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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 19 de junho de 2010

Coisas da caserna – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

O Tiro de Guerra, como todos sabem, é uma unidade do Exército Brasileiro instalada em algumas cidades do interior, com a cooperação das prefeituras. Tem como objetivo a formação de reservistas para a defesa do território nacional. Essa unidade atende à instrução militar dos nossos jovens, conciliando a formação com o estudo e o trabalho. Sobre o TG já ouvi muitos “causos” interessantes.

Havia no TG 205 do Crato um atirador conhecido por Janjão da Mata, um jovem da nossa zona rural, muito desinibido e brincalhão. Apesar de completamente analfabeto, Janjão demonstrava ser bastante vivo. Uma turma do Colégio Diocesano ao perceber a inteligência e espontaneidade desse jovem, colocava em sua boca muitas coisas engraçadas para quebrar a dureza do preparo físico e das constantes broncas do sargento. Aos dias de domingo, a jornada era maior e, os atiradores eram obrigados a percorrem em marcha uma distância mínima de vinte quilômetros. Entretanto, o sargento instrutor normalmente não observava tal requisito. Próximo do final do ano era realizada uma correição pelo comando da 10a Região Militar. Então o sargento instruiu a turma: “Se o coronel perguntar a vocês quantos quilômetros vocês marcham por semana, vocês respondam: vinte.” Alguém ao lado do nosso Janjão soprou em seu ouvido. E ele imediatamente interrompeu o instrutor: “Sargento, nós num vai dizer isso não!” “Por que, posso saber?” Perguntou-lhe o sargento. E Janjão emendou: “O senhor disse que nós num deve mentir.” A essa insinuação, o sargento não perdeu tempo: “Muito bem TG, em forma! Vamos agora marchar até a Ponta da Serra e voltar de lá correndo!” E Janjão não perdeu tempo: “Precisa não sargento: nós diz, nós diz.

Certa vez, eu li em algum lugar que, no TG de certa cidade, a mãe de um atirador sofreu um ataque cardíaco, vindo a falecer numa manhã de domingo, justamente na hora em que todos os atiradores estavam reunidos na instrução dominical. Alguém da família pediu ao capitão comandante do TG para que ele desse a notícia ao jovem atirador. Este não tendo jeito para dar esse tipo de notícia, convocou o sargento e pediu que ele desse a notícia com muito jeito. O sargento disse ao seu superior que sabia como fazer e não se fez de rogado. Imediatamente deu as ordens: “TG, sentido!” Todos ficaram de pé em posição de sentido voltados para o sargento. Então o sargentão falou: “Quem tiver a mãe viva dê um passo à frente”. Todos deram um passo à frente. “Você não, atirador 56!” “Que é isso, sargento, a minha mãe é viva!” Protestou o jovem. E o sargento emendou: “Era! acabou de morrer!

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

3 comentários:

  1. Em Varzea-Alegre, um parente meu vivia em pé de guerra com a mulher. Não sei porque cargas dagua apareceu na cidade uma comissão relacionando as pessoas que se colocavam a disposição do exercito para defender o Brasil na famosa Guerra do Paraguai. Luiz Inacio, conhecido por Boca de Fogo, pra meter medo na mulher e pensando que era brincadeira se alistou. Um dia chegou de surpresa um Jeep com um Sargento e dois Soldados para levar o guerreiro rajalegrense. Luiz não podia comer angu com toucinho que se desmanchava em merda. Pediu ao sargento para esperar pelo almoço para se dispedir dos amigos, da familia e matar o desejo de comer angu, sua comida preferida. Depoois da refeição seguiram viagem. Quando chegaram a altura da cidade do Icó o bucho começou a roncar e em pouco tempo o esgoto perdeu a tampo e começou a escorrer direto sem se falar na inhaca de curtume. O Sargento perguntou: o senhor já teve crises igual a esta? Não respondeu Boca de Fogo. E se nós formos embora e deixarmos voce aqui voce acha ruim? De jeito nenhum respondeu novamente.
    O Sargento mandou os soldados limparem o Jeep e partiram para Fortaleza e Boca de Fogo voltou prus braços da amada e nunca mais quiz saber de briga nem de guerra.

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  2. Caro Morais

    Que boa saída essa do Boca de Fogo.
    Mas nesse texto eu postei acima, citei que havia lido a historinha da notícia da morte da mãe do soldadinho, não me lembrava onde. Lembrava apenas que tinha sido num cordel. Hoje, logo cedo, procurei entre as coisas pequenas aqui da minha estante e encontrei um cordel que há mais de dez anos, um dos meus filhos trouxe do Centro Dragão do Mar. Lá estava:

    MORTE SÚBITA:

    Morre a mãe do soldadim
    E avisam pro quartel
    E agora quem dá a notícia?
    “Deixa comigo o papel,
    Sou jeitoso pra essas coisas
    Disse o sargento cruel."

    Mandou logo formar a tropa
    Alinhando toda gente
    E fez logo essa proposta
    Aliás, muito indecente
    "Quem tiver mãe viva,
    Que dê logo um passo a frente!"

    Todos tinham suas mães vivas.
    Foram à frente com emoção.
    O sargento grita: "alto lá!
    Só o 29 não! Permaneça onde estava
    Não retire o pé do chão!”

    O soldadim 29 foi logo falando:
    "Que é isso sargento?
    Por que está contra mim?
    Pois tenho mãe e é viva,
    Dou um passo à frente sim!"

    "Que soldado mais teimoso!
    Pode dar um passo atrás
    Garanto não tem mãe viva!"
    "Sargento isso é demais!
    Pois minha mãe está viva!
    Dou um passo à frente sim!"
    "Vamos apostar meu rapaz?"

    Autor: João Batista Torres Melo

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  3. Morais
    Dizem que "mate o homem, mas não troque seu nome!" Pois troquei o último sobrenome do autor dos versos acima: o correto é João Batista Torres Veras

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