O que vou relatar abaixo está no livro "A Diplomacia do Marechal", resultado de longas pesquisas do ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos, diplomata Sérgio Correia de Castro. Ele vasculhou, literalmente, arquivos e documentos históricos naquela nação para escrever o citado livro.
O livro trouxe à tona um acordo militar feito entre governo norte-americano e as novas autoridades republicanas brasileiras. Objetivo desse acordo: garantir a “proclamação” feita pelo Marechal Deodoro, ou seja, o golpe militar de 15 de novembro de 1889. Aos fatos: em 6 de setembro de 1893, cansados de presenciar os desmandos do governo autoritário do Marechal Floriano Peixoto, um grupo de oficiais da Marinha brasileira se rebelou para derrubar este sanguinário ditador, que vinha a ser o então segundo presidente da “República dos Estados Unidos do Brazil” (grafia da época).
Entre os insurgentes dessa rebelião estava o lendário Almirante Saldanha da Gama, conhecido por suas convicções monarquistas. Floriano sentiu que, sozinho, não tinha como derrotar a Marinha brasileira. Apelou, então, para o governo dos Estados Unidos da América, dizendo que a "restauração" da Monarquia seria daquele momento em diante, o objetivo dos insurgentes da Marinha.
O autoritário Floriano Peixoto fez mais. Deslocou um homem de sua inteira confiança, Salvador de Mendonça, a fim de obter ajuda junto ao Secretário de Estado dos EUA, Gresham, para sufocar o movimento nacionalista da Marinha brasileira. Salvador de Mendonça foi subserviente, mas competente. Lembrou às autoridades dos EUA que o Governo do seu Presidente Cleveland tinha contribuído para a restauração da monarquia no Hawai. E perguntou Mendonça: "Não seria demais duas restaurações para só uma administração democrata"? Ainda sentenciou: se os Estados Unidos não ajudarem o Marechal Floriano Peixoto, o Brasil volta a ser uma monarquia, como no tempo de Dom Pedro II, quando éramos mais ligados à Inglaterra. Ou seja, os norte-americanos perderiam os privilégios que vinham desfrutando desde o golpe militar de 15 de novembro de 1889.
O governo norte-americano não se fez de rogado. Mandou três possantes cruzadores ao Rio de Janeiro: o Charleston, o Newark, e o Detroit. Aos três cruzadores se juntaram depois mais dois navios de guerra norte-americanos, sob o comando do Almirante Benham. E com isso as forças militares dos EUA acabaram com bloqueio que a Marinha brasileira vinha impondo ao porto do Rio de Janeiro. Tão logo chegou a então capital do Brasil, o Almirante americano alvejou com um tiro, do Detroit, a nossa armada.
E ameaçou por a pique os demais navios brasileiros. Para evitar derramamento de sangue, ante a superioridade norte-americana, Saldanha da Gama capitulou. Entrou pelo interior brasileiro para preparar a resistência. Perseguido, foi morto no Rio Grande do Sul. Floriano Peixoto era o dono da situação.Patrocinou, logo a seguir, um banho de sangue, passando a fio de espada os cadetes da Escola Naval do Rio de Janeiro. Estava assegurada a manutenção da República brasileira! Por obra e graça das forças militares dos EUA. E, de quebra, o sanguinário ditador alagoano, Floriano Peixoto, foi agraciado com o título de Marechal de Ferro.
Todos esses fatos são amplamente relatados no livro “A Diplomacia do Marechal", de Sérgio Correia de Castro. Vale a pena conferir.
O fato é que 15 de Novembro não há o que comemorar a não ser o feriado, um dia de repouso.
ResponderExcluir"Há duas histórias, a oficial, mentirosa, Ad Usum Delphini, e a secreta, em que estão as verdadeiras causas dos acontecimentos. História vergonhosa".
ResponderExcluir(Balzac, "Les illusions perdues", tomo III).
"A história da "proclamação" da república brasileira é vergonhosa".
ResponderExcluirEstes esclarecimentos não encontramos nos livros nem nas salas de aula quando se trata de história. É por isso que a maldade perdura. Alagoas que produziu Deodoro e Floriano, um século depois pariu Collor de Melo e o Renan continua a todo vapor. Agora são dois pai e filho.
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