Matriz de Quixará, edificada por Frei Henrique José Cavalcante, nos idos de 1868.
I
Era manhã. Entramos na cidade
Os meus olhos procuraram com ansiedade
Ao descortino da velha Quincocá!
- Que terra estranha é esta? – Farias Brito...
E minh’alma incontida aliou n’um grito:
- Ó Deus! E onde fica o Quixará?
II
E qual um autômato descendo do transporte
Não sabia onde o sul nem onde o norte
Desorientado que estava em pleno dia.
- E a casa onde nasci aonde estava?
E o Rio Cariús? – Tudo indagava...
E quanto mais olhava, menos via!
Revestido de calma e concentrado
Revejo o panorama do passado
Redevivo que está na lembrança
Mas tudo diferente e reformado
As coisas do presente e as do passado
Ao meu distante tempo de criança
III
Sobradinho que nas manhãs e nas tardinhas
Alegres chilriando nos beirais
Transformou-se também o meu sobrado!
Meu Deus, como tudo está mudado
Que diferença do tempo dos meus pais!...
E o Cruzeiro em frente a Matriz?
Indago sobre o mesmo Ninguém diz
O fim d’aquele marco centenário...
Foi vítima também do tal “avanço”
Entrou na nova conta no balanço
Ao modernismo iconoclasta de um vigário!
IV
Aquela árvore talvez bi-secular
Detrás da igreja, materna a agasalhar
Milhões de abelhas, incontáveis ninhos,
Também um Átila cruel às machadada,
Desfazendo aquela sombra das ramadas
Onde alegres trinaram os passarinhos.
V
Entrei na Igreja. Também estava mudada
Aquela imagem da Virgem Imaculada
Que eu via do tempo de menino,
Não era a mesma. Meu Deus quanta mudança!
Fazendo-me olvidar (doce lembrança!)
Badalar plangente do seu sino
VI
Retiraram também do pé do altar
Do Padre Joaquim Sóther de Alencar
A lousa branca que dizia “Ele morreu”!
- “Padim sota” – onde o colocaram?
E as paredes em vibração ecoaram:
“Há tantos anos que ele está no céu”!
VII
A capelinha do nicho alvinitente
Onde eu com carvão (era inocente)
Riscava nas paredes laterais
Inda é a mesma do meu tempo de garoto?
Tive a impressão de ouvi-la: “Oh! Seu maroto!”
E sorrindo: “Não me venha você me riscar mais...”
VIII
Tudo está diferente em minha terra!
Não mudará jamais a velha serra,
A gentil e dadivosa Quincocá!
Sentinela perene, até parece
Um monge com seu povo a fazer prece
Na certeza que Deus o escutará
IX
Até o próprio nome lhe mudaram!
- Meu Quixará – Por que o apelidaram
Por um homem que você nem o conheceu
Até parece você com este crisma,
Ter o seu povo sofrido um novo cisma!
Neste caso você foi quem perdeu...
- Meu Quixará... você está esquisito
Com este nome assim: - “Farias Brito:”
Perdoe-me, mas não o reconheci...
Que diferença você com tanto brilho!
Está mais jovem do que eu, que sou filho
Que em vez de recomeçar... envelheci!...
Do Livro Cantares, Albis Irapuan Pimentel, obra póstuma, 1998.
É sabido e a historia sustenta que "As Missões" percorriam as regiões e onde existiam um povoado era construído um marco, um cruzeiros onde deveria ser contruída a igreja.
ResponderExcluirRobson Pereira Sales é um jovem estudioso da memória de sua terra, Quixará, por via Nova Betânia. Especialmente quando se trata da religiosidade. Como disse no inicio do comentário religião e politica andavam de mãos dadas Construía-se uma igreja e em torna dela nascia a cidade. Parabéns Robson, segue em frente.
Um poema belíssimo! Merece ser declamado em todas as escolas do nosso município. Em nome do progresso tanto se desfez. Uma pena! Muito da nossa terra se perdeu por causa das "pedras postas ao meio do caminho", como bem disse Drumond em seu poema.
ResponderExcluirChico Bezerra, assim referenda - Lindo! Perfeito! Verdadeiro! Os versos relatam, com perfeição, o que os iconoclastas fizeram com a nossa querida terra, inclusive com o seu maior símbolo, isto é o próprio nome belíssimo e tradicional do Quixará. Ó tempora, Ó mores, já repetia o grande orador romano Cícero, nos albores da nossa civilização.
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