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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 2 de agosto de 2010

CANTANDO NO CÉU COM ZÉ LIMEIRA - DESAFÍO

Limeira as vezes dizia
Num repente amalucado:
- Se um dia eu fosse chamado
Pra cantar no céu, eu ia;
Pois deu-se que um certo dia
São Pedro parece, escutô
Passou aqui e levô,
O poeta pra fazê
Ou querendo ou sem querê,
Repente pra Nosso Senhô...

Nunca mais se ouviu falá
De Limeira por aqui
Eu mesmo inté me esqueci,
Do galope a beira mar
Que ele sabia cantá
Como ninguém mais sabia,
Pois eu tava em casa um dia
E arrecebí um biête:
Sele o jegue “ sabonete “
Venha faze cantoria.

Tinha que sê Zé Limeira
Pelo jeito do recado.
E só podia te mandado
Ôto escrevê tal besteira;
Que o nêgo, sem brincadêra
Foi poeta de lascá,
Ensinou gente a rimá
Viveu bem e passô fome.
Mais nem mesmo o próprio nome
Aprendeu desenhá.

Pois eu resolvi que ia
Com a viola e sozinho
Só num sabia o caminho,
Mas como esse jegue havia
Levado José e Maria
Por esse mundo sem fim;
Eu fiquei pensando assim:
- Quem já trabaiô com santo
E viajô por todo canto
Diz onde é o céu pra mim...

Eu me montei no jumento
Segui por onde ele quis,
Vendo nambu, corduniz
Cochilei por um momento.
Veio logo um pé-de-vento
Começô a balançá
Quando eu fui me acordá,
Tava caído no chão
Numa nuvem de algodão
Macia de encabulá...

Oiei pru lado e fui vendo
Ele afinando a viola,
E falei : - Nêgo gabola
Hoje eu lhe ensino ou aprendo,
Pelo pôco que eu entendo
- De céu e religião
Não se vem no intrupicão.
Você mandô me buscá
Como se manda jogá
Um preso no camburão.

Limeira se levantô
Me olhô e dixe assim:
- Seu cara de guaxinim
Rolinha fogo pagô.
- É hoje que aqui vô
Aluciná essa gente,
Eu vou cantá deferente
Do que eu fiz no Tauá.
Cabo de pua e fubá

Deixe que eu puxo o repente...
- Eu só madei lhe tirá
Do seu amado sossego,
Pruque eu sô mêrmo um nêgo
Que gosta de azucriná,
Aqui só se faz rezá
Bebê vinho e cumê pão,
Nunca vi uma oração
Que rimasse nem dois verso
É por isso que lhe peço,
Vamos fazê um refrão...

Aí cumeçô cantoria
Pra ninguém botá defeito
O nêgo do mêrmo jeito
Daquele que eu conhecia,
Rimava como queria
Borboleta e trapiá,
Chapéu, pneu, jatobá,
Preá, mocó e cancão,
Benteví, currupião,
Melancia e mangangá.

Os santos preocupados
E eu só ouvido a conversa;
- Que diabo de reza é essa
De uns nome feio danado?...
Limeira chamô pra um lado
E dixe: - É tudo cumpade.
Tem dotô, juiz e pade
Tem tudo que a gente qué
Só num tem mêrmo é muié
Pruque aqui é pecado...

Começô a juntá gente
Im redó da cantoria,
Cada verso que eu dizia
Que Limeira alegremente
Respondia no repente,
São Cosme e São Damião
Que era a ronda de plantão
Ria de batê os dente,
São José e São Vicente
Chega rolava no chão.

Só fiquei preocupado
Quando corrêro o chapéu,
Num lugá como é o céu
Bendito e abençoado
Num saiu nem um cruzado,
Nem o dele e nem o meu
Muita gente se escondeu,
Aí eu fiquei zangado
Já cantei por todo lado,
Isso nunca aconteceu...

Eu dixe Limeira eu já vô
Que aqui eu morro é de fome,
Ele dixe; - ispere o ome
Ele ainda não chegô...
Mais eu garanto que vô
Pedi o seu pagamento,
Que aqui ninguém é jumento
Para trabaiá de graça
Prepare o bolso da calça
E espere só um momento...

Assim Cuma eu já sabia
Que Jesus é caridoso,
Cristão e muito bondoso
E gosta de cantoria...
Cantei tudo que podia
Vingança, dô e paixão
No meio da confusão
Que a cantoria comporta,
São Pêdo esqueceu a porta
E o céu incheu-se de Cão...

Foi quando Jesus Chegô
Viu que o céu tava um inferno,
Um truvão desses de inverno
Num instante arrebentô,
E o diabo foi quem ficô
Pra vê o que tinha sobrado,
Eu pulei logo um cercado
Peguei o rumo,iscapei
E foi aí que acordei
No chão e todo mijado.

O desafío é sobre a autoria desse verso.
Não vale para o poeta Israel, ele é quem vai anuciar o vencedor.
Abraços.
Mundim da Lagoa do Arroz.

5 comentários:

  1. Um negocio bonito desses só pode ser do Mundim do Vale.

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  2. O Amigo Israel está tão afamado que o Mundim já excluiu. Amanhã postarei um versinho que tem historia e eu quero vê o Israel acertar. hahaha
    Abraços Israel. Brincadeira.

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  3. eu sou apenas um conhecedor da história cultural e literária de várzea alegre, mas não sei de tudo não, e sou o humilde o bastante pra reconhecer que não sei

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  4. Respondendo o desafío.

    Se enganaram: Morais do Sanharol
    e a flor do Chico.
    Acertou com distinção e louvou,
    Ênio Menezes, o autor do poema é Sérgio Piau, que se estivesse vivo, com certeza estava fazendo parte do blog do Sanharol, junto co os demais poetas, para que
    Várzea Alegre visse a cultura popular na sua maior Beleza.
    Agradeço as participações.

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