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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 23 de novembro de 2022

METAMORFOSE KALEIDOSCÓPICA,ao Antigo Quixará - Enviado por Robson Pereira Sales.

Matriz de Quixará, edificada por Frei Henrique José Cavalcante, nos idos de 1868.

I

Era manhã. Entramos na cidade

Os meus olhos procuraram com ansiedade

Ao descortino da velha Quincocá!

- Que terra estranha é esta? – Farias Brito...

E minh’alma incontida aliou n’um grito:

- Ó Deus! E onde fica o Quixará?

II

E qual um autômato descendo do transporte

Não sabia onde o sul nem onde o norte

Desorientado que estava em pleno dia.

- E a casa onde nasci aonde estava?

E o Rio Cariús? – Tudo indagava...

E quanto mais olhava, menos via!

Revestido de calma e concentrado

Revejo o panorama do passado

Redevivo que está na lembrança

Mas tudo diferente e reformado

As coisas do presente e as do passado

Ao meu distante tempo de criança

III

Sobradinho que nas manhãs e nas tardinhas

Alegres chilriando nos beirais

Transformou-se também o meu sobrado!

Meu Deus, como tudo está mudado

Que diferença do tempo dos meus pais!...

E o Cruzeiro em frente a Matriz?

Indago sobre o mesmo Ninguém diz

O fim d’aquele marco centenário...

Foi vítima também do tal “avanço”

Entrou na nova conta no balanço

Ao modernismo iconoclasta de um vigário!

IV

Aquela árvore talvez bi-secular

Detrás da igreja, materna a agasalhar

Milhões de abelhas, incontáveis ninhos,

Também um Átila cruel às machadada,

Desfazendo aquela sombra das ramadas

Onde alegres trinaram os passarinhos.

V

Entrei na Igreja. Também estava mudada

Aquela imagem da Virgem Imaculada

Que eu via do tempo de menino,

Não era a mesma. Meu Deus quanta mudança!

Fazendo-me olvidar (doce lembrança!)

Badalar plangente do seu sino

VI

Retiraram também do pé do altar

Do Padre Joaquim Sóther de Alencar

A lousa branca que dizia “Ele morreu”!

- “Padim sota” – onde o colocaram?

E as paredes em vibração ecoaram:

“Há tantos anos que ele está no céu”!

VII

A capelinha do nicho alvinitente

Onde eu com carvão (era inocente)

Riscava nas paredes laterais

Inda é a mesma do meu tempo de garoto?

Tive a impressão de ouvi-la: “Oh! Seu maroto!”

E sorrindo: “Não me venha você me riscar mais...”

VIII

Tudo está diferente em minha terra!

Não mudará jamais a velha serra,

A gentil e dadivosa Quincocá!

Sentinela perene, até parece

Um monge com seu povo a fazer prece

Na certeza que Deus o escutará

IX

Até o próprio nome lhe mudaram!

- Meu Quixará – Por que o apelidaram

Por um homem que você nem o conheceu

Até parece você com este crisma,

Ter o seu povo sofrido um novo cisma!

Neste caso você foi quem perdeu...

- Meu Quixará... você está esquisito

Com este nome assim: - “Farias Brito:”

Perdoe-me, mas não o reconheci...

Que diferença você com tanto brilho!

Está mais jovem do que eu, que sou filho

Que em vez de recomeçar... envelheci!...

Do Livro Cantares, Albis Irapuan Pimentel, obra póstuma, 1998.

3 comentários:

  1. É sabido e a historia sustenta que "As Missões" percorriam as regiões e onde existiam um povoado era construído um marco, um cruzeiros onde deveria ser contruída a igreja.
    Robson Pereira Sales é um jovem estudioso da memória de sua terra, Quixará, por via Nova Betânia. Especialmente quando se trata da religiosidade. Como disse no inicio do comentário religião e politica andavam de mãos dadas Construía-se uma igreja e em torna dela nascia a cidade. Parabéns Robson, segue em frente.

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  2. Um poema belíssimo! Merece ser declamado em todas as escolas do nosso município. Em nome do progresso tanto se desfez. Uma pena! Muito da nossa terra se perdeu por causa das "pedras postas ao meio do caminho", como bem disse Drumond em seu poema.

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  3. Chico Bezerra, assim referenda - Lindo! Perfeito! Verdadeiro! Os versos relatam, com perfeição, o que os iconoclastas fizeram com a nossa querida terra, inclusive com o seu maior símbolo, isto é o próprio nome belíssimo e tradicional do Quixará. Ó tempora, Ó mores, já repetia o grande orador romano Cícero, nos albores da nossa civilização.

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