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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 17 de abril de 2012

"A verdadeira operação abafa" (postado por Armando Rafael)

(Editorial do jornal “O Estado de S.Paulo” edição de 17-04-2012)

A tática dos lulopetistas de acusar os adversários políticos de praticar as malfeitorias que eles próprios cometem é sobejamente conhecida, mas chega a ser desconcertante o caradurismo da operação abafa que suas lideranças estão tentando instaurar diante da iminência do julgamento do processo do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Temerosa de que a Suprema Corte venha a confirmar a existência do maior escândalo de corrupção da história da República, a cúpula petista tenta por todos os meios - inclusive a pressão sobre os ministros do STF - desqualificar as acusações que pesam sobre os 38 réus do processo e, por meio das mais deslavadas chicanas, provocar a postergação do julgamento para 2013. Com isso estariam os petistas, no mínimo, se poupando de maior desgaste político em ano eleitoral e permitindo a prescrição de muitas das denúncias.

A operação abafa lulopetista se desenvolve em dois planos: o político, com a tentativa de desqualificar perante a opinião pública as acusações que pesam sobre os mensaleiros, sob o argumento cínico de que eles fizeram o que "todo mundo faz"; e o jurídico, técnico, no qual procuram demonstrar tanto a existência de vícios processuais que precisam ser corrigidos quanto a inexistência de provas suficientes contra réus como o notório José Dirceu.

Para demonstrar o que todo mundo sabe - que corruptos existem em todo canto - os petistas assumiram até mesmo o risco de apoiar a CPI do Cachoeira, que está sendo constituída para investigar o envolvimento do contraventor goiano Carlinhos Cachoeira com governantes e políticos. Pretendem, é claro, atingir o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, e fazer barulho em torno do envolvimento do senador oposicionista Demóstenes Torres com os negócios do bicheiro. E não se pejam de alegar que os principais veículos de comunicação do País estão envolvidos - ora vejam - numa operação abafa destinada a acobertar os malfeitos do desmoralizado senador goiano.

A direção do partido foi muito longe, muito depressa. Tanto que a presidente Dilma Rousseff, na sexta-feira, queixou-se da precipitação e dos termos da nota oficial do PT e chegou a pedir a Lula que não jogue mais lenha na fogueira. Como se sabe, Lula não vê a hora de destruir politicamente o seu desafeto Marconi Perillo. Dilma, no entanto, se preocupa com os respingos de lama que a CPI certamente jogará no governo que preside.

Os petistas apressados tentam confundir delitos diferentes cometidos por gente da mesma espécie. O caso Demóstenes é uma coisa - e os culpados precisam ser punidos -, enquanto o mensalão é outra coisa - e os culpados precisam ser igualmente punidos. Os dois casos têm origem na mesma cultura que leva à apropriação indébita dos bens públicos e à desmoralização das instituições. Mas são delitos que precisam ser examinados e julgados, cada um a seu turno.

No que diz respeito ao STF, os petistas confiam, sempre movidos por seu enraizado sentimento de patota, no fato de que a maioria dos atuais ministros foi nomeada por Lula e Dilma. É uma expectativa que não honra a tradição de absoluta isenção partidária com que os juízes da Suprema Corte historicamente se comportam no desempenho de suas altas responsabilidades. Mas, a julgar pelo que circula na área do partido do governo, o próprio Lula estaria empenhado em fazer pressão sobre os ministros, já que é o maior interessado em evitar que a existência do maior escândalo de corrupção de seu governo seja confirmada pela Suprema Corte.

De qualquer modo, se já não bastassem os reiterados exemplos de rigor lógico e técnico em seus julgamentos - como destacamos recentemente em editorial sobre a decisão de que não constitui crime o aborto de fetos anencéfalos -, tudo indica que o STF está convencido de que é mais do que chegada a hora de se pronunciar sobre o escândalo do mensalão, conforme revelou o ministro Carlos Ayres Britto, que na próxima quinta-feira assume a presidência do STF. "É preciso julgar com brevidade, porque há o risco de prescrição", disse ele. Para tanto, o processo precisa ser julgado até o dia 6 de julho, para evitar que a decisão final da Corte só venha a ser proferida no próximo ano.

3 comentários:

  1. Prezado Armando.

    Quem leu os meus comentarios sabe que nunca acreditei que o PT levasse adiante a ideia da CPI, especialmente agora que conhece e sabe a dimensão. Delta, Jose Dirceu novamente, e o governo inteiro.

    Mesmo que não abortem a CPI, vão indicar uns paus mandados para tumultuar e não apurar nada.

    Veremos.

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  2. Colunista Armando Rafael.

    Não vejo como uma CPI esvaziar o Mensalão. Na minha modesta opinião, trata-se de mais um escândalo do governo que só trás complicações aos implicados no mensalão. Mais sujeira.

    Grande abraço.

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  3. A coluna de Cláudio Humberto desta 3ª feira ( http://www.claudiohumberto.com.br/principal/ ) publicou as notinhas abaixo:

    1 – Suposta doação de Cachoeira a Lula arrepia o PT
    Fantasmas da história recente andam assombrando lideranças do PT que vêem na CPI do Cachoeira a chance de vingança dos adversários. É o caso da revelação à CPI dos Bingos, em 2004, feita por Rogério Buratti, amigo e ex-assessor do ex-ministro Antonio Palocci: uma suposta doação de R$ 1 milhão do bicheiro Carlinhos Cachoeira à campanha de Lula, através de empresas de jogo do Rio e São Paulo.

    2 – Antes era o lixo
    O advogado Buratti confirmou a arrecadação de empresas de lixo para prefeituras do PT, através do então tesoureiro Delúbio Soares

    3 – Quem é vivo...
    Buratti postou no Twitter que a “CPI do Cachoeira vai esclarecer muita bobagem que foi dita de muita gente”. Talvez queira se incluir nessa

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