Manhã chuvosa em Várzea Alegre. O sol, coberto pelo nevoeiro denso, dava ao dia uma cor melancólica e a intensa umidade do ar mostrava-se através da nossa pele dando-nos uma sensação de desconforto pelo seu aspecto pegajoso. Enfim, o dia tornara-se triste.
Dr. Carlos César Costa, exímio cirurgião do Hospital Regional de Iguatu, que se encontrava em Várzea Alegre nesse dia sombrio contou-nos um caso clínico familiar deveras interessante envolvendo o seu irmão, também médico, Dr. José Iran Costa.
Ao chegar à residência de sua genitora, a agradável e bondosa senhora dona Santinha Bitu, no sítio Baixio do Exu, depara-se com o seu irmão, ídolo e herói deitado em uma frondosa rede branca de varandas largas, totalmente envolto por aquele manto decorativo do nosso artesanato.
- O que houve com ele, minha mãe?
- Está assim há três dias, meu filho. Não come, não bebe e não conversa com ninguém. É uma tristeza, que só vendo. Estou morrendo de pena dele... Até a sua cervejinha está sobrando na geladeira.
Dr. César tentando ajudar o irmão enfermo tenta improvisar um diálogo:
- Iran, o que está havendo? Nossa mãe está preocupada com você, home! Já até comunicou a Agostinho e a Nego de Aninha sobre o seu estado. Não quer se abrir comigo?
Instintivamente, ele abre sutilmente as duas varandas que o encobrem e reverbera:
- O hospital... As promissórias do “Santa Maria”... Todo mundo quer receber... Mas quem tem de pagar tudo é doutor Iran! Nessa hora, num aparece nem um pra ajudar...
- Calma home, tu vai ficar doido por causa de uma besteira dessas! Fique tranquilo, que Cili, minha mulher, vendeu um apartamento em Recife e hoje mesmo eu vou depositar dez mil reais na sua conta, pra você me pagar de dez vezes, sem juros, ta entendendo?
O irreverente Dr. Iran deu calado por resposta e voltou a se cobrir. Dessa vez, com lençol e varandas, deixando no ar uma aura de sofrimento, tristeza e melancolia. Reina um silêncio inquietante.
No dia seguinte, o irmão ainda compadecido com cena tão triste, liga para a sua sofredora mãe, e indaga: - Como está ele?...
Dona Santinha, na sua santa ingenuidade materna, responde prontamente.
- Meu filho, eu acho que o José amanheceu um pouco melhor; pois hoje pela manhã, ele já aceitou tomar um mingauzinho...
Dr. Carlos César Costa, exímio cirurgião do Hospital Regional de Iguatu, que se encontrava em Várzea Alegre nesse dia sombrio contou-nos um caso clínico familiar deveras interessante envolvendo o seu irmão, também médico, Dr. José Iran Costa.
Ao chegar à residência de sua genitora, a agradável e bondosa senhora dona Santinha Bitu, no sítio Baixio do Exu, depara-se com o seu irmão, ídolo e herói deitado em uma frondosa rede branca de varandas largas, totalmente envolto por aquele manto decorativo do nosso artesanato.
- O que houve com ele, minha mãe?
- Está assim há três dias, meu filho. Não come, não bebe e não conversa com ninguém. É uma tristeza, que só vendo. Estou morrendo de pena dele... Até a sua cervejinha está sobrando na geladeira.
Dr. César tentando ajudar o irmão enfermo tenta improvisar um diálogo:
- Iran, o que está havendo? Nossa mãe está preocupada com você, home! Já até comunicou a Agostinho e a Nego de Aninha sobre o seu estado. Não quer se abrir comigo?
Instintivamente, ele abre sutilmente as duas varandas que o encobrem e reverbera:
- O hospital... As promissórias do “Santa Maria”... Todo mundo quer receber... Mas quem tem de pagar tudo é doutor Iran! Nessa hora, num aparece nem um pra ajudar...
- Calma home, tu vai ficar doido por causa de uma besteira dessas! Fique tranquilo, que Cili, minha mulher, vendeu um apartamento em Recife e hoje mesmo eu vou depositar dez mil reais na sua conta, pra você me pagar de dez vezes, sem juros, ta entendendo?
O irreverente Dr. Iran deu calado por resposta e voltou a se cobrir. Dessa vez, com lençol e varandas, deixando no ar uma aura de sofrimento, tristeza e melancolia. Reina um silêncio inquietante.
No dia seguinte, o irmão ainda compadecido com cena tão triste, liga para a sua sofredora mãe, e indaga: - Como está ele?...
Dona Santinha, na sua santa ingenuidade materna, responde prontamente.
- Meu filho, eu acho que o José amanheceu um pouco melhor; pois hoje pela manhã, ele já aceitou tomar um mingauzinho...
Dr. Savio Pinheiro.
Dr. Savio.
ResponderExcluirHoje, mais do que nunca, voce traz um tema que nos honra e orgulha muito. Dr. Iran foi um obstinado na defesa da saude e bem estar de nossa gente. Todos sabemos as dificuldades enfrentadas para que podesse levar um pouco de conforto a sua gente e seus amigos. Dr. Cesar tinha razão. De que valeu a sua preocupação? Que importancia teve o seu cofrimento? Depois de seu passamento inesperado e prematuro quem passou a sofrer em seu lugar? Revolta-me observar que, hoje em dia, poucos tem a capacidade de manifestar gratidão e reconhecimento a este nosso conterraneo querido. Parabens por este texto razoado e oportuno. Aos familiares do Dr. Iran o nosso agradecimentom e a nossa gratidão.
Savio e Morais...
ResponderExcluirExcelente história. Contadas com detalhes que só o poeta cordelista é capaz. Adorei. Lembrei até do meu padin deitado na rede e o doutor Cézar tentando levantá-lo...
Um forte abraço
foi um grande homem que entrou na politica pra ajudar a todos seus conterraneo, sua morte foi muito sentida, e esse texto é maravilhoso
ResponderExcluirZé Sávio, que bela forma de relatar o "sofrimento" de um médico que tudo fez por seu povo e sua cidade. E que muitos não o ajudaram, deitando por terra todo o sonho desse homem.
ResponderExcluirEstive em Várzea Alegre no final do 1983 e o prefeito era Dr. Iran. estava sendo realizada a primeira Feira Cultural de Várzea Alegre, e o homenageado era uma das pessoas mais ilustres de Várzea Alegre, o padre Antonio Vieira. Era um homem sem afetação, mais parecia uma pessoa comum, e para mim, um grande homem é aquele que mais se aproxima de um homem comum. Deu-me carta branca para entrar no CREVA onde se realizava a festa para o homenageado. Dona Iolanda, se não me falha a memoria era esse o nome de sua esposa, tratou-me com a gentileza de uma verdadeira primeira dama.
ResponderExcluirMorais, Flávio, Israel , Klébia, Francisco,
ResponderExcluirA irreverência do Dr. Iran era do tamanho da sua humildade. Agradeço os comentários.