acabaram com bloqueio que a Marinha brasileira vinha impondo ao porto do Rio de Janeiro. Tão logo chegou a então capital do Brasil, o Almirante americano alvejou com um tiro, do Detroit, a nossa armada.

    E ameaçou por a pique os demais navios brasileiros. Para evitar derramamento de sangue, ante a superioridade norte-americana, Saldanha da Gama capitulou. Entrou pelo interior brasileiro para preparar a resistência. Perseguido, foi morto no Rio Grande do Sul. Floriano Peixoto era o dono da situação.Patrocinou, logo a seguir, um banho de sangue, passando a fio de espada os cadetes da Escola Naval do Rio de Janeiro. Estava assegurada a manutenção da República brasileira! Por obra e graça das forças militares dos EUA. E, de quebra, o sanguinário ditador alagoano, Floriano Peixoto,  foi agraciado com o título de Marechal de Ferro. 

    Todos esses fatos são amplamente relatados no livro “A Diplomacia do Marechal", de Sérgio Correia de Castro. Vale a pena conferir.


RECEITA SIMPLES DE FELICIDADE - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.

 

Sabe esses momentos em que o tédio ameaça se estabelecer, mesmo pagando um alto IPTU?

Ao invés de reclamar ou se recolher, a gente tem que encontrar receitas simples para reagir.

Que tal tomar uma cervejinha com os amigos, em um bar ao ar livre, de preferência, em frente à uma praça?

Sim, porque a praça se assemelha a um bar, onde as pessoas se encontram.

Além de jogarem conversa fora, imitarem uns aos outros no falar e no agir.

Ver as pessoas passando, cada uma com sua maneira de caminhar.

Outras receitas que funcionam: sair para passear em companhia dos netos mais novos e, com eles, comprar figurinhas da Copa do Mundo.

Ou ainda, simplesmente, flanar pela cidade e buscar remontar, na imaginação, um lugar que já foi diferente em passado tão recente.

Essas narrativas se propõem  a mostrar que se pode ser feliz com coisas poucas e simples.

Sentir a sensação, embora efêmera, como a glória da flor, de que tudo está funcionando com os homens e o País.

Nesse rio da existência, procurar as melhores pescarias em águas mansas.

E cantar, sempre que for possivel.

domingo, 13 de novembro de 2022

Capitão Lampião - Alberto S. Galeno.


Cangaço e folclore, Lampião transformado em defensor da legalidade, é recebido como hospede do prefeito de Jardim. Os habitantes da cidade de Jardim despertaram naquela noite de Janeiro de 1926 sob o impacto de inesperado espetáculo folclórico. Eram toques de harmônicas que ecoavam vindos do patamar da igreja, seguidos do arrastar de pés que dançavam o xaxado e de vozes selvagens cantando a Mulher Rendeira, toada muito do agrado dos sertanejos. 

O Juiz da Comarca abriu a janela e olhou para ver do que se tratava. Em frente, a casa do prefeito estava aberta, assim como o prédio da prefeitura, aberto e bem iluminado. E, dentro e fora a algazarra de pessoas em movimento. 

O Juiz chamou uma das empregadas e mandou saber do Prefeito o que estava acontecendo na cidade. Diga ao Doutor, respondeu o Coronel Daudet que é Lampião que se encontra entre nós. Mas, que não tenha receio porque ele vem em missão de paz. 

 Vai ao Juazeiro, a chamado do Doutor Floro, defender o governo, dos revoltosos. E continuou sentado como estava no sofá, tendo de um lado Lampião, e do outro Bom Devéras, o lugar-tenente do chefe bandoleiro. O espetáculo prosseguiu em meio da maior animação, agora engrossado pelos curiosos que tinham vindo ver de perto os cangaceiros a cantar e a dançar xaxado. No dia seguinte Virgulino Ferreira, o Lampião, reunia o seu bando formado de mais de 50 cangaceiros e desfilava na praça principal de jardim, ante os olhares surpresos da população, rumo a Juazeiro do Padre Cícero. Antes, dera esmola aos mendigos, enquanto seus cabras faziam compras no comercio. 

Na Meca do Padre Cícero Lampião seria contemplado com a patente de Capitão Honorário do Exercito Brasileiro, engendrado por um funcionário do Ministério da Agricultura, a mando do Patriarca. Deram o que ele mais ambicionava: armas novas e farta munição. Agora bem armado, bem municiado, e ainda com as honras de oficial do Exercito. Lampião buscou sombra e água fresca. Encontrou-se com seus cabras nas propriedades de seus antigos coiteiros, prontos para defendê-los de eventuais perigos. Que outros que não eles fossem para Campos Sales barrar a marcha da Coluna Prestes. Um ano depois a cidade de Jardim pegava em armas para defender-se de Lampião e do seu bando. 

O cangaceiro havia aprisionado em cima da serra do Araripe o filho de um fazendeiro, proprietário no município, exigindo um resgate de cinco contos de reis, e como este não foi pago, não teve duvida em fuzilar o rapaz. Agora era, “persona non grata”, detestado por uns, temido por todos.

A humanidade despede-se da rainha Elizabeth II .

 

   A comoção geral que se seguiu à noticia [de que a Rainha Elizabeth II acabava de falecer] parece ter ultrapassado, sob muitos aspectos, os limites do razoável. Tratava-se de uma chefe de Estado, claro está. Mas que fez ela pelo Brasil, pela Espanha ou por qualquer outro país alheio ao Reino Unido e à Commonwealth, para que em todos os quadrantes do planeta sua morte se tornasse objeto de atenção e tristeza? 

   Elizabeth II impressionou a sociedade por sua grandeza e a amparou com sua bondade. Não se despojou da sua dignidade, mas mantendo antigos cerimoniais e costumes, ela tornava acessível à alma humana – sedenta de símbolos – uma realidade mais elevada que a palpável; exprimia por gestos, pela indumentária, pelo protocolo, a alta noção de sua própria nobreza e a sublimidade de sua missão.

   A soma de vários fatores deixa ainda mais inexplicável o sentimento quase universal que marcou aquela morte, incluindo no âmbito da religião católica. Ali estavam [nas ruas das cidades onde o corpo da rainha foi exposto], indivíduos da sociedade mais independente, pragmática e “esclarecida” que surgiu até hoje: a do século XXI. Sua longa existência, de alguma forma o último eco da Fé plantada por São Gregório Magno na terra dos anglos, parece ter comportado uma missão muito mais ampla que a as fronteiras do Reino Unido.

   Por isso, não somente uma venerável anciã partiu desta vida: uma página se virou na história. Sim, é o fim de uma era carregada de sofrimentos e infortúnios, mas também de heroísmo e glória, à qual com acerto os homens deram o título de Cristandade ou Civilização Cristã. E cujas primeiras linhas foram traçadas pelo amor de Deus, ao depositar sobre ela o seu desígnio.

   Com esse pacto [feito entre Deus e os ingleses?] que grandiosa bênção teria sido confiada à Inglaterra? Teria sido a predileção de Deus assinalada na pessoa de Santo Eduardo, o Rei-Confessor, cujas virtudes perfumaram a Cristandade e cuja coroa cingiria a fronte de todos os monarcas ingleses, até hoje? Entretanto, misteriosamente algo daquela bênção permaneceu. A nação não foi fiel; Deus, porém, lhe permaneceria fiel, pois não podia negar-Se a Si mesmo.

   Nas últimas décadas, enquanto os fulgores da cristandade pouco a pouco se apagavam, Elizabeth II continuava a brilhar ainda que com muitas das sombras inerentes ao processo revolucionário no qual estamos imersos – e o fazia de modo especial, representando todas as luzes que um dia iluminaram o mundo. Sim, pois não basta gozar da realeza para ser respeitado pela multidão, nem acenar desde uma imponente sacada para ganhar as boas graças do povo.

   Jazendo em sua câmara-ardente, a rainha recebeu o adeus de milhares de pessoas. Por um sentimento que poucos conseguiam explicitar, nos escassos segundos diante do féretro todos julgavam compensadas as horas – e até dias – que para isso haviam esperado nas ruas de Londres. “Ela trabalhou setenta anos por nós, um dia de fila não é nada” afirmavam alguns. Em síntese, desta vez não foi apenas uma imperatriz, mas à Civilização Cristã, que a humanidade disse adeus. 

   (excertos da reportagem publicada na revista “Arautos do Evangelho”, escrita por Ir. Maria Beatriz Ribeiro Matos, EP)


2022 – Bicentenário da Independência e 133 anos da República – por Armando Lopes Rafael (*)

 

 

    Esta terça-feira, 15 de novembro, assinalará uma efeméride histórica. Há 133 anos um Golpe de Estado subverteu a ordem constitucional então vigente no Império do Brasil. Sob a forma de governo monárquica, o Brasil vinha vivendo, desde nosso descobrimento, pelos portugueses, em 22 de abril de 1500, até a data de 15 de novembro de 1889.

    Durante 322 anos os brasileiros viveram sob a monarquia portuguesa. A partir de 7 de setembro de 1822, depois da gesta do Imperador Dom Pedro I – feita com a aclamação e apoio do povo brasileiro – declarando nossa independência de Portugal, nossa nação passou a ser a única monarquia constitucional – oficializada e mantida – na vastidão do continente americano. O Império do Brasil durou 67 anos. Portanto, sob a égide de Portugal ou como nação independente, o Brasil viveu durante 389 anos como monarquia. Nos últimos 133 anos, vem vivendo como uma república.

    Em 25 de março de 1824 foi outorgada a primeira Constituição do Brasil independente. Esta Carta Magna foi rasgada pela minoria republicana, em 15 de novembro de 1889. Um gesto feito sem apoio e sem participação do povo. Depois do golpe passamos a ser os “Estados Unidos do Brazil” (grafia da época). Este nome vigorou até 1967, quando numa das 06 (seis) Constituições que a República já teve, a denominação oficial foi mudada para “República Federativa do Brasil”.

    Nessa condição, a administração pública federal vem se arrastando... em meio às mais diversas dificuldades. Nos últimos 133 anos, algumas vezes – forçoso é reconhecer – houve avanços nesta república. Como também ocorreram muitos retrocessos.

    Neste aniversário da “Proclamação” da República,  somos um povo dividido ideologicamente e politicamente. O que não causa admiração, pois a cada eleição para Presidente da República a nação fica mais dividida. Tivéssemos continuado como monarquia nada disso aconteceria. Existe um ditado popular que diz: Rei morto, rei posto! Ou seja, quando há a necessidade imediata de substituir um rei por outro (por morte ou renúncia), o cargo é imediatamente preenchido.  E a nação continua seu ritmo normal. Sem crises. Com a população unida em torno do novo monarca.  Com os olhos voltados unicamente para o futuro. Bendita monarquia!

sábado, 12 de novembro de 2022

Padre Frederico Nierhoff, um gigante na pastoral do Crato.


Faz 47 anos que o Pe. Frederico Nierhoff , ex-padre da paroquia de São Vicente Ferrer e da Sagrada Família em Crato, se despediu do povo cratense, através do jornal "A Ação" escrevendo : " Passei quase uma existência com vocês, me alegrando e me entristecendo com as alegrias e tristezas de cada um, com uma palavra "vivendo" com vocês". Era impossível me despedir sem comoção.

Até 1968, em Crato só existiam duas Paroquias : Nossa Senhora da Penha e São Vicente Ferrer. Ele era um homem de grande dinamismo e enorme capacidade de trabalho. Muito alto, voz grossa, falava um português, às vezes, truncado,  mas era muito comunicativo.  Na pastoral procurava  atingir todos os segmentos : adultos, homens e mulheres, jovens e crianças, principalmente através da catequese. Não ficava só nas atividades estritamente religiosas, mas procurava ir ao encontros dos necessitados, por isso estimulou a educação, com a fundação do Instituto São Vicente entregue as professoras Anilda Arraes Alencar, Alda Arraes, Maria Almino e as demais irmãs.

A criação da Creche São Miguel, a criação dos Núcleos Habitacionais da Malhada  na Ponta da Serra e do Romualdo; ampliou a Matriz de São Vicente, construiu 10 capelas, criou um centro catequético com parque de diversão para crianças até com piscina.

A respeito dele se expressou Monsenhor Pedro Rocha de Oliveira em 28.05.1968 : Pe. Frederico, no seu fecundo pastoreio, entre nós, alcandorou-se em grandeza sacerdotal. No ministério sacerdotal, impressionou pelo zelo pastoral. No setor social, desenvolveu uma obra  de envergadura que nunca será demais enaltecer. Amava o Crato e sua gente, talvez mais do que a gente de sua querida Alemanha. A Matriz de São Vicente, ao seu tempo, tornou-se a sala de visita da Diocese seja pelo fervor religioso e intensidade de vida espiritual, seja pela vigorosa estrutura sócio-apostólica  e bela urdidura em ação social.

Do Crato o Padre Frederico, em Janeiro de 1969, se transferiu para a Diocese de Floresta. Ali, em Custodia, foi vigário. E em 31 de outubro de 1975, foi vitima de um acidente de carro que dirigia, quando sentiu um enfarto.

Temos muito que agradecer a Deus pelo exemplo deixado pelo Pe. Frederico, pelo seu amor a pastoral na Paroquia de São Vicente Ferrer.

Kleber Maia Cabral e as marcas por ele deixadas em Crato - por Armando Lopes Rafael

 Hoje,12 de novembro de 2022, está sendo lançada -- às 9:00h na Praça Siqueira Campos, em Crato -- a edição nº 51, da revista "Itaytera", do Instituto Cultural do Cariri. Neste número publiquei o artigo abaixo. 

Kleber Maia Cabral e as marcas por ele deixadas em Crato - por Armando Lopes Rafael

                                                 “Autêntico na vida porque coerente com a  religião,                                                       sincero nas amizades e exemplar na família.”
(Frase escrita, pelo Prof. José do Vale Feitosa, para
                                         a lembrancinha da missa do 7º Dia de falecimento
de Kleber Maia Cabral)

     Em 1959, chegava a Crato, proveniente de Fortaleza, um jovem atípico. Vinha assumir o seu emprego como funcionário concursado do Banco do Brasil. Seu nome: Kleber Maia Cabral. Dotado de bom aspecto, feições europeias, nariz adunco, Kleber vestia-se com dignidade. Um homem culto, educado e viril, que deixaria marcas de sua passagem na sociedade e instituições sociais de Crato, onde viveria cerca de 15 anos. Estávamos no início da década 60 do século XX (cronologicamente iniciada em 1959 e concluída em 1969). Anos inovadores, de grandes transformações nos campos da moda e do comportamento humano. Anos de contestação da juventude, no tocante às questões sociais e políticas. Anos de acentuado desprezo pelas tradições seculares... Em Crato não foi diferente. Kleber Maia Cabral, no entanto, teria a sabedoria e o equilíbrio de atravessar aqueles anos difíceis e confusos, utilizando uma máxima: “Nem tudo que é antigo é ruim, nem tudo que é novo é bom” ...  

Crato no início dos anos sessenta

      Considerada a “Cidade-Polo” do Cariri, Crato, segundo o recenseamento de 1960, contava com uma população de 32.054 habitantes. Um aumento populacional de cerca de 30% em relação ao Censo de 1950. Por isso a fisionomia urbana desta cidade se apresentava também ampliada. Verdade que, naquele tempo, não existiam os atuais bairros periféricos do Granjeiro, Parque Granjeiro, Novo Horizonte, Sossego, Lameiro, Vilalta, Nossa Senhora de Fátima (Barro Branco), Mirandão, Muriti, Vila Lobo, Vila Padre Cícero, dentre outros. No entanto, no centro de Crato, em 1960, já pontilhavam praças arborizadas e bonitas edificações. Uma cidade culta, dinâmica e civilizada!

     No hinterland cearense, Crato se destacava no setor cultural/educacional. Possuía até uma Faculdade de Filosofia, a primeira no interior do Ceará. Seus colégios, ministrando o segundo grau, atraíam alunos das cidades do Cariri e dos Estados vizinhos. E não eram poucos: Colégio Diocesano, Santa Teresa de Jesus, Estadual Wilson Gonçalves, Municipal Pedro Felício, São Pio X, São João Bosco, Madre Ana Couto, Patronato Padre Ibiapina, Escola Técnica de Comércio. Além disso, funcionavam em Crato   dois Seminários para formação do clero católico: o São José (pertencente à Diocese) e o Sagrada Família, mantido pela Congregação deste nome, mais conhecida aqui como os “padres alemães”.

    Crato era conhecido como a “Capital da Cultura do Cariri”. Só na Rua João Pessoa funcionavam três livrarias.  Havia uma quarta, na Rua Bárbara de Alencar, a Livraria “Feira do Livro”, com matriz em Fortaleza. Todo sábado, circulava o jornal “A Ação”, mantido pela Diocese de Crato. Havia outros periódicos de menor porte (“O Ideal” e “O Nacionalista” eram os mais conhecidos). Podia-se comprar (no Café Líder, na Praça Siqueira Campos) todo final da tarde, os jornais editados – no mesmo dia – no Rio de Janeiro. Eles chegavam num voo que aterrissava no Aeroporto Nossa Senhora de Fátima, localizado na Chapada do Araripe a poucos quilômetros de Crato.   Ah! ia esquecendo: O edifício mais alto do Sul do Ceará também estava em Crato: a Agência do Banco do Brasil, com cinco andares. O cratense se ufanava da sua metrópole...

Voltando a Kleber Maia Cabral   

   Acreditando que a ordem moral de uma sociedade cristã seria sempre duradoura, Kleber colocava em prática suas características de liderança. Na mentalidade cratense dos anos 60, dominada pelas novidades da moda, da mídia e da tecnologia, Kleber não escondia suas convicções católicas, monarquistas e tradicionalistas. Após sua chegada a Crato, Kleber amealharia um vasto círculo de boas amizades. E orientaria a muitas pessoas. Nas horas vagas, lecionaria no Seminário Sagrada Família e na Escola Técnica de Comércio. Para orientação aos jovens criaria o Círculo de Estudos e Debates São Domingos Sávio. Todos os domingos, pela manhã, proferia palestras para um grupo de rapazes de boas famílias de Crato. Foi nessas reuniões que o conheci. 

   Proveitosas suas explanações! Ele compartilhava conosco seus conhecimentos sobre a moral e a arte; adentrava na História, com seus amplos e múltiplos aspectos; repassava seus conhecimentos advindos de filósofos e pensadores. Anualmente, Kleber realizava um retiro espiritual – numa capela anexa a uma ampla casa do sítio Guaribas – destinado aos jovens. Contava, para tanto, com o apoio de uma tia dele, a Irmã Genoveva, freira da Congregação das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, residente no Hospital São Francisco, encarregada de preparar as refeições dos jovens. O pregador desses retiros era o Mons. Pedro Rocha de Oliveira.

   No início de 1960, a exemplo do restante do país, havia um clima de discussão ideológica na sociedade cratense. Homem de direita, franco, sincero, mas leal, Kleber Maia Cabral expunha suas crenças sem ofender os opositores. Apresentava suas ideias sempre de forma respeitosa, sem alimentar discórdias.  Contudo, sofria o “patrulhamento ideológico” por parte de um grupo de colegas da instituição onde trabalhava. Havia um deles – exaltado pelos ideais marxistas – que gostava de provocá-lo. Esse cidadão costumava presentear Kleber com livros de orientação socialista. 

   E esses exemplares eram sempre oferecidos com dedicatórias de cunho revolucionário, defendendo a utópica “ditadura do proletariado”. Após o golpe militar de 31 de março de 1964, o Exército deporia o Presidente João Goulart e instauraria um governo de exceção, muitas pessoas de tendência à esquerda seriam presas pelas novas autoridades da República. Em face disso, Kleber juntou os livros, com suas dedicatórias provocativas, e devolveu-os ao colega de trabalho, dizendo apenas isso: 

– Da minha parte esqueci todas as suas provocações. E de minha pessoa não partirá nenhum revide contra você. Destrua você mesmo o que escreveu...

   Desnecessário dizer que esse seu colega escapou de ser preso.  Kleber era um homem destituído do sentimento de vingança. Incapaz de aproveitar a derrota de um oponente para humilhá-lo.

Dados biográficos

   Kleber Maia Cabral nasceu no dia 02 de outubro de 1937, na cidade de Fortaleza, filho de Arthur Walter Cabral e Isa Maia Cabral. Seu pai possuía, em casa, um verdadeiro museu com objetos valiosos do passado. Kleber cresceu nesse ambiente cultural, frequentado pelos intelectuais de Fortaleza. E soube conservar essa tendência herdada do pai.

   Chegando a Crato, conheceria a senhorita Maria Iná Feitosa, nascida em Cococi, no Sertão dos Inhamuns, sua futura esposa. O casamento ocorreria em 27 de dezembro de 1963.  Deste enlace nasceriam dois filhos: Maria Isabel Feitosa Maia e Cabral e Laurênio Dias Martins Feitosa e Cabral.

     Depois de casado, Kleber construiria uma casa, em estilo colonial, onde hoje é a Avenida Perimetral Dom Francisco de Assis Pires. Foi pioneiro na construção de boas casas naquela zona da cidade. No entanto, nas proximidades de sua casa residiam famílias pobres e necessitadas. Junto a essas, Kleber fez um trabalho social de envergadura. Quando sua mãe faleceu, coube aos herdeiros um amplo prédio, onde funcionava o Cine Samburá, no centro de Fortaleza. Vendido o imóvel, parte do dinheiro recebido por Kleber foi utilizada para ajudar essas famílias. 

   E, enquanto viveu, ele prestou também assistência espiritual a essas pessoas. Ajudaria a legalizar uniões de casais que viviam sem vínculo oficial; fazia, nessas casas humildes do bairro Pinto Madeira, a solenidade anual da Renovação ao Sagrado Coração de Jesus; preparava crianças para a primeira comunhão.

    Kleber viria a falecer, prematuramente, aos 36 anos de idade, na noite de 28 de junho de 1974. Na hora do seu trânsito para a Mansão dos Justos, as fogueiras de São Pedro começavam a ser acesas, dando a impressão de incontáveis focos de luz clareando a noite escura. O próprio Kleber seria uma dessas luzes. Ele ascenderia, assim, aos umbrais insondáveis da eternidade na busca da luz das luzes: Deus. Com Deus ele se encontra desde então. Em comunhão com o sangue de Jesus Cristo, que purifica a todos nós do pecado.

(*) Armando Lopes Rafael é historiador. Sócio do Instituto Cultural do Cariri e Membro-Correspondente da Academia de Letras e Artes Mater Salvatoris, de Salvador (BA).