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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 13 de novembro de 2022

A humanidade despede-se da rainha Elizabeth II .

 

   A comoção geral que se seguiu à noticia [de que a Rainha Elizabeth II acabava de falecer] parece ter ultrapassado, sob muitos aspectos, os limites do razoável. Tratava-se de uma chefe de Estado, claro está. Mas que fez ela pelo Brasil, pela Espanha ou por qualquer outro país alheio ao Reino Unido e à Commonwealth, para que em todos os quadrantes do planeta sua morte se tornasse objeto de atenção e tristeza? 

   Elizabeth II impressionou a sociedade por sua grandeza e a amparou com sua bondade. Não se despojou da sua dignidade, mas mantendo antigos cerimoniais e costumes, ela tornava acessível à alma humana – sedenta de símbolos – uma realidade mais elevada que a palpável; exprimia por gestos, pela indumentária, pelo protocolo, a alta noção de sua própria nobreza e a sublimidade de sua missão.

   A soma de vários fatores deixa ainda mais inexplicável o sentimento quase universal que marcou aquela morte, incluindo no âmbito da religião católica. Ali estavam [nas ruas das cidades onde o corpo da rainha foi exposto], indivíduos da sociedade mais independente, pragmática e “esclarecida” que surgiu até hoje: a do século XXI. Sua longa existência, de alguma forma o último eco da Fé plantada por São Gregório Magno na terra dos anglos, parece ter comportado uma missão muito mais ampla que a as fronteiras do Reino Unido.

   Por isso, não somente uma venerável anciã partiu desta vida: uma página se virou na história. Sim, é o fim de uma era carregada de sofrimentos e infortúnios, mas também de heroísmo e glória, à qual com acerto os homens deram o título de Cristandade ou Civilização Cristã. E cujas primeiras linhas foram traçadas pelo amor de Deus, ao depositar sobre ela o seu desígnio.

   Com esse pacto [feito entre Deus e os ingleses?] que grandiosa bênção teria sido confiada à Inglaterra? Teria sido a predileção de Deus assinalada na pessoa de Santo Eduardo, o Rei-Confessor, cujas virtudes perfumaram a Cristandade e cuja coroa cingiria a fronte de todos os monarcas ingleses, até hoje? Entretanto, misteriosamente algo daquela bênção permaneceu. A nação não foi fiel; Deus, porém, lhe permaneceria fiel, pois não podia negar-Se a Si mesmo.

   Nas últimas décadas, enquanto os fulgores da cristandade pouco a pouco se apagavam, Elizabeth II continuava a brilhar ainda que com muitas das sombras inerentes ao processo revolucionário no qual estamos imersos – e o fazia de modo especial, representando todas as luzes que um dia iluminaram o mundo. Sim, pois não basta gozar da realeza para ser respeitado pela multidão, nem acenar desde uma imponente sacada para ganhar as boas graças do povo.

   Jazendo em sua câmara-ardente, a rainha recebeu o adeus de milhares de pessoas. Por um sentimento que poucos conseguiam explicitar, nos escassos segundos diante do féretro todos julgavam compensadas as horas – e até dias – que para isso haviam esperado nas ruas de Londres. “Ela trabalhou setenta anos por nós, um dia de fila não é nada” afirmavam alguns. Em síntese, desta vez não foi apenas uma imperatriz, mas à Civilização Cristã, que a humanidade disse adeus. 

   (excertos da reportagem publicada na revista “Arautos do Evangelho”, escrita por Ir. Maria Beatriz Ribeiro Matos, EP)


2 comentários:

  1. A Rainha Elizabeth II representava uma ordem de coisas. Foi uma estadista na verdadeira acepção deste termo. Tinha alta noção da sua própria grandeza e a sublimidade de sua missão. Educada, culta, séria, prudente, elegante, devotada aos seus deveres, dos quais nunca se afastou um milímetro, mesmo nos piores momentos e nas maiores dificuldades. Seus funerais foram vistos por mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo, através da televisão. Suas exéquias não foram somente dela. Com ela também foram sepultados os valores de uma civilização em extinção, da qual a Rainha Elizabeth era um símbolo

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  2. Não há nenhuma dúvida quanto a admiração, o carinho e amor que o mundo tinha pela Rainha Elisabeth II. Seu comentário define bem o prestigio e o que ela representava para o mundo. Desconhecer essa assertiva é desconhecer o que o mundo inteiro está aí como testemunha. É falta de conhecimento ou má fé.

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