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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 10 de abril de 2010

Caipira não se aperta!

O CUMPADI Juvêncio (não sei, sempre tem que ser Juvêncio) teve que vir à capitá, móde cumprá umas maquinarias pra sua fazenda. Maquinarias aqui em São Paulo, é sempre na famosa rua Florêncio de Abreu, que fica pros lados do Largo São Bento, que é onde tem a grande Igreja do mesmo santo.

Pois muito bem: o tar CUMPADI meu fez as referidas compras, pagoutudo no dinheiro vivo que ele trouxe amarrado no forro da carça de brim e mandou embarcar tudo no trem de carga da morgiana, que era o trem que passava por lá na minha terra nessa época (êta sodade!). Daí como já beirava o meio dia, a fome começou a bater lá no estômago dele.

Foi aí que veio a indignação de matuto: onde armocá? Como fazer pra entrar num restaurante da capitá, sem fazer feio? Como pedir comida pro garçom? É por isso que eu sempre admiro os meus CUMPADI da roça: sempre acham um jeito pra tudo. E sempre vencem suas empreitadas.

Pois não é que o meu CUMPADI teve a luminosa idéia de sentar-se em um restaurante, ao lado de um CIDADÃO que, naquele momento, também ia iniciar o seu pedido ao garçom. O CUMPADI pensou assim: "tudo o que aquele CIDADÃO pedir, eu vou pedir também. Fazendo desse jeito não tem como errar".

Daí a história se desenrolou assim: CIDADÃO (para o garçom que passava) - Oh, garçom me traga um bife a cavalo. CUMPADI: um pra mim tomém. GARÇOM (estranhando) Os senhores estão juntos? CIDADÃO: Não, não estamos juntos. Aliás, nem conheço esse capiauaí! CUMPADI (seguro de si). Nóis num tamo junto, mas eu quero um bife-a-cavalo tomém, uai. CIDADÃO (ainda para o garçom) - Aproveite e traga arroz bem soltinho. CUMPADI: - Dois. Um arroz pra mim tomém. Daí seguiu-se nessa lengalenga. TUDO que o CIDADÃO pedia, nosso bom Juvêncio também pedia. Isso para irritação do tal CIDADÃO, que foi ficando vermelho. CIDADÃO: - Traga-me uma água gelada. CUMPADI: - Duas. CIDADÃO: - O palitinho de dentes. CUMPADI: - Dois. Um pra mim tomém. CIDADÃO: - Um cafezinho para arrematar. CUMPADI: - Dois. Um pra mim tomém. CIDADÃO: - A conta. CUMPADI: Duas. Pra mim tomém. (Ainda bem, pensou o CIDADÃO). Foi nessa hora que o tal CIDADÃO, ao olhar para os próprios pés, notou que seus sapatos de cromo alemão estavam sujos, precisando de uma boa graxa. CIDADÃO: - Traga-me um engraxate. CUMPADI (no ato): - Um pra mim tomém! CIDADÃO (não aguentando mais, argumenta com Juvêncio, de um jeito irritado): - Peraí ô capiau, um engraxate para nós dois é suficiente. CUMPADI (na lógica matuta dele): - O sinhô num tem nada cum isso. Eu COMO um, o sinhô COME o ôtro, uai.



Autor: Rolando Boldrin

Postado por Glória Pinheiro

2 comentários:

  1. Pois é. Os da roça geralmente gostam de ter as coisinhas deles. Não são muito de dividi-las com ninguem. Mas tambem tem uma coisa tendo o do gasto não se preocupam com mais nada na vida. Eita povo Bom.

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  2. Bom demais, os puros e santos caipiras das roças. Abençoados sejam! Sem eles, que nos alimentam, as cidades não existiriam.
    Um bom fim de semana a todos do blog Sanharol.

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