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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 2 de julho de 2009

Exercito? Jamais!

Na década de 1930, dois primos em primeiro grau, João Alves Bezerra e Raimundo Alves Bezerra decidiram entrar para o Exercito Brasileiro, sentar praça. O Pavor da primeira Guerra Mundial ainda rondava a memória das famílias de Várzea-Alegre, especialmente das irmãs Salomé e Generosa mães dos futuros combatentes. Criaram calos nas cabeças dos dedos de tanto rezar para São Raimundo fazer os filhos desistirem da decisão de serem militares. Mas que nada, ninguém demovia a disposição dos jovens de 17 anos, a decisão era pensada e definitiva, Viajaram para Fortaleza e finalmente chegou o dia da apresentação e entrevista. No antigo CPOR, na Avenida Bezerra de Menezes, no horário marcado estavam na ante sala do processo seletivo para a tão sonhada apresentação.
O primeiro a ser interrogado foi o João, sob um olhar curioso e de apreensão do Raimundo que não piscava as butucas dos olhos do lado de fora da sala olhando por um vidro transparente. O capitão, um cabrão de dois metros de altura, bruto como canto de cerca, sem arrodeio faz a primeira pergunta: Seu nome? João respondeu com voz embargada: João o que rapaz, eu quero saber o nome de registro, o nome completo. Segunda pergunta: O que faz aqui? Eu vi servir. Servir o que miserável você veio aqui se alistar no Exercito Nacional. A esta altura João já estava com uma vontade danada de mandar o Capitão às favas. Veio a ultima e decisiva pergunta: O que é isto? Apontando para uma bandeira hasteada num mastro: João não se fez de rogado e respondeu no ato: uma toalha. Toalha o que idiota imbecil, isto aí é a tua mãe, tua mãe, tua mãe pátria, vai embora, no exercito não há lugar pra burro. Num pequeno intervalo, numa fuga como dizemos na Rajalegre, João explicou em detalhes as questões levantadas pelo capitão para o Raimundo que entendeu direitinho e entrou para a entrevista confiante e otimista:
Primeira pergunta: Seu nome? Raimundo Alves Bezerra, muito bem. O que busca aqui? Vi me alistar no Exercito Nacional, parabéns rapaz é de gente decidida como você que o exercito precisa, falou entusiasmado o capitão. O que está neste mastro a sua esquerda? Né tia Salomé, mãe de João, meu primo que veio mais eu da Rajalegre. Reprovados, retornaram pra casa, no Sitio Sanharol, para alegria de seus familiares que ainda hoje pagam promessa atribuindo o milagre da despensa a São Raimundo Nonato.
A. Morais

2 comentários:

  1. São sei informar se o Raimundo Alves Bezerra era o genitor de Maria de Fatima Bezerra. Se fosse, depois dessa, juntamente com o primo João e por falta de sorte do Capitão, fosse apanhado pelas bandas do Graviè, a despensa ia sair caro. Ia ter peia.

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